'Morri com ele e renasci': como viúva de Erasmo Carlos lida com o luto

Fernanda Esteves, 32, não está acostumada a aparecer. Tímida e preocupada em "falar alguma besteira", a viúva de Erasmo Carlos se policia ao tempo todo e tenta ao máximo não se expor.

O medo tem motivo: a jovem pedagoga teve um relacionamento de 12 anos com um dos maiores artistas brasileiros. Para ela, uma palavra errada ou uma vírgula mal interpretada são passíveis de manchar a reputação irretocável do marido, que morreu no último dia 22 de novembro, aos 81 anos.

Erasmo era um romântico e fazia questão de dizer a todo momento o quão grande era sua paixão por Fernanda. Eram publicações em redes sociais, demostrações de afeto em público, e outras várias maneiras de mostrar à amada o tamanho de seu amor.

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Em um vídeo publicado pela esposa, Tremendão aparece no meio da rua, sem vergonha alguma, gritando "Eu amo a Fernanda".

Já a pedagoga ia na contramão do marido e matinha a conta de seu Instagram fechada - apenas para amigos - até a morte de Erasmo Carlos. Hoje, Fernanda publica fotos do casal com longas legendas expondo sua saudade. Por sinal, agora ela adotou o sobrenome do amado, Esteves.

Enlutada, a jovem mudou sua perspectiva do que era público e o que era privado. "Na época da faculdade, por exemplo, eu não falava muito sobre ele. Eu protegia muito a nossa relação", disse em entrevista exclusiva a Splash.

Segundo conta, houve dissabores quando publicou as primeiras fotos dos dois. Pessoas deixavam comentários falando sobre a diferença de idade - 49 anos - e diziam que Fernanda era interesseira. "Ele gostava muito mais dessa coisa de colocar foto do que eu. Não que eu não gostasse, só que eu protegia a gente porque eu tinha tido experiências ruins. Tirava as fotos, arquivava, não deixa muito porque não queria contaminar a nossa relação."

"Colocava nos dois em uma redoma. Era uma coisa que a gente vivia tão bem e eu não queria dar essa liberdade para ninguém, embora eu ache que você postar uma foto não dá a liberdade de nada."

Eu não queria que as pessoas se sentissem no direito de profanar a minha relação de jeito nenhum.

Quando a esposa resolvia superar o medo da exposição, Tremendão ficava "orgulhoso". "No dia 15 de outubro [de 2022], eu escrevi um texto gigante para ele e mandei no WhatsApp. O Erasmo gostou muito e eu tirei só um fragmento do que estava escrito e publiquei uma foto com 'meu lar' na legenda. Ele ficou todo orgulhoso, ficava entrando na postagem toda hora para olhar os comentários."

Dias depois, em 17 de outubro, o cantor foi internado no hospital Barra D'or, no Rio de Janeiro, e Fernanda viu na exposição uma maneira de criar uma rotina com o marido. "Continuei postando coisas para ele. Eu sou muito consumida pelas coisas que estão acontecendo, então eu acabava escrevendo diariamente para ele. Eu sempre lia para ele ou ele lia e gostava."

"Quando ele morreu, que teve essa ruptura, aquele foi mais um canal nosso que eu quis manter. Eu queria falar com ele, sobre ele, falar dele para ele, da minha visão do Erasmo, porque era uma coisa que eu já fazia no dia-a-dia."

Com o tempo, o medo da exposição se tornou um alívio. "Meu terapeuta perguntou: 'você deixou de falar alguma coisa para ele?'. Eu disse: 'não! Nunca deixei de falar nada, até publicava.' Eu falava até demais, me repetia muito porque eu gostava de falar e gostava que ele soubesse como eram as coisas."

Focada nas boas lembranças, Fernanda Esteves enviou a Splash suas fotos favoritas de Erasmo Carlos.

