'The Last of Us': um bom começo para uma excelente adaptação
O que faz uma série de sobrevivência ser cativante? A primeira regra, que funciona para qualquer tipo de produção, é que precisa haver algo que faça o público se conectar aos personagens. Seja através de uma dor em comum, de uma alegria compartilhada ou do mínimo de empatia, essa conexão é essencial para que a audiência sinta vontade de continuar acompanhando a história.
E o primeiro episódio de "The Last of Us" acerta este alvo com uma mira impecável.
Antes do início da infecção que transformou o mundo radicalmente, a série nos mostra um primeiro vislumbre de Joel (Pedro Pascal), em uma versão mais doce e bondosa do que aquela que virá um pouco mais adiante. Neste primeiro momento, em que a atração mostra a eclosão da epidemia e o surgimento dos primeiros infectados, conhecemos a origem de todo o trauma de Joel: Sarah.
Interpretada por Nico Parker, Sarah é a filha de Joel. Ela é uma jovem doce e delicada, com um relação bastante afetuosa e sincera com o pai. Além de Tommy (Gabriel Luna), irmão de Joel, os dois têm apenas um ao outro na vida.
Sentir a emoção e o baque deste momento da história, em que a vida simples de Joel e Sarah é arrancada do lugar sem o mínimo de preparo, é importante para que o público compreenda a forma como o mundo virou de cabeça para baixo de uma hora para outra.
É neste momento também, na fração de segundos que tira a vida de Sarah, que a forma de Joel enxergar a realidade se transforma. É ali que ele se torna um homem mais endurecido e distante, que vê o lado prático da sobrevivência antes de qual possível conexão emocional. E é essa a característica que vai criar uma relação tão conturbada com Ellie ao longo da série.
Em termos de estrutura, o episódio segue a cartilha do início do primeiro jogo. A favor da narrativa, ele estende um pouco mais a breve passagem de Sarah, mas segue quase à risca determinadas cenas mais cruciais da eclosão da epidemia.
Como um bom piloto, é claro, o episódio se presta a responder às principais perguntas e estabelecer em termos muito claros qual é a premissa que vai conduzir os episódios seguintes. A personalidade de desaforada de Ellie e a frieza da organização social do mundo após os infectados ficam muito claros, assim como os sentimentos conflitantes de Joel ao aceitar levar a garota consigo.
Por isso, para quem teve medo de eventuais alterações, o primeiro episódio consegue acalmar os nervos e deixar claro que há um grande respeito pelo material de base — ainda que expansões e algumas transformações naturalmente estejam no caminho, pois fazem parte de qualquer adaptação.
Mesmo assim, o episódio também tem abertura o suficiente para que novos públicos se familiarizem com a história. Ainda estamos no início de janeiro, mas a HBO abre o ano com uma forte concorrente a figurar nas listas de melhores de 2023. Um começo e tanto.
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