Hoje ocorre a final da 71ª edição do Miss Universo em Nova Orleans, no estado da Louisiana, nos Estados Unidos. O Brasil é representado pela capixaba Mia Mamede, que disputa o título de Miss Universo 2022 com outras 83 mulheres e busca quebrar um jejum de quase 55 anos sem títulos. Esta é a primeira edição do concurso sob coordenação de uma nova empresa, comandada por uma tailandesa, e após anúncios para a edição de 2023, que aceitará mães, mulheres casadas e divorciadas.
"Essas mudanças são extremamente positivas e significativas. Na minha opinião todos os outros grandes concursos internacionais deveriam seguir. Os tempos mudaram. [...] Eu inclusive aumentaria o limite de idade, como o Miss Supranational fez e agora é 32 anos", diz a Splash Henrique Fontes, editor do site Global Beauties. Apesar de não ter as mudanças nesta edição, a final hoje servirá de termômetro: "A expectativa mesmo vai ficar para a próxima edição que vai acontecer no final do ano, possivelmente, na Tailândia".
São quantas candidatas? 84 países disputam o título (o site do concurso indica 86, mas Cazaquistão e Letônia não estão em Nova Orleans. A Miss Letônia, Kate Alexeeva, disse a Splash que não competiu pois teve covid).
A franquia do Miss Universo foi adquirida por uma empresa comandada pela tailandesa Anne Jakrajutatip, a primeira mulher a deter os direitos do concurso internacional. Com ares de modernização, seu desafio será manter o concurso em alta em meio a perda de audiência no mercado americano.
"Tem um significado muito forte você ter uma mulher na presidência pela primeira vez e uma mulher trans, né?! [...] Ela vem falando muito sobre a importância das mudanças [que] aconteceram antes da entrada dela", lembra Fontes, que também é diretor do CNB (Concurso Nacional de Beleza) no Brasil. "Vai ter maior inclusão e diversidade", avalia o jornalista e comunicador colombiano Daniel Montañez Cruz, da página Missosology Colombia.
"Foi necessário o concurso mais emblemático ter tido essa mudança para que as pessoas [vejam] que um concurso com um olhar feminino entende melhor o que cada candidata e, posteriormente, Miss Universo, sente e sofre. Só uma mulher entende verdadeiramente o que outra mulher está sentindo", ressalta Luinara Menezes, professora e preparadora de misses na Signum Assessoria.
Para o social media Lucas Sigarini, criador da página Road To Miss USA, a nova dona do Miss Universo também serve de inspiração: "O fato dela ser uma mulher trans [no comando] pode inspirar muitas mulheres iguais a ela a competir". "A naturalização dos nossos corpos nesses espaços será fundamental para que daqui a não muito tempo possamos visualizar uma transexual ser eleita Miss Brasil Universo, por exemplo", corrobora a modelo Eloá Rodrigues, Miss Beleza T Brasil 2021.
O Miss Universo permite participação de mulheres trans desde 2012, mas até hoje só a espanhola Angela Ponce conseguiu chegar na competição, em 2018. Já há candidatas trans na disputa de estaduais do Miss Universo Brasil 2023, que virá com as mudanças recentes, garante a diretora do concurso, Marthina Brandt: "O Miss Brasil é definitivamente uma extensão do contrato e das regras do Miss Universo. Independente de achar necessário ou não as mudanças, sempre vamos respeitar a organização internacional".
As favoritas de 2022
Neste edição, o nível de competição está considerado alto. São vários destaques, mas um grupo de países das Américas sempre é citado: Colômbia, EUA, Porto Rico, Curaçao, Panamá, Peru e Venezuela.
"Desde que a Amanda [Dadamel] ganhou o Miss Venezuela [...] lá no ano retrasado, eu a via como uma candidata ao título e continuo vendo. Inclusive no Global Beauties, que tem 15 pessoas de diferentes países votando, ela se mantém em primeiro lugar desde o pré-arrival até a terceira lista de favoritas. Vejo a Venezuela como aquela candidata a ser batida", aponta o internacionalista Henrique Fontes.
Luinara também cita a venezuelana, ao lado da colombiana: "Dentro das Américas, Colômbia e Venezuela sempre estão com fortes candidatas e esse ano não seria diferente. María Fernanda e Amanda são completamente diferentes, mas igualmente competitivas e com potencial para ganhar. No continente americano eu destaco Panamá, que foi segunda colocada no Miss Mundo, Peru, Curaçao e acho que Brasil pode se sair bem também".
"República Dominicana surpreendeu muito. Curaçao que inclusive tem a mãe brasileira vem crescendo muito na competição. E asiáticas como Filipinas e Tailândia não podemos subestimar nunca. O bom de assistir ao vivo é que além da beleza conseguimos sentir a energia e o impacto de cada Miss", afirma Marthina, que está em Nova Orleans acompanhando a brasileira.
