Cássia Kis foi de referência a cancelada por atores em 2022
Cássia Kis, 64, construiu uma das carreiras mais bem-sucedidas da dramaturgia brasileira. Em mais de 40 anos, a artista ganhou o reconhecimento do público por participações em novelas, séries, filmes e peças de teatro.
Neste ano, que marcaria o último trabalho antes da aposentadoria, no entanto, a atriz foi de consagrada a cancelada entre colegas de profissão.
O posicionamento político, as várias declarações polêmicas, o comportamento nos bastidores da TV Globo e a participação em manifestações antidemocráticas dividiram opiniões em 2022. De um lado, ela encontrou eco e foi acolhida por bolsonaristas. Do outro, uma enxurrada de críticas e questionamentos.
A pergunta que fica é: como a veterana foi de referência a persona non grata entre colegas?
A resposta, assim como o momento político, não é simples, mas passa necessariamente pelo rompimento da atriz com a esquerda e, anos depois, o primeiro contato o "Brasil Paralelo" - canal do YouTube desmonetizado pela Justiça Eleitoral por difusão de conteúdos falsos contra o presidente eleito Lula (PT).
"Eu me lembro que conheci o "Brasil Paralelo" e fiquei assustada quando vi que eles eram de direita. Não que eu fosse de esquerda, porque eu já tinha me divorciado dela lá atrás, em 2014? Eu peguei e caí fora do negócio", explicou Cássia, em conversa com a jornalista Leda Nagle.
Depois veio o contato com o pensamento do padre Paulo Ricardo. O sacerdote, que vive em Cuiabá, no Mato Grosso, mantém um site em que compartilha opiniões pessoais conservadoras a partir do uso de elementos religiosos - ainda que elas não sejam a representação da Igreja Católica como um todo.
"Eu nem sei te dizer o que aconteceu comigo. Eu estava muito dentro de casa, com dois filhos só aqui. Trabalhando muito, cozinhando, almoço, jantar, cuidando da casa. A minha casa é gigante. Duas horas da manhã eu estava aqui limpando a cozinha, mas sempre ouvindo alguma coisa. E era quase sempre o padre Paulo Ricardo", contou a artista.
Uma coisa foi levando a outra. A veterana, que sempre se declarou "cristã", também estava mergulhando em um universo de narrativas que misturam religião à política, lógica que fez parte da construção e manutenção do governo Bolsonaro nos últimos quatro anos.
"Eu estava descobrindo a direita, eu estava descobrindo que eu era conservadora. Eu estava descobrindo a verdade. Porque é tudo junto. Você não pega esses temas e separa. Não. É junto. Foi lindo. Eu não saio mais disso. Eu não estou ao lado da verdade, eu estou dentro. Eu estou no caminho da verdade. Não há o menor risco de sair disso."
Denúncia de homofobia
Na mesma entrevista a Leda Nagle, a atriz também fez um discurso homofóbico sobre as relações homoafetivas sob alegação de estarem "destruindo a família". Sem apresentar provas, ela relatou ainda a suposta existência de um "beijódromo" para as crianças se relacionarem nas escolas. A informação foi checada pela Agência Lupa e não é verdadeira.
Após as declarações, Márcia Verçosa de Sá Mercury, uma das filhas da cantora Daniela Mercury e da empresária Malu Verçosa, acionou o Ministério Público do Rio de Janeiro contra a atriz. Além disso, artistas e entidades entraram com representações condenando as falas preconceituosas.
"A pressão sobre mim — verdadeiro assédio moral — ganhou contornos policiais, pois me chega a notícia de que estou sendo formalmente acusada de "homofobia" por um grupo de ativistas do Rio de Janeiro. Não, meus caros, não sou nem nunca fui homofóbica; sou no máximo mentirofóbica e idiotofóbica", disse a veterana, em texto publicado pela Folha.
Bastidores e relação com os colegas
Diante da vitória de Lula na disputa pela Presidência da República, Cássia foi às ruas e participou de manifestações antidemocráticas. O clima nos bastidores, que já não estava bom por causa das declarações e apoio a Bolsonaro, ficou ainda pior.
De acordo com Fefito, colunista de Splash, o comportamento provocou o isolamento da atriz dentro da emissora. "A coluna apurou que vários se organizaram para promover um bloqueio em massa no WhatsApp com um único propósito: evitar receber mensagens indesejadas e também manter qualquer relação com alguém com ideais antiprogressistas."
"Aos fãs, aos amigos, aos familiares, aos colegas de profissão e também aos inimigos de última hora, digo: neste momento de turbulência, a dor de ver gente boa virando-me a cara é superada, sim, pela alegria de encontros memoráveis com pessoas de carne, de ossos e de fé", escreveu, no mesmo texto enviado à Folha.
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