Concha de feijão? Serra? Influencer de necropsia revela como examina mortos
A médica patologista Adriana Prado, de 40 anos, trabalha em um Serviço de Verificação de Óbitos (SVO). O ambiente, que parece mórbido e assustador para muita gente, virou o cenário para seus vídeos nas redes sociais.
Ela revela bastidores e curiosidades de necropsias (os procedimentos de análise de cadáveres) para um público de quase 240 mil seguidores no Tik Tok. Mostra os equipamentos que usa — e, para leigos, parecem bizarros — além de revelar as surpresas ao examinar os corpos.
Seguidores enchem as publicações de comentários e dúvidas. Muitos não acreditam que certos materiais são usados dentro de um local para necropsia.
Entre os utensílios mais usados, segundo ela, estão concha de feijão, faca e amolador. A concha, por exemplo, é usada para retirar líquido das cavidades, como na região pleural (entre o pulmão e as costelas) ou abdominal.
Para outros seguidores, o mais impressionante é a presença de uma serra elétrica no SVO. O equipamento é usado para abrir o crânio, quando é necessário esse tipo de investigação.
A médica ainda responde como são armazenados os corpos em câmaras frias. E soluciona dúvidas que muita gente tem — e não sabe para quem perguntar: "o que vocês fazem para [o cadáver] não ficar com cheiro ruim?"
Órgãos invertidos
Ao longo de mais de 20 anos de profissão, a médica conta que já viu de tudo. Ela nunca esquece quando, ao realizar uma necropsia, visualizou órgãos invertidos. "Era como se eles fossem espelhados. Tudo invertido."
Diagnósticos que não foram feitos nos hospitais também chamam a atenção.
Muitos casos me surpreendem. Casos de pacientes já internados e quando não conseguem desvendar lá, mandam para a gente. Há uma hipótese de diagnóstico e, quando vamos ver, foi algo que ninguém pensou e acaba passando por vários médicos. É um aprendizado
Adriana Prado, médica patologista
Adriana não trabalha sozinha. No SVO, na maioria das vezes, quem faz o "trabalho mais pesado" são os técnicos de necropsia. "Eles abrem e eu analiso os órgãos."
E, apesar de parecer a mesma coisa, o trabalho de um médico patologista no SVO é bem diferente do de médicos legistas, que atuam no IML (Instituto Médico-Legal).
No SVO, os corpos só são submetidos à necropsia se a pessoa morreu de forma natural.
A escolha é da família. Às vezes acontece de o paciente ter histórico de hipertensão, mas morreu subitamente. Fazemos necropsia para investigar e fornecer dados estatísticos para a Vigilância Sanitária
Adriana Prado, médica patologista
Já para o IML, o corpo é encaminhado em caso de morte por causa externa.
Conforto para família
Além de ajudar a fornecer dados para a Vigilância Sanitária, o trabalho também dá conforto às famílias das vítimas. A revelação da causa da morte ajuda os parentes a lidar com o luto.
Muitas pessoas querem saber por que a pessoa morreu. Já tem todo o luto de perder, você nem sabe por que foi. [A revelação] acaba dando uma acalentada
Adriana Prado, médica patologista
Algumas investigações feitas por ela e colegas desvendaram mortes inesperadas ou estranhas. Uma delas, por exemplo, envolveu um adolescente que morreu em uma cidade com pouco acesso à saúde.
"Ele começou com sintomas neurológicos e acabou morrendo de morte encefálica. A princípio, acreditavam que o jovem havia batido a cabeça", lembra Adriana.
Depois de uma investigação mais precisa no SVO, os médicos conseguiram descobrir a causa real. "Viram que era meningite. Lembro que a mãe falava que ele não poderia ter batido a cabeça."
'Fico mal quando é criança'
Indagada se não se sente mal com esse tipo de trabalho, ela diz que não vê problemas e conta que a vocação vem de família. Adriana foi influenciada desde pequena pelos pais a cursar medicina. Além do SVO, ela também trabalha como professora universitária em Mato Grosso.
Costumo falar que eu nunca faria necropsia em uma pessoa conhecida. Não sendo alguém que conheço, encaro como um trabalho. A gente não se atenta à fisionomia, face e outros. Fico meio mal quando é criança
Adriana Prado, médica patologista
Nas redes sociais, a profissional afirma ter cuidado para não expor nenhum corpo ou funcionário que não queira aparecer. "Nosso conselho proíbe mostrar um serviço, mas não tem problema algum mostrar uma câmara fria, por exemplo."
E, quando as pessoas se surpreendem com a proximidade que ela tem, todos os dias, com cadáveres, Adriana repete a frase já popular: deveríamos ter mais medo dos vivos do que dos mortos.
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