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Como se fosse ao culto: o comportamento de Flordelis horas antes da prisão

Flordelis no terceiro episódio da série documental "Flordelis: Em Nome da Mãe" - Divulgação/HBO Max
Flordelis no terceiro episódio da série documental 'Flordelis: Em Nome da Mãe' Imagem: Divulgação/HBO Max

De Splash, no Rio

08/12/2022 04h00

"Flordelis: Em Nome da Mãe", nova série documental da HBO Max, chega ao streaming hoje com a promessa de resgatar os detalhes da morte do pastor Anderson do Carmo em 2019. As imagens trazem Flordelis após a morte do marido, incluindo os três dias anteriores à prisão e o momento em que ela se arruma para ir à cadeia.

Assim como a produção "Flordelis: Adora ou Questiona" (Globoplay), a série da HBO Max mostra a ascensão e a queda da mulher que teve mais de 50 filhos (entre biológicos, adotivos e afetivos), tornou-se pastora, cantora reconhecida e a quinta deputada federal mais votada do Rio, mas foi acusada e condenada de matar o marido, o pastor Anderson do Carmo.

Em entrevista a Splash, a diretora, Suemay Oram, e o codiretor, Maurício Monteiro Filho, dizem que o momento mais dramático foram os três dias anteriores à prisão. Eles acompanharam Flordelis de perto, em especial, entre os dias 11 de agosto de 2021 — quarta-feira em que perdeu o cardo de deputada federal — e 13 agosto de 2021 — sexta-feira de garoa fina que culminou na prisão dela.

Os diretores contam como foi acompanhar a tensão desses dias. Eles chegaram a dormir na casa de Flordelis, em Niterói, onde aconteceu o crime, na véspera da prisão. O que eles descrevem a Splash é exibido no terceiro episódio da produção.

"A gente não podia se dar ao luxo de descansar e não estar ao lado dela. A intensidade chegou ao nível de dormir na casa dela na véspera da prisão. Sabendo do perfil das outras operações policiais, existia a possibilidade de a prisão ser numa manhã, ou na chegada de Brasília para o Rio, ou na saída do aeroporto funcional. A gente estava em todas essas instâncias. Fomos a mosquinha na parede que viu isso de dentro", detalha.

"Para a equipe envolvida, foi extremamente impactante estar dentro da crise, ver a Flordelis se preparando para ser presa. A polícia já estava lá embaixo e ela arrumando o cabelo porque tinha tirado a lace que usava. Ela tinha medo de que fosse arrancada com violência na cadeia. Todas as filhas em torno dela, preparando como se ela fosse a um casamento, ou ao culto, só que era a entrada dela na prisão", diz Mauricio.

Suemay reforça que o mundo inteiro viu as imagens gravadas do lado de fora da casa, feitas pelas emissoras de TVs que acompanhavam o mandado de prisão da ex-deputada, ou as imagens feitas pela live da deputada minutos antes de se entregar. A série traz registros do interior da casa e mostra a família em desespero.

"Foi um momento triste, todo mundo gritando. Ela sabia que talvez fosse ser presa por anos, não sabia se ia voltar, abraçava todo mundo. O Maurício filmou o momento em que ela tirou a lace dela. Foi o momento em que ela se olhou no espelho e a gente sabia que ela ia para prisão. Não sei se muitas pessoas tiveram essa oportunidade de filmar uma pessoa no momento em que ela vai ser presa. Foi muito impactante", detalha Suemay.

No dia 13 de novembro, Flordelis foi condenada a 50 anos e 28 dias de prisão pela morte do pastor Anderson do Carmo. Ela respondia por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosamente armada.

A ex-parlamentar foi denunciada como mandante do assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo, que foi executado a tiros em junho de 2019, na residência da família, em Niterói, no Rio de Janeiro.

O Tribunal do Júri também condenou Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica de Flordelis, a 31 anos, 4 meses e 21 dias pelos crimes de homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada.

Olhar 360ª

O primeiro episódio da série traz o ponto de partida do documentário, que é o assassinato de Anderson, as primeiras versões, as contradições familiares e o começo da investigação policial. Mostra ainda o racha familiar criado após Misael dos Santos, um dos filhos adotivos do casal, ser o primeiro a apontar Flordelis como "mentora intelectual" da morte do pastor.

"A gente tinha acesso ao Misael, o algoz dela no processo. Ele muda bastante a perspectiva do inquérito policial. Ele que cunhou a expressão 'mentora intelectual'. A gente teve acesso privilegiado aos personagens mais importantes, mesmo eles estando em polos opostos. A gente mostrou o nosso compromisso com contar essa história nos seus 360ª, da maneira mais integral possível. A gente esteve nessa camada de tempo presente. É um documentário de observação", pontua Mauricio.

O primeiro episódio termina com uma ameaça de Flordelis a Misael, dizendo que o encontraria. Segundo os documentaristas, Flordelis se sentiu traída pelo filho. "Não adianta se esconder, Misael. Ainda que você cave um buraco e entre dentro dele, eu vou te achar", diz Flordelis em depoimento.

"O primeiro episódio são os primeiros três dias. Ela realmente se sentiu traída. É uma quebra de confiança, era o filho dela de trinta anos que foi para a polícia, falou que ela era mandante, enquanto ela está falando para gente que não é a mandante", completa Suemay.

Flordelis no primeiro episódio da série documental 'Flordelis: Em Nome da Mãe' - Divulgação/HBO Max - Divulgação/HBO Max
Flordelis no primeiro episódio da série documental 'Flordelis: Em Nome da Mãe'
Imagem: Divulgação/HBO Max

Como eles tiveram acesso a Flordelis?

Além de depoimentos de Flordelis, seus algozes e investigadores, o documentário acompanhou a rotina familiar de Flordelis após o crime e coletou 55 horas de imagens de arquivo da família, cedidos pela então suspeita de assassinato. Os diretores acreditam que a ex-deputada permitiu esse acesso porque queria dar a sua versão do crime.

"Foi uma época em que a mídia brasileira não dava voz a ela, era tudo sensacionalista. A nossa produtora executiva entrou em contato com ela e a Flordelis viu que era uma produtora de fora do país (em Londres, na Inglaterra). Por isso, ela se sentiu mais confortável. A gente sempre falou que ia trabalhar de uma maneira ética e com mais tempo. A gente teve oito meses na ilha de edição", conta Suemay.