'Annus horribilis': o que aconteceu em 1992, o pior ano da rainha Elizabeth
Há 30 anos, o pior ano da rainha Elizabeth 2ª estava quase chegando ao fim. As dificuldades enfrentadas pela monarca em 1992 são retratadas na nova temporada de "The Crown" (Netflix), que inclusive recriou o famoso discurso em que a rainha classifica o período como um "annus horribilis", um "ano horrível" em latim.
Aquele era para ser um ano de comemoração: a rainha festejaria seu Jubileu de Rubi, ou seja, os 40 anos de sua ascensão ao trono.
No entanto, a época foi marcada por uma série de turbulências: as separações de três dos quatro filhos da rainha, um grande incêndio no Castelo de Windsor, o vazamento de uma ligação íntima de Lady Di, o lançamento de uma reveladora biografia da princesa e um escândalo envolvendo a duquesa de York.
Veja tudo o que aconteceu no pior ano de Elizabeth 2ª:
Divórcio do príncipe Andrew
Em março de 1992, o príncipe Andrew anunciou que estava se separando de Sarah Ferguson, duquesa de York, após seis anos de casamento. Isso colocou fim a meses de especulação sobre uma crise no casamento dos dois.
Na época, quebrando o protocolo, o palácio de Buckingham deixou transparecer a insatisfação da rainha com os boatos em um comunicado sobre a separação. A nota dizia que a monarca achava a especulação sobre o assunto "especialmente inconveniente".
Em agosto, porém, uma nova polêmica surgiu envolvendo Sarah. Separada, mas não divorciada de Andrew, a duquesa foi fotografada em momentos íntimos com o milionário americano John Bryan.
Os registros, feitos na França, mostravam John beijando os dedos e a sola do pé de "Fergie" à beira de uma piscina. Eles também trocavam beijos enquanto a pequena princesa Eugenie, de 2 anos, brincava na água. Em outras fotos, Sarah apareceu sem a parte de cima do biquíni.
De acordo com reportagens da época, para piorar a situação, Sarah estava no Castelo de Balmoral, na Escócia, com a família real quando as fotos foram publicadas. Em sua biografia, ela conta que alertou a rainha e Andrew sobre a divulgação das imagens, e o príncipe disse que a realeza iria apenas "lidar com o assunto".
No entanto, fontes afirmam que o escândalo estremeceu permanentemente a relação de Sarah com o restante da família, principalmente com o príncipe Philip, que teria ficado muito irritado com a situação.
"Nós desaprovamos veementemente a publicação de fotografias tiradas em circustâncias como estas", disse o Palácio de Buckingham em nota ao jornal Washington Post.
O divórcio foi finalizado em 1996. Sarah e Andrew continuaram grandes amigos e vivem juntos até hoje no Royal Lodge, em Windsor. A duquesa de York costuma descrever os dois como "o casal divorciado mais feliz do mundo".
Divórcio da princesa Anne
Em 1989, a princesa Anne anunciou que estava se separando de seu marido, o cavaleiro Mark Phillips, após 16 anos de casamento.
Na época, rumores de infidelidade cercavam o casal. Naquele ano, cartas trocadas entre Anne e Timothy Lawrence, um alto funcionário da rainha Elizabeth 2ª, foram obtidas pela imprensa. O conteúdo nunca foi publicado, mas foi alvo de especulação. Além disso, em 1991, foi revelado que Mark Phillips teve uma filha fora do casamento com uma professora de artes da Nova Zelândia.
O divórcio, porém, só foi oficializado em abril de 1992. E foi no final daquele ano que a princesa Anne se casou com Timothy Lawrence em uma cerimônia discreta, em Balmoral.
Escândalos da princesa Diana
Em junho daquele ano, foi lançado o livro "Diana - Her True Story" ("Diana - Sua verdadeira história", em tradução ao português), do autor Andrew Morton.
