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Gilberto Gil: 'Eu quero que a cultura volte a ser prestigiada no Brasil'

Gilberto Gil  - Reprodução/Instagram/@gilbertogil
Gilberto Gil Imagem: Reprodução/Instagram/@gilbertogil

De Splash, em São Paulo

18/11/2022 14h24

Gilberto Gil, 80, espera que a política pública de cultura "volte a ser prestigiada no Brasil" com o governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O "desejo de Natal" foi compartilhado em conversa com a imprensa, na quinta-feira (17), em São Paulo, durante o lançamento da campanha de fim de ano da Natura.

Para o ex-ministro da Cultura, o governo de Jair Bolsonaro ficou caracterizado pelo descuido e aversão em relação aos agentes produtores de arte no país. "Descuido basicamente reconhecido pela grande maioria da população brasileira, para além dos agentes produtores e criadores. O grande público brasileiro percebeu esse fastio do governo em relação à cultura", disse.

O artista foi ministro da Cultura, de 2003 a 2008, durante parte dos dois primeiros governos de Lula. Ele foi responsável, entre outras coisas, pela implementação de políticas públicas para a promoção da diversidade artística, cultural e étnica.

O músico espera, no entanto, que o apetite pela vida cultural seja renovado a partir do ano que vem. "Por todo o chamamento por todos os agentes criadores. Que haja abrigo de novo na institucionalidade cultural brasileira. Que exista abrigo seguro. Com espaços restaurados."

Gilberto Gil - Ricardo Pedro Cruz/UOL  - Ricardo Pedro Cruz/UOL
Gilberto Gil regravou a música 'Estrela'
Imagem: Ricardo Pedro Cruz/UOL

Gil ressalta ainda que existem, sim, manifestações independentes que continuaram existindo (e resistindo) apesar do clima existente no atual governo. Entretanto, segundo o cantor, há toda uma agregação da vida cultural que ainda se ressente dos caminhos institucionais adotados nos últimos anos.

"Há todo um sentido de agregação da vida cultural que se ressente um pouco da necessidade de um papel governamental, institucional, e dessa ideia de política pública. Resumindo: eu quero que a política pública de cultura volte a ser prestigiada no Brasil", explicou o artista, ao ser questionado sobre qual o seu desejo de Natal.

A conversa com Gilberto Gil aconteceu durante a festa de lançamento da campanha de Natal da marca de cosméticos, para a qual o veterano regravou a música "Estrela" (1997) com a neta Flor Gil e a bisneta Flor de Maria.

Competitividade com Chico

Gilberto Gil - Reprodução/Twitter - Reprodução/Twitter
Gilberto Gil assumiu a cadeira 20 da Academia Brasileira de Letras
Imagem: Reprodução/Twitter

O músico fez também um balanço da carreira. Questionado sobre a forma com a qual conduziu a própria produção artística ao longo da carreira, o cantor falou do desejo consciente por atualização e da competitividade natural entre os artistas.

"Houve determinados momentos desse desejo de atualização. [Busca] por compatibilização com o fator modernização. Um impulso de avanço. Acho que, sim, em determinados momentos. Até porque uma das coisas que caracterizam o trabalho de um compositor, cantor, como eu, é a competitividade entre nós mesmos", contou.

Gil citou o amigo Chico Buarque, 78, como exemplo desse estímulo para a produção. "Eu fico lembrando do tempo em que conheci o Chico. E era muito claro entre nós o estímulo mútuo e provocativo, no sentido do adiantamento, do fazer mais, de fazer melhor. Da competitividade. Isso existe entre nós todos. Eu acho que continua existindo nas gerações atuais."

O artista ressalta, porém, que o maior estímulo veio da própria vontade de explorar outras partes de si. "O primeiro público, a primeira pessoa para quem eu criei, produzi e fiz as coisas fui eu mesmo. Mas ainda assim, ali também há uma instigação. Há um eu em mim mesmo que quer mais. Que quer diferente. Que quer um desafio novo".