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Por que 'Holocausto Canibal' é um dos filmes mais polêmicos do cinema?

"Holocausto Canibal" foi lançado em 1980 e foi o maior sucesso de Ruggero Deodato - Reprodução
'Holocausto Canibal' foi lançado em 1980 e foi o maior sucesso de Ruggero Deodato Imagem: Reprodução

De Splash, em São Paulo

30/12/2022 13h05

O diretor Ruggero Deodato morreu nesta quinta-feira (29), aos 83 anos. Nascido na Itália, a sua fama é derivada de produções sangrentas, que beiram o mau gosto, sendo a principal dela "Holocausto Canibal". O filme de 1980 o alçou à imagem de precursor do "found footage", subgênero do terror que mostra falsas gravações perdidas com casos assustadores e mundialmente difundido com "Bruxa de Blair" (1999).

"Holocausto Canibal" conta com 1h38min e é um daqueles longas que causaram comoção ao ser lançado por ser repulsivo e envolto a diversas polêmicas. No entanto, como já é de praxe na indústria cinematográfica, o título se tornou "cult", despertando a curiosidade dos cinéfilos.

Por que é polêmico?

  • A história se passa na floresta amazônica e acompanha uma missão de resgate que procura documentaristas atacados por indígenas canibais. Imagens são encontradas e mostram cenas chocantes.
  • A produção passa uma visão distorcida de como seria a vida das aldeias amazônicas.
  • Para dar veracidade ao filme, o diretor matou animais em cena. Um macaco foi decapitado e uma tartaruga de uma espécie ameaçada de extinção foi abatida.
  • Para chocar o espectador, "Holocausto Canibal" mostra diversas sequências de morte, tortura, maus tratos, estupros e canibalismo.
'Holocausto Canibal' foi censurado em 40 países - Divulgação - Divulgação
'Holocausto Canibal' foi censurado em 50 países
Imagem: Divulgação

Ruggero Deodato deu uma entrevista ao The Guardian, em 2011, e tentou se defender das acusações que sofreu pela produção.

Diretor justificou os maus tratos. "A morte dos animais, embora insuportável - principalmente na mentalidade urbana atual - sempre aconteceu para alimentar os personagens ou a equipe do filme, tanto na história quanto na realidade."

Cineasta acreditava que "Holocausto Canibal" não desrespeitou indígenas ao mostrá-los como canibais. "Faz parte da tradição deles. É uma coisa ancestral. Quando eles travavam uma batalha, o líder da aldeia perdida era morto e comido pelos vencedores. Faz parte do passado deles. Eles não negam isso."

Cenas de 'Holocausto Canibal' causaram repulsa no público - Divulgação - Divulgação
Cenas de 'Holocausto Canibal' causaram repulsa no público
Imagem: Divulgação

Qual foi a repercussão?

  • O diretor foi acusado de ter produzido um "snuff movie", gênero conhecido por mostrar assassinatos reais.
  • Com a veracidade das cenas, boatos diziam que o italiano tinha realmente matados seus atores. Os artistas tiveram que aparecer em público para provar estarem vivos.
  • "Holocausto Canibal" foi censurado em 50 países. A proibição de ser exibido no Reino Unido durou 20 anos.
  • A crueldade contra animais não foi esquecida e, em 2016, durante o MOTELX - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa, ele atacado verbalmente por membros do público que reclamaram dos maus tratos.
  • A reputação de Deodato ficou manchada e nunca mais ele conseguiu ter sucesso com um filme.
  • Em 2011, ele tentou retomar o sucesso de "Holocausto Canibal" com o lançamento do filme para DVD.
Ruggero Deodato em divulgação do DVD de 'Holocausto Canibal' - Divulgação - Divulgação
Ruggero Deodato em divulgação do DVD de 'Holocausto Canibal'
Imagem: Divulgação

Cena perdida.

Segundo o historiador Calum Waddell, "Holocausto Canibal" conta com uma "cena perdida", que nunca foi adicionada ao filme.

Como é a cena?

  • Um indígena é amarrado e jogado na água cheia de piranhas, que devoram sua perna.
  • Há apenas uma foto que teria sido feita da cena.
  • A gravação não está no corte final do filme.
  • Ruggero Deodato sempre desmentiu a existência do trecho, mas um figurante do filme confirmou a Waddell que a cena foi gravada.
  • Um homem local que não tinha uma perna teria sido usado na filmagem e piranhas vivas foram costuradas em uma prótese (mais um abuso animal).

Mesmo com as polêmicas, Ruggero Deodato é influência assumida de cineastas do calibre de Quentin Tarantino e Eli Roth. O cineasta dirigiu também filmes como "Contagem de Cadáveres" (1987), "Os Bárbaros" (1987) e "Deathcember" (2019), seu último trabalho nas telonas.

O italiano deixa um único filho, Saverio Deodato Dionisio, 50 anos, fruto de seu relacionamento com a conhecida atriz italiana Silvia Dionisio. Os dois se casaram em 1971 e permaneceram juntos por cerca de oito anos, separando-se em 1979.