A biografia bombástica, entre várias revelações, dava detalhes da frágil saúde mental da princesa, que revelou ter tentado suicídio cinco vezes, além de ter se mutilado em várias ocasiões. Segundo a obra, o príncipe Charles não se importava com os problemas da mulher. O livro abordava também os distúrbios alimentares da princesa e o relacionamento de Charles e Camilla Parker Bowles.
Oficialmente, Diana, por meio de um oficial do palácio, negou ter colaborado com o autor. Morton também dizia que a princesa não colaborou com a obra. Apesar disso, o irmão de Lady Di e seus amigos próximos Carolyn Bartholomew e James Gilbey corroboraram publicamente o conteúdo do livro.
Após a morte de Lady Di, Morton revelou que a princesa colaborou com a biografia, gravando fitas com depoimentos que ele recebia por meio de um amigo próximo de Diana. O livro foi relançado com o título "Diana - Sua verdadeira história em suas próprias palavras".
Ainda em 1992, o jornal "The Sun" divulgou uma ligação vazada entre a princesa Diana e James Gilbey. A conversa polêmica de 23 minutos, gravada antes de 1990, foi publicada nos tabloides britânicos, ficou conhecida como "Squidgygate" ("Escândalo de Squidgy", em tradução para o português). Isso porque, na conversa, Gilbey se referia a Diana como "Squidgy" (algo como "fofinha").
Além disso, na ligação, Diana descrevia seu casamento com Charles como uma "verdadeira tortura", além de expressar preocupações com uma possível gravidez.
Incêndio no Castelo de Windsor
Em novembro de 1992, um grande incêndio tomou conta de parte do Castelo de Windsor. O fogo começou na capela da rainha Vitória, onde um holofote defeituoso colocou fogo em uma cortina.
O incêndio destruiu 115 cômodos e demorou quinze horas para ser apagado com o trabalho de 225 bombeiros.
A controvérsia causada pelo incêndio girou em torno do uso de dinheiro público para consertar os danos no castelo, cujo custo estava estimado inicialmente em mais de R$ 400 milhões. Diante da polêmica e dos estragos a coroa abriu, pela primeira vez na história, o palácio de Buckingham para a visitação com o propósito de arrecadar fundos para a restauração da residência medieval.
Além disso, em novembro, a rainha Elizabeth afirmou que pagaria, pela primeira vez, o imposto de renda voluntariamente. O palácio de Buckingham, porém, disse que a decisão nada tinha a ver com o incêndio.
A restauração do castelo, liderada pelo príncipe Philip, foi concluída em 1997 e custou £ 36.5 milhões.
Rainha faz apelo em discurso
O discurso da rainha sobre o "annus horribilis" aconteceu quatro dias após o incêndio em Windsor. Em uma fala que deveria ser a comemoração do aniversário de 40 anos de sua acessão ao trono, a rainha acabou classificando o ano como "horrível".
"1992 não é um ano para o qual eu olharei com pura alegria. Nas palavras de um dos meus mais compreensivos confidentes, este foi afinal um 'annus horribilis'", disse.
Na fala, a monarca pediu moderação e compaixão da imprensa e dos críticos frente aos acontecimentos do último ano.
"Nenhuma parte da comunidade tem todas as virtudes nem todos os vícios. Eu tenho certeza de que a maioria das pessoas tentam fazer seus trabalhos da melhor forma que podem, mesmo que o resultado não seja completamente bem-sucedido. Aquele que nunca falhou em atingir a perfeição tem o direito de ser o crítico mais duro", afirmou a rainha.
Em seu tradicional discurso de Natal, a rainha também abordou os "dias difíceis" enfrentados pela família real e agradeceu ao povo pelo apoio.
Separação de Charles e Diana
Para fechar o ano com "chave de ouro", Charles e Diana anunciaram a separação no início de dezembro após 11 anos de casamento.
Na ocasião, o palácio de Buckingham divulgou um comunicado dizendo que a decisão foi "amigável". A nota foi lida pelo primeiro-ministro John Major na Câmara dos Comuns.
A notícia veio após anos de especulações e polêmicas em torno do casamento dos dois, intensificadas pelos acontecimentos de 1992. O divórcio foi finalizado em agosto de 1996.
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