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ANÁLISE

Angustiante, 'O Menu' mostra como a gastronomia saboreia a vingança

Ralph Fiennes e Anya Taylor-Joy são as grandes estrelas de "O Menu", estreia da semana nos cinemas - Divulgação/Searchlight Pictures
Ralph Fiennes e Anya Taylor-Joy são as grandes estrelas de 'O Menu', estreia da semana nos cinemas Imagem: Divulgação/Searchlight Pictures

Renan Martins Frade

Colaboração para o UOL

01/12/2022 19h01

Esta é a versão online da edição desta quinta-feira (1º) da newsletter Na Sua Tela. Nesta semana, destaques para "O Menu", "Aftersun" e outros filmes que chegam aos cinemas e aos streamings, além de uma curadoria do que vale assistir. Quer receber a edição da semana que vem no seu e-mail? Inscreva-se. Os assinantes UOL ainda têm mais de 10 newsletters exclusivas.

Nesta quinta, 1º, estreia nos cinemas brasileiros o filme "O Menu". Estrelado por Anya Taylor-Joy ("O Gâmbito da Rainha"), Ralph Fiennes ("O Paciente Inglês") e Nicholas Hoult ("Mad Max: Estrada da Fúria"), o longa-metragem é mais um capítulo em uma antiga tradição: a de se juntar cinema e comida, duas coisas que todos amamos.

A produção dirigida por Mark Mylod agrega o sabor da vingança a esse verdadeiro subgênero, o dos filmes de culinária, que já foi explorado diversas vezes na história. Por isso, o Na Sua Tela desta semana traz um cardápio de longas que fazem essa mesma união, nos servindo pratos saborosos junto de drama, romance, comédia e muito mais.

No final, você vai chegar à conclusão de que a sétima arte consegue usar imagens para instigar a nossa fome.

Caso você queira uma sobremesa depois de tantos pratos principais, ainda tem a estreia do interessante drama independente "Aftersun", além das dicas de Roberto Sadovski e Flavia Guerra.

O que tem de novo?

O MENU

o Menu - imagem - Divulgação/Searchlight Pictures - Divulgação/Searchlight Pictures
'O Menu': Anya Taylor-Joy em mais uma grande atuação
Imagem: Divulgação/Searchlight Pictures

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  • Onde: Nos cinemas - clique para comprar ingressos
  • O que tem de bom: O que acontece quando "MasterChef" e "Hell's Kitchen" encontram "Disque M Para Matar"? O resultado, por linhas tortas, é "O Menu". Dirigido por Mark Mylod ("Succession"), o longa traz um casal (Nicholas Hoult e Anya Taylor-Joy) indo até o restaurante super exclusivo do chef Slowik (Ralph Fiennes), que fica em uma ilha isolada. O que começa como uma interessante aventura culinária vai ganhando contornos de terror e de suspense ácido, com um forte comentário social. Ainda que o desfecho não seja surpreendente, é interessante acompanhar o desenrolar da história - e como, nesta vida, somos todos divididos entre aqueles que servem e os que são servidos. Mylod tem o mérito visual de brincar com os clichês dos reality shows culinários, enquanto Taylor-Joy e Fiennes estão impecáveis em cena. A atuação dos dois é extremamente naturalista, com os sentimentos extremamente claros por meio dos olhares. Certamente um filme para se apreciar com os olhos, e que vai abrir o seu apetite da forma mais estranha possível.
  • O que te faz sentir: remorso, vergonha
  • Opinião de Roberto Sadovski: "'O Menu' tem de tudo um pouco. Com senso de humor ácido e afiado, serve sátira urbana e conflito de classes salpicado com o impacto de um filme de terror dos bons. Seu texto se equilibra entre o comentário social esperto e o jorro de sangue. O melhor de tudo? Funciona à perfeição!" (leia a crítica completa)

AFTERSUN

Aftersun - imagem - Divulgação/MUBI/O2 Play - Divulgação/MUBI/O2 Play
As memórias da relação entre pai e filha são as bases de 'Aftersun'
Imagem: Divulgação/MUBI/O2 Play

