'The Last of Us' prova que ainda há vida em histórias de apocalipse
O primeiro encontro entre Ellie (Bella Ramsey) e Joel (Pedro Pascal) em "The Last of Us" é relutante. Enquanto ela tenta provar que é uma inabalável dona de si, ele mostra de forma incessante o quanto está indisponível e indisposto. Mas ela é uma pré-adolescente curiosa e petulante, e assume o lugar que é seu mesmo a contragosto. Queiram ou não, eles terão que encontrar abrigo um no outro — e vão gostar disso mais do que poderiam imaginar.
De certa forma, o conflito de sentimentos reflete como se encontra a audiência, ou parte dela. Para quem é familiarizado com os jogos, errar com a adaptação de "The Last of Us" seria inadmissível. Existe a curiosidade misturada com um pouco de medo, uma relutância misturada ao inevitável destino de, ao menos, checar para garantir se as coisas estão no lugar em que deveriam estar.
A surpresa, neste caso, é positiva. Se tudo der certo, a HBO acumula mais uma grande saga de fantasia pronta para dominar as premiações, o público e os assuntos mais comentados nas redes sociais ao fim de cada domingo.
É boa comparada aos jogos?
"The Last of Us", a série é, antes de mais nada, fiel até os ossos ao game no que concerne à direção de arte. A construção dos cenários e a fotografia reprisam nos mínimos detalhes a sensação transmitida pelo jogo — de que houve destruição e estamos diante de uma realidade reorganizada na dinâmica entre natureza e civilização.
Mas essas questões são detalhes. Prédios e plantas parecidos, infectados com o mesmo visual e o mesmo nível geral de destruição até ajudam a compor o universo e mergulhar o espectador no sentimento de constante alerta que demanda a história. Ainda assim, o verdadeiro coração de "The Last of Us" não está ali.
A missão de interpretar Joel e Ellie não poderia ter caído em mãos melhores e mais competentes que as de Pedro Pascal e Bella Ramsey. O ator chileno, acostumado a viver figuras paternas relutantes por aí, entrega uma versão de Joel Miller que é uma espécie de continuação daquele do game. Não exatamente uma réplica, mas uma extensão.
Ramsey, por sua vez, apesar de interpretar Ellie com a mesma raiva presente no jogo, entrega com mais facilidade os seus traços de inocência e curiosidade voraz. Aos 19 anos, Bella capta com assustadora rapidez o que faz de Ellie uma personagem tão interessante. Doçura e intensidade se misturam de uma forma tão orgânica que a única reação possível é querer proteger aquela criança que foi obrigada a crescer rápido demais.
Qual é a história de "The Last of Us"?
A história é ambientada em um mundo pós-apocalíptico, e se passa 20 anos após a civilização moderna ter sido destruída a partir da mutação de um fungo que transforma os infectados em monstros canibais. Joel, um sobrevivente rígido e solitário, recebe a missão de levar uma garota de 14 anos para fora de uma zona de quarentena.
A jornada dos protagonistas, que começa com um trabalho aparentemente simples que Joel exerce a contragosto, logo mostra ser mais importante do que o homem previa inicialmente. Ellie e Joel criam uma conexão forte e emocionante, da qual depende a sobrevivência de todo o mundo.
É atraente para novos públicos?
Embora conquistar os fãs dos jogos seja, a olhos vistos, uma preocupação da série, o desenvolvimento da história não deixa outras parcelas do público para trás.
Os episódios da primeira temporada dedicam um tempo importante para que a audiência crie uma conexão com os personagens, e aqui não falamos apenas de Joel e Ellie. Tess (Anna Torv), Bill (Nick Offerman), Frank (Murray Bartlett) e muitos outros são tratados como muito mais do que coadjuvantes "não-jogáveis", e Neil Druckmann completa suas histórias com extensões apresentadas nos quadrinhos e até mesmo novos desenvolvimentos e backgrounds.
O resultado disso tudo é a construção de uma série que não se limita a ser uma ilustração dos jogos, tampouco está disposta a se distanciar deles o bastante para criar uma realidade paralela em que as duas mídias não dialogam. Trata-se de uma adaptação séria, que respeita o que foi criado antes e enxerga haver pontos fracos e fortes a ser explorados de forma diferente em cada um dos formatos.
Por isso, reúne os elementos clássicos de um drama familiar com a construção de ganchos de suspense que repetem o que as maiores séries recentes da HBO fazem de melhor: eles conseguem gerar conversas que, no boca a boca, podem levar a série muito longe.
A primeira temporada tem nove episódios, mas bastam dois para saber: procurando nos lugares certos, o formato seriado ainda sobrevive — e muito bem.
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