Petista, Betti diz mandar mensagens para Kis: 'Não dá para ficar inerte'
Paulo Betti, 70, surpreendeu ao aparecer como o Coelho do The Masked Singer Brasil no último domingo (22). Primeiro desmascarado da competição, ele está feliz com os comentários elogiosos que tem recebido após cantar no programa da Globo — já que apareceu sem se envolver em um debate mais acalorado.
"A Dadá (Coelho, namorada) fala que o programa é uma pauta positiva. Não sou eu em uma polêmica", diz, aos risos.
Isso porque o ator não se omite quando o assunto é política. Ligado ao PT desde a década de 1980, ele participa de manifestações populares e expõe o que pensa. Após mais de 50 anos de carreira, ele não quer se calar diante do que considera errado e das mentiras propagandas nas redes sociais.
É uma luta para combater a burrice extrema.
Essa luta diz respeito a notícias falsas em diferentes temas: cultura, educação, racismo e povos originários. Filho de uma empregada doméstica e um servente, ele diz ter crescido em um miniquilombo e ser tocado por esses assuntos. Por isso, usa o Instagram para desmentir que os yanomamis em estado de vulnerabilidade em Roraima são venezuelanos que vieram ao país — fake news que circula atualmente em grupos bolsonaristas.
"Tenho 70 anos e gosto de falar. Me envolvi na campanha do Lula, fui nos quatro grandes atos no Rio contra o governo Bolsonaro. Não dá para ficar inerte diante de tragédias. Eu poderia ter o triplo de seguidores (no Instagram) se fosse neutro e publicasse coisas mais suaves, mas não dá para deixar de falar o que acontece com os índios yanomamis por exemplo."
Ele rebate, inclusive, amigas atrizes como Regina Duarte e Cássia Kis, que geralmente publicam fake news. "Conheço a Regina pessoalmente. Tenho conexão com a Cássia no WhatsApp e digo a ela o que estou achando. Não sei se é perda de tempo...
Respeito as pessoas, mas é quase uma missão trabalhar contra as notícias falsas", afirma.
Para ele, as mentiras são perigosas e podem ser decisivas para o futuro de um país. "Os burros venceram na Inglaterra, com a saída do país da União Europa, o mesmo nos EUA, com a eleição do Trump, e no Brasil, com a vitória do Bolsonaro em 2018. Como o Brasil escolheu Bolsonaro, alguém que é a mentira escarrada, e não o Haddad? Eu realmente gosto da disputa eleitoral, gosto desses choques de ideia, mas antes a gente tinha PSDB e PT, agora a gente está diante da barbárie".
Ele enxerga o início de 2023 como um momento de esperança, alegria e alivio após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas depois de quatro anos de governo Jair Bolsonaro (PL). "Feliz de ver o Lula junto dos yanomamis em vez de fazer motociatas por aí", comenta.
O ator conta que já pensou ser político nos anos 90, mas hoje a hipótese é descartada. Em 1992, saiu uma foto dele no Jornal do Brasil como possível candidato depois dele participar da campanha de Lula em 1989.
"Fiquei empolgado para ser deputado federal. Saí de bicicleta, passando por uma ponte na Barra da Tijuca, tinha o peixeiro que eu sempre acenava. Naquele dia, eu desci na bicicleta e fui até ele para abraçá-lo pensando em quantas pessoas que ele podia trazer para a candidatura. Percebi que não daria certo (risos). Adoro fazer campanha, participar de eventos, comícios, ir a manifestos, mas não ser politico profissional."
Volta do MinC e investimentos na cultura
Paulo Betti vê com alegria o retorno do Ministério da Cultura, rebaixado a secretaria durante o governo de Jair Bolsonaro, e maior investimento para "bombar o cinema nacional".
"Que a gente possa retomar o processo cultural interrompido. Havia perseguições pontuais para lançar filmes de Lázaro Ramos e Wagner Moura. A perseguição ao artista é a primeira coisa se instala, o (Michel) Temer quis acabar com o MinC antes, mas nós ocupamos prédios públicos no Rio. Fizemos o Ocupa MinC, ninguém quebrou nada, ocupações pacificas."
Quando Margareth Menezes foi indicada como ministra da Cultura, o ator notou não só um preconceito racial, mas também contra o fato de ela ser artista.
Falaram que ela devia ser só cantora, que deveria ser um gestor no ministério. Por que o artista não pode ser gestor? Como se fossemos incapazes. Apoiei a Margareth imediatamente.
Motivo de críticas por bolsonaristas, o ator acredita no diálogo para aprimorar a Lei Rouanet. "A Lei Rouanet precisa ser mexida em alguns aspectos. Os artistas conhecidos têm mais chance de mobilizar as grandes empresas. Isso tem que ser mexido. O dinheiro não deveria ser mexido pelo marketing da própria empresa, mas sim pelo governo".
Ele lamenta a desinformação em torno da lei. "A última discussão é que a Claudia Raia recebeu R$ 5 milhões para fazer dois musicais... Ela teve um projeto aprovado para captar dinheiro para fazer dois espetáculos. Quantas pessoas trabalham em um musical? Qual é essa estrutura? As pessoas não querem averiguar isso. A lei é muito rigorosa, os projetos passam por escrutínio de pareceristas que entendem do assunto", explica.
"Já aconteceu comigo também. Teve uma época que eu assinava o orçamento da Casa da Gávea — antigo centro cultural não governamental. Se você entrar no site do ministério, vai dizer que tinha um projeto de R$ 1 milhão nos anos 2000. Memes afirmam que captei esse valor. Teria sido maravilhoso, mas não conseguimos. Foi só R$ 300 mil e não bastava para sustentar a Casa. Tínhamos curso de leitura, formação de ator, discussão de projetos... Era trabalho voluntario, eu não recebia. Para os bolsonaristas, isso não é importante. Como você vai explicar para essas pessoas?".
Vida aos 70 tem novela, teatro... E casamento?
Paulo Betti se prepara para voltar às telinhas em 2023. O ator está escalado para "Amor Perfeito", próxima trama das 18h. "Faço o papel de um prefeito. É uma novela interessante, vem com metade do elenco negro. Isso, para mim, é uma alegria imensa. Estar em um trabalho que tem essa preocupação é estimulante"
Também planeja produzir a continuação do monólogo "Autobiografia Autorizada", peça que existe há quase nove anos, e não descarta atuar em novos filmes. "Quero fazer a 'Autobiografia Autorizada 2'. A primeira parte conta a minha infância e adolescência. A segunda será na atualidade: faculdade na USP durante a ditadura, novelas, causas políticas, participação em campanha de Lula... Temas atuais com humor."
Ele vive há sete anos com a humorista Dada Coelho e sente que o momento de formalizar a união pode estar próximo. Os dois viralizaram em 2021 quando o ator pediu a humorista em casamento durante uma manifestação no Rio de Janeiro contra o então governo Bolsonaro (PL).
"Ela é mais prudente que eu, mas estivemos em todas as manifestações juntos. Ela é nordestina, veio do Piauí, e tem muitas causas para discutir porque o nordestino sofre muito preconceito."
Estamos juntos há sete anos e agora temos de planejar o nosso futuro. Talvez seja a hora de pensar nessa formalidade.
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