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'Sexualidade animal': Picasso era gênio dominado pela masculinidade tóxica

"As Mulheres de Argel", de Pablo Picasso - South China Morning Post via Getty Images
'As Mulheres de Argel', de Pablo Picasso Imagem: South China Morning Post via Getty Images

De Splash com Deutsche Welle

22/01/2023 04h00

O legado do pintor espanhol Pablo Picasso inclui da genialidade artística à masculinidade tóxica. Em sete décadas de abundante atividade artística, ele criou milhares de pinturas e esculturas em muitos estilos de vanguarda. E ele continua sendo um dos artistas de maior sucesso em leilões em todo o mundo: suas obras são avaliadas em centenas de milhões de dólares.

  • O quadro "Mulher sentada perto de uma janela" foi vendido por US$ 103 milhões (cerca de R$ 523 milhões) pela Christie's, em Nova York, em maio de 2021;
  • Em 2015, suas "Mulheres de Argel" foram arrematadas por US$ 179 milhões (R$ 908 milhões).

Em 2023, um programa cultural internacional marcará os 50 anos da morte do famoso artista. Sob o título "Picasso Celebration 1973-2023", serão realizadas exposições especiais não apenas em seu país natal, a Espanha, mas também na França, Alemanha e Estados Unidos, entre outros países.

No entanto, embora o gênio artístico de Picasso seja incontestável, aqueles que revisam seu legado passaram a debater cada vez mais sua misoginia após o movimento #MeToo.

Um prodígio da pintura

  • Picasso nasceu em 25 de outubro de 1881 em Málaga, no sul da Espanha;
  • Seu pai, Don Jose Ruiz y Blasco, ganhava a vida pintando pássaros e animais e lecionando como professor de arte. Ele começou a ensinar desenho ao filho quando este tinha apenas 7 anos de idade;
  • Aos 13 anos, Picasso começou a estudar na escola de belas artes de Barcelona, a Escola de la Llotja, onde seu pai também lecionava;
  • Dois anos depois, pintou sua primeira pintura a óleo em grande escala, chamada "Primeira comunhão", para uma exposição na cidade. O quadro é considerado sua primeira obra-prima;
  • Em 1897, foi para a Real Academia de Belas Artes de San Fernando, em Madri, mas preferiu estudar obras de arte no Museu do Prado, onde observou de perto as pinturas de Diego Velázquez, Rembrandt, Johannes Vermeer e Francisco Goya;
  • Picasso mudou-se para Paris no início de 1900.

Fases artísticas. Sua vida artística pode ser dividida em várias fases. A primeira, conhecida como Período Azul, durou de 1901 a 1904 e é amplamente reconhecida como desencadeada pelo suicídio do poeta espanhol Carles Casagemas, amigo de Picasso.

Seguiu-se o Período Rosa (1904-1906), com Picasso pintando em tons de rosa, azul-claro e laranja. Foi quando concluiu "Retrato de Gertrude Stein", pouco depois de conhecer a escritora americana. Essa fase é amplamente descrita como uma época mais feliz da vida do artista, e é nesse período que ele conhece Fernande Olivier, uma artista francesa que mais tarde se tornou sua musa e amante.

Aventurando-se no cubismo. Com seu controverso "As meninas de Avignon" (1906-1907), Picasso ganhou fama mundial como um líder da arte moderna. A distorção bizarra das formas do corpo feminino acabou com todas as noções anteriores de perspectiva. A pintura é vista como uma obra pioneira do cubismo.

Juntamente com Georges Braque, Picasso desenvolveria o cubismo nos anos seguintes.

Posições antiguerra

  • Entre as obras mais famosas de Picasso está "Guernica" (1937);
  • A pintura se tornou sinônimo de manifestação contra a guerra. Ele a pintou em reação ao bombardeio nazista da cidade basca no norte da Espanha, ordenado pelo general Franco.
  • Ao usar elementos cubistas, "Guernica" também marcou a passagem do pintor para o surrealismo;
  • Outros trabalhos antiguerra incluem "O ossário" (1944-45), relacionado ao Holocausto, e "Massacre na Coreia" (1951), bem como as pombas da liberdade, um motivo que o atraía desde criança.

A masculinidade tóxica de Picasso. Nos últimos anos, e especialmente na esteira do movimento #MeToo, as atitudes misóginas de Picasso em relação às suas amantes vêm sendo examinadas minuciosamente. Comentaristas de arte, como Shannon Lee na revista Artspace, acreditam que a misoginia de Picasso precisa ser recontextualizada em sua obra.

O próprio Picasso observou que toda a sua obra poderia ser categorizada em sete estilos distintos, cada um como documento de sua relação com as sete mulheres em sua vida ? Fernande Olivier, Eva Gouel, Olga Khokhlova, Marie-Thérèse Walter, Dora Maar, Françoise Gilot e Jacqueline Roque.
Shannon Lee

Picasso, escreve Lee, "criou uma vida excepcionalmente miserável para quase todas as mulheres que afirmava amar". Lee também cita a neta de Picasso, Marina, que escreveu Picasso, meu avô (2001): "Ele as submeteu à sua sexualidade animal, domou-as, enfeitiçou-as, ingeriu-as e as esmagou em suas telas. Depois de passar muitas noites extraindo sua essência, uma vez sangradas, ele as descartaria."

Picasso se retratou como o mítico Minotauro em várias de suas pinturas; suas musas eram vítimas de agressão bestial.

Honestamente, hoje em dia, é muito difícil se sentir mal por um cara que desenha uma versão mitológica de si mesmo como uma 'fera' literalmente estuprando mulheres em inúmeras ocasiões.

  • Françoise Gilot, uma artista por quem Picasso se apaixonou enquanto mantinha um relacionamento com Dora Maar, é vista como a exceção à regra;
  • Gilot lhe deu dois filhos, Claude e Paloma, e é considerada a única mulher que deixou Picasso;
  • Aos 81 anos, ele se casou com sua segunda esposa, Jacqueline Roque, 46 anos mais nova que ele. Eles viveram juntos até ele morrer. Ela cometeu suicídio logo depois.

Os últimos anos

  • Os últimos anos de Picasso foram caracterizados por um frenesi de atividade artística e uma expressão da obsessão do artista pelo erotismo, de acordo com o site do Museu Picasso de Paris;
  • Em 1969, uma exposição no Palais des Papes, em Avignon, desencadeou um escândalo pelo erotismo das pinturas e seus formatos gigantescos;
  • Em 1972, o artista parecia estar se preparando para a morte: ele criou uma série de retratos com a cabeça substituída por uma máscara, às vezes assumindo a aparência de uma caveira com ossos cruzados;
  • Picasso morreu em 8 de abril de 1973, em Mougins, perto de Cannes.