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  • Onde: Nos cinemas
  • O que tem de bom: Situado no final dos anos 1990, "Aftersun" é a tocante lembrança de uma viagem de um pai com a sua filha, de apenas 11 anos, para a Turquia. Aos poucos, se desenrola na tela uma história de crescimento, mas também sobre a relação paternal e, o mais importante, sobre a depressão. Dessa forma, aquele ar de nostalgia inunda as cenas, enquanto a diretora Charlotte Wells é extremamente bem-sucedida na criação de uma clima de angústia. Um ótimo exemplar do cinema britânico independente, temperado por ótimas atuações de Paul Mescal ("A Filha Perdida") e da jovem Frankie Corio (uma revelação e que tem tudo para ter uma brilhante carreira pela frente)
  • O que te faz sentir: saudosismo, nostalgia


Nesta semana ainda tem a estreia no streaming de "Adão Negro", que chega para aluguel e compra em UOL Play, Loja Prime Video, Apple TV, Google Play, YouTube, Claro tv+ e Vivo Play. O longa foi tema do Na Sua Tela em outubro, clique aqui para ler mais.

O cinema como o prato principal

Talvez você não saiba, mas o cinema recebeu o apelido de sétima arte do intelectual italiano Ricciotto Canudo justamente por conseguir unir elementos de todas as outras seis artes que vieram antes: arquitetura, escultura, pintura, música, poesia e dança.

Canudo morreu em 1923, mas ainda cabe um protesto: a culinária é a arte de cozinhar - e ela tem, sim, espaço no cinema. Por mais que um filme não tenha sabor e cheiro na concepção tradicional dos termos, o audiovisual consegue nos passar essa sensação, E o melhor: muitas vezes utilizando nossas memórias e sentimentos, já que a comida pode nos encher de afeto e nostalgia.

A seguir você vai encontrar uma seleção de filmes que, por mais que não preencham nossas bocas e estômagos, são alimentos para a alma.

CHEF

Chef - imagem - Divulgação/Sony Pictures - Divulgação/Sony Pictures
'Chef' é um road movie culinário produzido, escrito, dirigido e estrelado por Jon Favreau
Imagem: Divulgação/Sony Pictures

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  • Onde: Prime Video, Universal+
  • O que tem de bom: Jon Favreau ("Homem de Ferro", "O Mandaloriano") é o produtor, roteirista, diretor e protagonista de um filme cheio de afeto - e comida. "Chef" (2014) conta a trajetória de Carl Casper, um cozinheiro famoso de um restaurante que se vê em um beco sem saída na carreira. É quando ele compra um trailer de comida e parte em um road movie sobre a redescoberta de quem é a partir do sabor. O elenco é estelar, incluindo nomes como Robert Downey Jr, Dustin Hoffman, Scarlett Johansson e Sofía Vergara. Fica a dica, aliás, de assistir à série derivada também criada por Favreau, que é um entusiasta da comida: "The Chef Show", disponível na Netflix.
  • O que te faz sentir: liberdade, inspiração


PEGANDO FOGO

Pegando Fogo - imagem - Divulgação/Paris Filmes - Divulgação/Paris Filmes
Bradley Cooper vive os perrengues da cozinha em 'Pegando Fogo'
Imagem: Divulgação/Paris Filmes

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  • Onde: Netflix, Prime Video, Paramount+, Telecine, UOL Play
  • O que tem de bom: Os dissabores e dedicação de chefs tendem a render boas histórias - e esse é exatamente o caso de "Pegando Fogo" (2015). No longa, Bradley Cooper ("Nasce Uma Estrela") interpreta Adam Jones, um cozinheiro que deixa o sucesso lhe subir à cabeça e, enquanto vê sua vida destruída pelo vício, ganha a fama de ser uma diva da cozinha. Esse é o começo de uma trajetória de redenção de um protagonista intragável, com o qual é difícil se relacionar. Agora, se você superar essa amargura, encontrará um interessante retrato da culinária, temperado por belos pratos.
  • O que te faz sentir: embaraço, amargura


RATATOUILLE

Ratatouille - imagem - Divulgação/Disney - Divulgação/Disney
Quem disse que um rato não pode ser cozinheiro?
Imagem: Divulgação/Disney

