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Stênio Garcia e esposa: 'Geladeira na Globo levou a depressão e AVC'

Casado com Mari Saad, Stênio Garcia está afastado das novelas há anos Imagem: Reprodução/ Instagram

De Splash, no Rio

18/11/2022 04h00Atualizada em 18/11/2022 11h23

Stênio Garcia completou 90 anos em 2022, mas não pensa em se aposentar. Pelo contrário, ele quer voltar a trabalhar na TV e lamenta não ter um papel fixo em novelas há dez anos — sua última novela inteira foi "Salve Jorge" (2012), de Glória Perez. Ele fez pequenas participações em tramas da TV Globo até 2020, ano em que teve o contrato encerrado pela emissora.

Ele relata que foi difícil o período em que ficou na "geladeira", termo usado para descrever atores que têm contratos com alguma emissora e não são convocados para atuar. Ficar afastado das novelas teria causado depressão e até um AVC (Acidente Vascular Cerebral) no veterano.

Entre 2014 e 2018, Stênio fez participações breves em novelas como "Meu Pedacinho de Chão", "Totalmente Demais" e "Deus Salve o Rei". Hoje, dez anos após sua última novela fixa, ele diz que é difícil ficar longe da TV.

"Sinto falta de atuar. O trabalho é o que me sustenta... É muito difícil ficar longe da TV. É um esquecimento, é igual a morte. Tudo o que conheço é o meu trabalho de ator, é a utilização do meu corpo, da minha voz, da minha emoção para representar o homem brasileiro, é o meu universo", diz em entrevista a Splash.

É a ausência de tudo. Viver, para mim, é atuar.

Stênio não gosta de falar sobre problemas de saúde. Quem dá detalhes de como a falta de trabalho impacta a saúde física e mental do ator é a esposa dele, a também atriz Mari Saad, de 54 anos. Ela acompanhou toda a entrevista e ajudou o parceiro de quase 25 anos a manusear o aparelho celular para a videochamada.

"Eu o vi ter depressão, vômitos, internações. Não trabalhar é a morte para ele. Nos sete anos em que ele esteve na (geladeira da) Globo, ele ficou doente sem ter doença alguma. Ele vomitava, a gente achava que estava infartando e ia ao hospital... Num desses vômitos, foi um AVC, só que não afetou nada. Não se sabe quando ele teve o AVC", explica Mari.

"Ele já tinha feito várias ressonâncias magnéticas e não aparecia nenhum problema. Agora, ele fez com uma resolução diferente e mostrou que, no período dos últimos dez anos, ele teve uma pequena ruptura. Foi um pequeno AVC em uma dessas vezes que ele vomitou e a gente achou que ele estava infartando. Foi justamente nesse período em que ele ficou sem atuar. A geladeira foi grave", continua ela.

O casal credita o afastamento de Stênio da Globo ao diretor Silvio de Abreu, que assumiu a direção de dramaturgia na emissora entre 2012 e 2020.

"Teve um cara que atuou lá nesse período. Não tenho medo de dizer o nome dele: Silvio de Abreu. Esse cara me esqueceu. Soube que ele não gostava de atitudes minhas com a amiga dele (a atriz Cleyde Yáconis, ex-mulher de Stênio). Já estou entrando em terrenos íntimos... Ele não gostava disso e me esqueceu. Me pôs na geladeira, que é a pior coisa para o ator", conta.

Não é a primeira vez que Stênio cita Silvio de Abreu ao falar de sua saída da Globo. O autor de novelas já negou publicamente que perseguisse o ator enquanto estava na direção da emissora.

O ator ainda comenta a recente onda de demissão dos veteranos. "É uma pena... Você deixa de contar a história desse país quando você esquece os idosos. Tenho uma carga de experiência que a vida me deu e que eles deixam de explorar isso como expressão", reflete.

Vida aos 90

Recuperado das sequelas pulmonares causadas pela covid-19, Stênio diz estar apto para retornar aos trabalhos e espera o convite de um autor ou diretor de novelas.

"Totalmente apto. Quero atuar enquanto estiver respirando. O ator é um grande imitador do ser humano. É o que eu sei fazer. Eu procuro conhecer cada vez mais para fazer o melhor que eu posso. Tenho muita coisa para mostrar ainda", diz o ator.

"Eu sou uma pessoa muito forte, costumo dizer que sou matuto. Eu sou da roça, trago essa natureza da pessoa do interior que respirou o ar puro e viveu junto da natureza. Não gosto de falar de doença", completa.

Stênio foi diagnosticado com a infecção pela segunda vez em setembro deste ano, dois meses após o ator viralizar ao ser retirado de entrevista pela esposa por não usar máscara. Mari também foi infectada pela covid-19 e teve sequelas.

"Eu tive mais sequelas. O Stênio já está sem sequelas. Tratou com a Dra. Margareth Dalcomo e agora vai acompanhar porque é uma pessoa de 90 anos. Uma pessoa nessa idade tem que ter um bom cardiologista, urologista, clinico médico. Eu marco e levo porque fazer medicina preventiva é a melhor coisa", diz Mari.

Ele, aos 90, diz não temer a morte. "É uma consequência. Eu, por exemplo, sei que a fuga da morte é a saúde. Dentro disso, procuro buscar a integridade da minha saúde em todos os sentidos. A minha vida é buscar a saúde para trabalhar com o meu corpo, que é o meu produto, é o que eu sei fazer", afirma Stênio.

"O Rei do Gado"

Apesar de não estar em uma novela hoje, o ator pode ser visto nas telinhas diariamente na reprise de "O Rei do Gado", sucesso da TV Globo que está em sua terceira reprise. Stênio interpretou Zé do Araguaia na trama de Benedito Ruy Barbosa, um homem que leva o nome do principal rio do Centro-Oeste.

Stênio Garcia em "O Rei do Gado" Imagem: Globo

"É um personagem que transmite a natureza da região. É tudo muito íntegro, puro e real. São características que eu presenciei na natureza daquela região. O Zé do Araguaia representa o rio", diz.

Stênio guarda com carinho as lembranças das gravações, realizadas em 1996 e 1997. Parte do elenco foi para a cidade de Aruanã (GO), onde gravou cenas rurais da história. Ele lembra das caminhadas de horas na extensa região com a atriz Bete Mendes, sua principal parceira em cena.

"A Bete Mendes é uma pessoa fantástica que se entrega. A gente andava a noite e de dia. Cheguei a ouvir o urro de uma onça, talvez o animal mais feroz da fauna brasileira. A gente ouvia aquilo. Outra coisa era tomar banho no rio. A gente mergulhava. A fazenda da família Marinho é muito íntegra nesse sentido. Tinha a sensação de que não há indústria de nada lá, tudo é natureza. Eu e Bete pescávamos muito no rio, é uma forma de se integrar com a região. Fizemos coisas muito bonitas", lembra.

"O Rei do Gado" marca ainda a parceria com Antonio Fagundes, intérprete de Bruno Berdinazzi Mezenga, o Rei do Gado.

"Já fiz todo tipo de relação com o Fagundes em termos de personagens. Ele tem essa entrega também. Querer buscar a natureza da região. A gente conversava muito sobre isso. Buscávamos a alma dos personagens", conta.

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