Betito Tavares enfrentava transtorno mental: 'Estigma é grande', diz irmã
O ator Betito Tavares, conhecido pela novela "Coração de Estudante", morreu na última quarta-feira (14) aos 42 anos. Ele enfrentava há pelo menos dez anos esquizofrenia, transtorno mental que causa delírios e alucinações, o que o afastou da TV e dos palcos.
Em entrevista a Splash, a também atriz Milena Tavares, de 44, conta que o afastamento do trabalho proporcionou uma tristeza profunda ao irmão, que viu as portas serem fechadas a medida que o transtorno evoluía. Ele se sentia sozinho e tinha medo de ser desprezado.
É a primeira entrevista que Milena fala sobre a trajetória do irmão e a partida precoce dele a fim de conscientizar as pessoas sobre o estigma em torno das pessoas que vivem com transtornos mentais.
"Estigma sobre doença mental é muito grande e as pessoas vivem numa solidão muito grande. Decidi falar com o intuito de fazer com que as pessoas normalizassem mais, porque é tanta gente que tem problema. Para acabar com isso, sabe? Que esse caso seja uma centelha de contribuição para que as pessoas tenham um pouco mais de amor, de compreensão e acolhimento com quem tem esse problema", conta.
Entre 2000 e 2010, Milena conta que Betito viveu o auge. Mudou-se do Recife para o Rio, onde teve personagens de sucesso na TV, participou de peças de teatro e fez cinema. Milena o definia como uma pessoa íntegra que instigava e empolgava quem estava por perto. Mas a história mudou na década seguinte com a esquizofrenia.
Nem Betito, nem a família perceberam o transtorno no princípio, o que atrasou o tratamento e agravou sua intensidade. A família ainda teve dificuldade de convencer Betito de que ele precisava de ajuda. A irmã acredita que Betito decidiu tirar a própria vida.
"Foi difícil cair a ficha de que havia um problema psiquiátrico. Quando a gente percebeu, foi difícil fazer ele entender que tinha. Ele não aceitava o problema... Quando a gente conseguiu fazer algo, já estava um pouco avançado. Passamos uns oito anos tentando, mas era bicho solto, cavalo selvagem que não dava para prender. Não queria o tratamento", diz.
Ele ficou internado durante seis meses somente no ano passado, época em que começou a se medicar.
Ele estava controlado, tomando remédio, fazendo o tratamento, mas, infelizmente, não aguentou o tratamento, não aguentou a tristeza, não aguentou a vida que ia para um caminho que ele não queria. E tirou a própria vida.
Milena sobre a morte do irmão, Betito Tavares
Após sair da clínica, ele passou a morar com Milena em Fortaleza (CE) e a trabalhar na pequena fábrica que a família mantém. Tinha o desejo de voltar a viajar. Com a reprise de "Coração de Estudante" no VIVA, um produtor de elenco o buscou e sugeriu refazer o cadastro na Globo, mas ele não estava conseguindo decorar o texto.
"Isso fez com que ele ficasse triste, ainda mais. A esquizofrenia provoca depressão... É muito difícil ver um transtorno tirar o brilho tão grande de pessoa. Há muito preconceito e ele ficou sozinho. Tinha fama, visibilidade e, de repente, a doença tirou tudo", lamenta.
"Coração de Estudante" foi um sonho coletivo
Betito estreou na TV no sucesso "Coração de Estudante", em 2002, interpretando o divertido Cardosinho. Foi a realização de um sonho para o artista de 20 anos que havia saído do Recife (PE), com a irmã e dois amigos, em direção ao sonho de ser ator no Rio de Janeiro. Ele já fazia publicidades na terra natal, mas ganhou projeção nacional com a novela global.
Milena conta que Betito foi selecionado para o papel de "Coração de Estudante" por acaso. Ele estava acompanhando a namorada a um teste no Projac quando um produtor percebeu que ele tinha o perfil do personagem Cardosinho.
"Ele foi acompanhá-la e na hora ficou com o papel. Foi incrível para a gente, a gente já vivia uma coisa de estudante mesmo. A gente com 20 anos, saindo de Recife, sem conhecer ninguém. Foi um negócio bem bonito, bem romantizado. Aquele sonho de jovem, praticamente de adolescente, de ser artista, ir para o Rio de Janeiro. Ir para a Globo era algo surreal", lembra Milena.
A princípio, Betito e a irmã estudavam em uma escola de teatro paga, mas depois encontraram a Escola Martins Pena, renomada escola de teatro pública da capital. "Coração de Estudante" aconteceu dois anos depois de eles mudarem de estado.
"A gente não tinha condições financeiras para bancar, mas a gente começou. Depois, descobrimos a Martins Pena, a mais antiga da América Latina, que é pública, ele passou na prova e entrou. Ele sempre se destaca pelo carisma e pelo talento. Assim, fez um monte de coisa: novela, filme com a Bruna Lombardi, peça com o João Falcão, fez peça com direção do Caio Blat. Ele também escrevia", conta Milena.
Procure ajuda
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