Influencer da Maré notado por Shakira comprou casa para família com vídeos

Ele é o momento! Raphael Vicente, de 22 anos, viralizou após a cantora Shakira compartilhar vídeo em que ele dança um remix de "Waka Waka", tema da Copa do Mundo de 2010. Somente no Instagram, a coreografia ultrapassa 3,7 milhões de visualizações.

"Só se fala nisso, gente, só se fala nisso. Que ódio", brinca ele, aos risos, durante conversa com Splash sobre a repercussão do vídeo. Raphael Vicente será um dos apresentadores da próxima edição do TikTok Awards, que acontece na próxima segunda-feira (12).

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Mas o jovem da Maré, favela da Zona Norte do Rio, já é famoso no TikTok. Seguido por mais de 3 milhões de pessoas na rede social, ele se tornou conhecido no auge da pandemia por criar esquetes de humor com a família.

Ele produz conteúdo há oito anos, mas "tudo mudou" nos últimos três. Se em 2019, ele era mais um jovem desempregado. Hoje, ele consegue dar mais conforto para a família com o dinheiro de publicidades nas redes. Raphael conversou com Splash direto da casa que comprou para a família.

Se você olhar para o ambiente que eu estou, é minha casa nova, que comprei com dinheiro que ganhei na internet. Essa é a minha maior realização. Estou ajudando minha família e vivendo do que amo fazer.

"Eu não moro mais com a minha dinda, com a minha tia Laura e o Júnior. Antes, a gente vivia em uma casa com todo mundo junto. Só que aquela casa da minha dinda. Eu, minha avó e a minha irmã não tinha nossa casa ainda. Eu arrumei um espaço que é perto delas, uma rua aqui atrás. Então, assim, não faz diferença nenhuma. A gente está em outra casa, mas a gente sai, continua junto", conta.

E eles seguem vivendo bem pertinho mesmo. A família inteira segue vivendo na Maré. Raphael brinca que só precisa gritar "vídeo" para a família se reunir e gravar conteúdo junto.

"Sempre falo que virei figurante. Que as estrelas são eles. Se eu fizer vídeo sem eles, o pessoal me massacra. É um nicho meu criar vídeo com eles. Tudo o que eu faço, eu penso em pôr eles. Até nesse vídeo que eles não dançam, tem algum take ali que eles vão aparecer", diz.

Como Raphael reagiu ao ser notado por Shakira?

Apesar de já ser conhecido nas redes, Raphael viu sua agenda mudar graças a Shakira nesta semana. Desde que a colombiana repostou o vídeo, o telefone dele não para de tocar e mensagens não param de chegar, além de pedidos de entrevista.

"Eu tive crise de ansiedade porque quem me avisou foi um amigo. Avisou da pior forma possível. Ele chegou no meu WhatsApp e falou: 'corre, vai olhar o que está acontecendo no Twitter'. Achei que tivesse saído alguma fofoca no meu nome... Mas assim que abri o Twitter, vi que foi a Shakira, comecei a chorar. Tu pode ver no meu story, eu estou com a cara inchada de tanto que chorei", completa.

"Eu o postei há (mais de) uma semana, mas a bendita da Shakira me mete de repostar anteontem. A gente já estava em paz em casa, já tinha acabado as entrevistas, a mona vai, posta o vídeo e faz viralizar de novo. Toda essa vida de Anitta agora. Dando entrevista o dia inteiro", comemora ele.

Além de compartilhar o vídeo de Raphael, Shakira ainda o convidou para dançar no palco de seu próximo show no Brasil. Ele, claro, já está pronto e ainda diz que vai ensinar a sua coreografia para a colombiana.

"Eu ensaio toda hora. A cada uma hora eu botei alarme 'ensaiar a dança para fazer com a Shakira'. E, se bobear, lá no dia, eu vou ensinar a dança e ela vai ter que fazer. É sobre isso", brinca.

Mudança de narrativas

O vídeo de "Waka Waka" levou três semanas para ser produzido, desde o roteiro e gravação, até edição e publicação. Além de Raphael, contou com a participação de outros dançarinos da própria Maré. Ele mostra como é o clima festivo de uma favela durante a Copa do Mundo, com ruas pintadas e bandeirinhas da cor da bandeira do Brasil.

Por meio da arte, ele diz estar mudando a visão estigmatizada das pessoas sobre uma favela, mas é um processo longo. Não é à toa que criou um projeto de dança, o Dance Maré, para incentivar a prática na favela em 2019.

"Um vídeo meu, que criei na Maré, chegou até a Shakira falando da nossa realidade. Eu ando aqui dentro e vejo as crianças assistindo aos vídeos, vejo que as crianças começaram a produzir vídeo por minha causa, ser 'referência' para as pessoas aqui de dentro. Mudou muita coisa", diz.

Após a repercussão do vídeo, ele mostrou como mudou a busca do Google pela palavra "Maré".

"Tirei o print quando a Maré estava vivendo uma das piores operações que já aconteceu aqui. Teve uma chacina muito grande e a gente sabe que a mídia sempre que fala da violência que tem aqui, fala de morte, mas geralmente não fala a nossa real realidade. Todas as favelas são berços de pessoas muito talentosas. As pessoas do clipe têm um talento absurdo, mas não têm o reconhecimento que merecem. A gente consegue chegar lá, mas com o dobro de esforço de uma pessoa que não mora aqui dentro, sabe?", lamenta.

"E escolhi a música da África porque quando se fala do continente, a gente assimila a pessoas negras e pobres que passam fome. E se você for a fundo, você vai ver que a África é muito mais que isso. É uma realidade um pouco igual à nossa. A música deu esse match", conclui.