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Fernanda Esteves enviou a Splash as fotos favoritas do marido

Arquivo Pessoal

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Fernanda Esteves teve um relacionamento de 12 anos com Erasmo Carlos

Cristina Granato

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Esta era o papel de parede do celular de Erasmo

Arquivo Pessoal

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Tremendão gostava de expor o seu amor por Fernanda

Arquivo Pessoal

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A pedagoga de 32 não era como o marido e não usava tanto as redes

Arquivo Pessoal

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'Ele ficou todo orgulhoso, ficavam entrando na postagem toda hora para olhar os comentários porque gostava muito disso', conta a viúva sobre uma postagem com uma foto dos dois

Arquivo Pessoal

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Erasmo Carlos era um dos principais nomes da Jovem Guarda

Arquivo Pessoal

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'Colocava a nossa relação em uma redoma', contou Fernanda a Splash

Arquivo Pessoal

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Tremendão era divertido e muito bem humorado

Arquivo Pessoal

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Fernanda adorava fotografar o marido: 'Ele era um ótimo modelo'

Arquivo Pessoal

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Erasmo Carlos e Fernanda tinham uma diferença de idade de 49 anos: 'Nunca foi um problema'

Arquivo Pessoal

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'Erasmo adorava essa foto…', conta a viúva

Arquivo Pessoal

'Relação em curso'

A terapia, as publicações no Instagram e a conversa com pessoas próximas são ferramentas usadas por Fernanda para tentar superar o luto. No entanto, esta não foi a primeira vez que a pedagoga lidou com o sentimento.

"Tive outro luto, o do meu tio. Ele era um amor para mim e morreu em 2017. Fiquei arrasada, não conseguia conceber aquela perda. Mas eu tinha o Erasmo comigo e ele me dava muito suporte. Assim, fui achando meios de lidar com a morte. Eu achava que tinha que ir lá, ver minha tia, conversar, falar sobre as coisas e isso foi ótimo. Eu encarei com o luto dessa maneira."

Agora, sem Erasmo, Fernanda tenta entender como com a ausência. "Eu não consigo encontrar companhia para esse luto. Lembro que, quando eu o perdi, lá no hospital mesmo, eu ficava procurando em quem me segurar. Eu ficava procurando uma pessoa, apesar de saber que ninguém ia substituir e que ninguém podia fazer nada por mim."

"Aquilo era extremamente solitário. Eu ficava procurando alguém que me falasse alguma coisa, alguém que me desse direcionamento. Claro que isso não aconteceu e eu falei 'poxa, vou ter que lidar com isso sozinha, à minha maneira', e tem sido assim desde então."

Durante o período de internação, ela se manteve positiva de uma melhora do marido, que sofreu uma síndrome edemigênica.

Era uma relação em curso que foi interrompida e foi em um momento em que eu não esperava.

A Splash, conta que não é uma pessoa religiosa e, por isso, sofreu pressões externas de como deveria lidar com a morte, seja em suas publicações, ou no velório. Para Fernanda, viver o luto de uma pessoa famosa torna tudo mais difícil, "mas eu não culpo os fãs".

Quanto ao próprio sentimento de perda, a viúva não sabe o que achar. "Pode ser que dura uma vida inteira."

Passado

Erasmo Carlos foi casado uma vez e teve três filhos antes de conhecer sua última esposa. No entanto, ter um passado não chega nem perto de incomodar Fernanda. "Eu sou extremamente curiosa e ele me falava tudo."

"Ele sempre foi uma pessoa discreta e, depois do primeiro casamento dele, eu fui o único relacionamento que ele assumiu publicamente. Sei que foi muito namorador e para mim está tranquilo porque muitas dessas coisas aconteceram antes de eu nascer."

A viúva conta que sempre teve respeito pelas histórias de Tremendão, e admirava como o marido lidava com o passado. No entanto, assume que o que realmente importava para era o que eles estavam vivendo. "Eu reinei tranquilamente na vida dele", brinca.

Daqui para frente

O futuro é algo incerto para Fernanda. Não há planos. Tudo era feito com Erasmo; as ideias eram criadas em conjunto. Agora, ela precisa aprender e entender qual é o seu caminho sozinha.

"Eu morri com ele e renasci. Tenho apenas poucos meses de vida agora e não sei o que fazer. Estou aprendendo a andar, falar, comer sem ele. Estou estreando na vida agora. Tenho que me entender como uma pessoa sozinha e entender essa solidão e transformá-la."

"Preciso parar e projetar o que fazer, mas eu me saboto porque parece que eu o estou traindo. Quando programo pequenas coisas, como um jantar com uma amiga sem ele? Como assim? Então, falar com ele todos os dias, em casa ou nas redes, é uma tentativa de diminuir essa minha culpa e tudo mais. Vou trabalhando nessas coisas pequenininhas e não sei o que vai dar."

Para ela, Erasmo Carlos era quem dava sentido a sua vida. "Preciso encontrar novos rumos e significados. Isso tudo, sozinha."