Topo

Após perda de anunciantes, Jovem Pan repudia golpe e reconhece governo Lula

Jovem Pan se manifesta após perder anunciantes por acusação de alimentar golpe no Brasil - Divulgação
Jovem Pan se manifesta após perder anunciantes por acusação de alimentar golpe no Brasil Imagem: Divulgação

De Splash, em São Paulo

28/12/2022 20h52

Apoiadora do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), a Jovem Pan emitiu um editorial condenando os atos antidemocráticos após as eleições de 2022 e reconhecendo a vitória do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A medida do canal é uma resposta por sofrer com a perda de anunciantes após denúncias de alimentarem discursos golpistas em sua programação.

"Ainda que visões políticas e ideológicas dissonantes tenham dividido a população em lados opostos, é crucial que todos entendam que essas divergências são pilares fundamentais da democracia", diz o texto, lido pelo âncora Adalberto Piotto.

"A Jovem Pan nunca vai apoiar qualquer manifestação que caminhe na direção do enfraquecimento ou da destruição de nossas instituições. Somos defensores do direito de discordar e vamos exercer o papel de críticos sempre que necessário", acrescentou.

O perfil "Sleeping Giants Brasil" — que se identifica como um "movimento de consumidores contra o financiamento do discurso de ódio e das fake news" — publicou um vídeo compilando alguns trechos de noticiários da Jovem Pan sobre a invasão ao Capitólio dos Estados Unidos, ocorrida em 6 de janeiro de 2021, por partidários do então presidente Donald Trump, protestando contra a vitória de Joe Biden nas eleições de 2020.

Os trechos reunidos no vídeo mostram comentaristas e jornalistas da Jovem Pan dando legitimidade ao movimento e ao discurso de que as eleições, legítimas, teriam sido fraudadas. Em seguida, mostram os recentes ataques antidemocráticos em Brasília, realizados no último dia 12 por bolsonaristas.

Ainda no editorial, a Jovem Pan tenta se desvincular da imagem de apoiadora de Bolsonaro com mensagem de que está sendo vítima de uma "uma publicação falsa" — sem mencionar o movimento organizado pela "Sleeping Giants".

"É preciso, nestes tempos em que a verdade se decompõe com a truculência de uma publicação falsa em rede social, reforçar o óbvio e dizer que a Jovem Pan não faz coro e não endossa qualquer lampejo golpista, ato de violência ou o uso retórico irresponsável de instrumentos constitucionais como o artigo 142 da Constituição", completou.

Vale lembrar que há poucas semanas a Jovem Pan foi obrigada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a ceder direito de resposta a Lula após alguns de seus comentaristas dizerem que não havia sido inocentado e que promoveria perseguição contra cristãos.

Empresas como Tim, Natura, Quinto Andar, C6 Bank, Burger King, entre outas, já anunciaram que não irão mais anunciar na Jovem Pan após a campanha iniciada pela Sleeping Giants Brasil nas redes sociais.

Leia o comunicado da Jovem Pan na íntegra:

O próximo dia 1º de janeiro abrirá mais um capítulo na história da nossa República. Um novo governo tomará posse, e, nos termos do artigo 78 da Constituição de 1988, estabelecerá o compromisso de "manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil". O juramento que será feito pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva é um compromisso firmado publicamente diante do povo, e o lembrete de que é dever de todos os brasileiros manter, defender e cumprir a Constituição.

Ainda que visões políticas e ideológicas dissonantes tenham dividido a população em lados opostos, é crucial que todos entendam que essas divergências — e principalmente a possibilidade de que elas sejam cultivadas — são pilares fundamentais da democracia. Não podemos nem devemos ignorar o óbvio e imaginar que todos, da noite para o dia, vão convergir, mas é imprescindível que essa divergência seja mantida no campo das ideias e do respeito às instituições e à Constituição.

Não há espaço para ameaças, para violência ou para que se coloque sob suspeita a realização da transição de governo, que seguramente acontecerá no próximo domingo. Se há divergências, que estas sejam discutidas no mais alto nível, de forma propositiva e com argumentos que se sustentem pela clareza e pelo caráter técnico. É por isso que a Jovem Pan, há décadas, abre espaço para o mais amplo debate em seus jornais e programas. Porque entendemos que as cores que compõem a nossa democracia vão muito além do verde, do amarelo e do vermelho. Porque acreditamos que as ideias vão se somar e nos permitir construir, inclusive por meio da divergência, um país melhor e uma democracia ainda mais forte.

É preciso, nestes tempos em que a verdade se decompõe com a truculência de uma publicação falsa em rede social, reforçar o óbvio e dizer que a Jovem Pan não faz coro e não endossa qualquer lampejo golpista, ato de violência ou o uso retórico irresponsável de instrumentos constitucionais como o artigo 142 da Constituição. A Jovem Pan nunca vai apoiar qualquer manifestação que caminhe na direção do enfraquecimento ou da destruição de nossas instituições. Somos defensores do direito de discordar e vamos exercer o papel de críticos sempre que necessário.