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  • Onde: Disney+
  • O que tem de bom: O que acontece quando a culinária ganha o toque de Disney e Pixar? O resultado é "Ratatouille" (2007), uma fofíssima aventura sobre um rato, Remy, que vive em Paris e é encantado pela culinária francesa. Um belo dia ele conhece Alfredo Linguini, cozinheiro filho de um famoso chef - só que sem nenhuma vocação para a profissão. O jovem então passa a contar com a ajuda do diminuto amigo para cozinhar grandes pratos, em uma produção que consegue fazer uma surpreendente união de ratos e alta culinária. A direção é de Brad Bird, de "Os Incríveis", e a animação honra a tradição da Pixar de produzir filmes que fisgam adultos e crianças na mesma medida.
  • O que te faz sentir: inspiração, coragem


LUNCHBOX

Lunchbox - imagem - Divulgação/Imovision - Divulgação/Imovision
'Lunchbox' é estrelado pelo inesquecível Irrfan Khan, morto em 2020
Imagem: Divulgação/Imovision

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  • Onde: Reserva Imovision, Canais Prime Video
  • O que tem de bom: A comida tem um poder agregador, não é mesmo? Em "Lunchbox" (2013), uma mulher (Nimrat Kaur) quer reconquistar o marido mandando-lhe uma marmita especial. Porém, o sistema de entregas faz com que o almoço chegue a outro homem, interpretado pelo inesquecível Irrfan Khan ("Quem Quer Ser Um Milionário?"). A confusão - e a comida - acabam unindo os dois, em uma amizade que se inicia. Um longa que nos faz refletir sobre a vida, união e as escolhas que fazemos. Tudo isso de forma calorosa, com o tempero do cinema indiano.
  • O que te faz sentir: carinho, intimidade


ABE

Abe - imagem - Divulgação/Paris Filmes - Divulgação/Paris Filmes
Seu Jorge e Noah Schnapp contracenam em 'Abe'
Imagem: Divulgação/Paris Filmes

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  • Onde: Netflix
  • O que tem de bom: Dirigido pelo brasileiro Fernando Grostein Andrade, "Abe" (2019) traz um encontro improvável em cena: a de Seu Jorge com Noah Schnapp, de "Stranger Things", para contar um relato de união por meio da comida. Na história, Schnapp é Abe, um garoto do Brooklyn de família meia judia, meio muçulmana, e que quer unir todos com o amor que tem pela culinária. Para isso ele busca a ajuda de Chico (Jorge), mas nem tudo sai como o esperado. "Abe" prova que aquilo que nos une é mais forte do que aquilo que nos separa, inclusive na comida.
  • O que te faz sentir: aceitação, pacifismo


O CHEF

O Chef - imagem - Divulgação/Synapse Distribution - Divulgação/Synapse Distribution
'O Chef' apresenta as desventuras de uma noite na cozinha profissional
Imagem: Divulgação/Synapse Distribution

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  • Onde: para aluguel ou compra em Loja Prime Video, Apple TV, Google Play, YouTube, Claro tv+, Vivo Play
  • O que tem de bom: Da nossa mesa, não temos ideia da correria e do estresse que é uma cozinha profissional. "O Chef" (2021) nos apresenta esse mundo, com uma noite na vida de um cozinheiro (Stephen Graham) que precisa enfrentar dificuldades como um crítico culinário, um pedido de casamento no restaurante e até a reação alérgica de um dos clientes. Tudo isso filmado em plano-sequência, em take único e sem cortes aparentes, o que dá aquela sensação de urgência e de tempo real para a ação. Um drama britânico imersivo que vale a pena conferir.
  • O que te faz sentir: ansiedade, impotência


ESTÔMAGO

Estômago - imagem - Divulgação/Downtown Filmes - Divulgação/Downtown Filmes
'Estômago' é a abordagem brasileira para os filmes sobre gastronomia
Imagem: Divulgação/Downtown Filmes