Na Europa, dois países citados são Itália e Portugal, além de França, que pode surpreender. Na África, Angola e África do Sul, país com forte organização nacional, também estão nas listas de apostas das classificadas.
"Neste ano considero que as candidatas mais fortes para o título são as representantes de Venezuela, Porto Rico, Tailândia, Colômbia e EUA. [...] Sinto que podem surpreender candidatas como Brasil, República Dominicana, Curaçao, Angola e Camarões. [...] Até este momento e com o grupo de favoritas que mencionei, acredito que não há uma clara favorita, porque não se sabe o que se busca a organização. No entanto, esse grupo cumpre os requisitos gerais e esse é o foco do favoritismo delas", declara o colombiano Daniel, que também está em Nova Orleans.
E o Brasil?
A brasileira não é tão citada no topo das listas de apostas, mas conta com sua boa comunicabilidade, domínio do inglês e personalidade.
"A Mia é uma mulher incrível, cheia de atributos e isso pode surpreender muito tendo em vista que os concursos hoje prezam por mulheres completas, além de um rosto bonito. Então acredito que o conjunto de tudo isso pode levá-la a avançar muito", avalia Eloá Rodrigues.
"Ela domina o idioma inglês como poucas", observa Henrique Fontes. "Eu acredito que ela pode vir aí e também chegar muito longe, quem sabe um Top 5. E, se chegar, pegando o microfone, por que não brigar pela coroa? Mas é um concurso forte".
"Ela é uma das grandes favoritas na internet? Não é. Mas isso não quer dizer nada. A Júlia Gama também não foi [na edição de] 2020 e quase chegou lá [na coroa], foi a 2ª colocada. [...] Eu acredito que um Top 16 ou 10 chega fácil e aí é uma disputa forte porque tem muita menina boa. Vai depender do desfile, da escolha do vestido, do magnetismo pessoal, do brilho do momento", completa.
Apostas
A pedido de Splash, Henrique Fontes compartilhou as apostas do site Global Beauties, em ranqueamento feito a partir de avaliação do desempenho das candidatas ao longo do concurso.
Top 16 do Miss Universo 2022 (em ordem): Venezuela (vencedora), Curaçao (vice), EUA, Porto Rico, África do Sul, Filipinas, Colômbia, Tailândia, Itália, República Dominicana, México, Jamaica, Peru, Portugal, Alemanha, Vietnã.
Transformações engatinhando
Enquanto o Miss Universo se esforçou nos últimos anos para se manter relevante, eleger mulheres empoderadas e se adaptar ao mercado, principalmente com a chegada da IMG, empresa que detinha os direitos do concurso até 2022, na prática ainda não se vê muito reconhecimento, nem mesmo por parte dos fãs, sobre as necessárias mudanças que deixam para trás um certo atraso.
"O legado que a IMG deixa para mim são de mulheres que de alguma forma deram um novo significado ao que é ser bonita, desde Pia Wurtzbach (2015) até HarnaazSandhu (2022), todas elas ensinaram que ser Miss Universo vai além dos requisitos básicos exigidos na era Trump [antigo proprietário até 2015]", afirma Lucas Sigarini.
A indiana HarnaazSandhu, eleita em 2021, sofre desde eleita com ataques e comentários sobre seu corpo, que já não é o mesmo desde a eleição, em dezembro de 2021. Ainda não está clara as motivações do seu ganho de peso, mas isso não deveria ser alvo de comentários, já que corpos diversos deveriam ser normalizados até mesmo nos concursos.
"Só existirá a normalização de um corpo não-magro, quando começarmos a combater de forma mais incisiva essa cultura em que estamos inseridos [de criticar o corpo alheio]. Infelizmente não sei se esse futuro está tão próximo", lamenta Luinara. "A atual Miss Universo, Harnaaz, [...] foi vítima de gordofobia por inúmeros meios de comunicação, mesmo não tendo um corpo plus-size, apenas por 'fugir do padrão' e não ter um corpo magro", recorda Lucas.
"Ter que falar isso em um contexto de concurso de beleza em que não há a normalização dos distintos corpos físicos é difícil, porque tradicionalmente os concursos dão limites às qualificações de beleza hegemônica ou tradicional que é o que indicará a eleição da vencedora", afirma Daniel Montañez.
Ele lembra o Miss Universo 2016, que tentou de certa forma mostrar diversidade, ainda que todos os físicos das candidatas eram de pessoas magras: "Penso que é um processo que fica para que as pessoas compreendam e normalizem que existem diferentes tipos de beleza. As marcas estão fazendo isso, uma delas é a Victoria'sSecret e seu popular desfile já não existe. Então sinto que o Miss Universo entendeu que ou se alinha a isso ou não tem [mais] futuro", finaliza.
Veja as 84 candidatas que disputam a 71ª edição do Miss Universo, nos EUA
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Mia Mamede, Miss Brasil
Mia Mamede, Miss Universo Brasil 2022, durante confinamento no Miss Universo
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