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  • Onde: Netflix, Globoplay
  • O que tem de bom: Uma lista de filmes culinários não poderia ficar sem uma produção nacional. "Estômago" (2007) conta a vida de Raimundo Nonato (João Miguel), um migrante nordestino que vê no amor pela gastronomia a oportunidade de prosperar no sul do país. Por caminhos diferentes, o longa do diretor Marcos Jorge faz uma crítica social que lembra aquela de "O Menu", mas com mais humor - e com o tempero brasileiro.
  • O que te faz sentir: galhofa, frustração


JULIE & JULIA

Julie & Julia - imagem - Divulgação/Sony Pictures - Divulgação/Sony Pictures
Meryl Streep é a chef Julia Child em 'Julie & Julia'
Imagem: Divulgação/Sony Pictures

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  • Onde: para aluguel ou compre em Loja Prime Video, Apple TV, Google Play, YouTube, Claro tv+
  • O que tem de bom: Meryl Streep e Amy Adams contracenando em um filme sobre culinária dirigido por Nora Ephron, de "Mens@gem Para Você" e "Harry e Sally: Feitos um para o Outro": esses já são motivos o suficiente para assistir a "Julie & Julia" (2009). Agora, se você quiser ainda mais, vale mencionar que o longa é inspirado em uma história real, sobre a renomada chef Julia Child e a blogueira Julie Powell, que se desafiou a aprender todas as receitas de sua ídola. Um filme envolvente, sobre vida e amor à culinária. Infelizmente, Julie, Julia e Nora já morreram, mas a doçura delas ainda vive nesta deliciosa comédia dramática.
  • O que te faz sentir: inspiração, valorização


A FANTÁSTICA FÁBRICA DE CHOCOLATE

A Fantástica Fábrica de Chocolate - imagem - Divulgação/Warner Bros. - Divulgação/Warner Bros.
Estrelado por Gene Wilder, 'A Fantástica Fábrica de Chocolate' é um delicioso clássico do cinema
Imagem: Divulgação/Warner Bros.

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  • Onde: HBO Max
  • O que tem de bom: Um clássico - e clássicos são doces. "A Fantástica Fábrica de Chocolate" (1971) é uma daquelas histórias que mexe com a nossa imaginação, com um grupo de crianças que realiza o grande sonho: conhecer a fábrica do excêntrico Willy Wonka (Gene Wilder, mágico em cena). Tudo isso nos brinda com um filme peculiar, colorido e com um ensinamento ao final de tudo. Melhor: cheia de chocolate. Quem não ama chocolate?
  • O que te faz sentir: nostalgia, galhofa


TOAST: A HISTÓRIA DE UMA CRIANÇA COM FOME

Toast - Divulgação/BBC - Divulgação/BBC
O jovem Freddie Highmore é o grande destaque de 'Toast'
Imagem: Divulgação/BBC

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  • Onde: Prime Video
  • O que tem de bom: Produzido pela BBC, "Toast: A História de uma Criança com Fome" (2010) é a biografia de Nigel Slater, famoso cozinheiro, jornalista e crítico gastronômico britânico. O chef é interpretado por Freddie Highmore, que você deve conhecer pela série "The Good Doctor", e o elenco ainda conta com Helena Bonham Carter no papel da madrasta do protagonista. Feito para a televisão, a produção é simples, mas entrega ótimas cenas entre Highmore e Bonham Carter.
  • O que te faz sentir: inspiração, ressentimento

O POÇO

o Poço - imagem - Divulgação/Netflix - Divulgação/Netflix
'O Poço' é uma metáfora sobre o mundo real, só que em forma de terror
Imagem: Divulgação/Netflix

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  • Onde: Netflix
  • O que tem de bom: Para fechar, mais um filme que usa a comida como elemento para criar terror, suspense e crítica social - assim como "O Menu". A grande diferença é que em "O Poço" (2019) os alimentos não são os protagonistas, mas sim um elemento para mostrar as diferenças sociais. Quem está nos pavimentos mais inferiores do poço do título têm acesso apenas aos restos, já quem fica nas primeiras plataformas altas pode saborear as maiores delícias. As pessoas em cada andar sonham com a ascensão, mas se esquecem que estão mais próximas do desespero da miséria do que da opulência da riqueza - e que precisam se unir para superar a opressão. Ou seja, igualzinho à vida real.
  • O que te faz sentir: indignação, ameaça

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