Autora de livro sobre a Boate Kiss rebate críticas: 'Silenciamento'
Importante ou desnecessária? Estreia hoje a série "Todo Dia a Mesma Noite", obra de ficção da Netflix que retrata o incêndio da boate Kiss, ocorrido na madrugada de 27 de janeiro de 2013. O drama, inspirado no livro homônimo de Daniela Arbex, foi alvo de críticas nas redes sociais antes mesmo da estreia, com algumas pessoas questionando se a obra não estaria usando a dor para gerar entretenimento.
Daniela Arbex e a diretora-geral da série, Julia Rezende, conversaram com Splash e opinaram sobre o debate. As duas defendem a abordagem da atração e apontam a origem deste receio de uma parcela do público.
O audiovisual mundial foi construído a partir de acontecimentos reais. De Titanic ao World Trade Center, a dezenas de filmes sobre a Segunda Guerra Mundial.
Julia Rezende, diretora-geral de 'Todo Dia a Mesma Noite'
"Muitos filmes brasileiros também já foram feitos a partir de personagens reais ou acontecimentos. Então, eu acho que querer recusar isso, primeiro, é uma bobagem. Depois, é uma forma de silenciamento", contextualiza.
"O que a gente está fazendo aqui é dar voz a esse acontecimento, não deixar cair no esquecimento. Acho que a gente precisa que as pessoas saibam do que aconteceu ali. Famílias foram processadas pelo Ministério Público. Isso é um acontecimento inacreditável, e ninguém sabe", desabafa.
Daniela concorda, e acredita haver uma visão coletiva incorreta sobre a melhor forma de se abordar o assunto da Kiss.
"A gente precisa muito trabalhar essa ideia equivocada de que não falar poupa os pais do sofrimento. Não falar não é uma opção. Esquecer é negar a história. E que pai e que mãe quer que o seu filho seja esquecido? Pedir superação é uma total falta de empatia com a dor do outro."
Quando escreveu o livro que originou a série, Arbex falou algumas vezes à imprensa sobre como foi um processo doloroso. Hoje, ela enxerga que não deve se colocar na posição de sofrimento, e sim de contadora de uma história.
"Existe uma narrativa frágil de dizer que vai tocar, vai causar dor. Não! Não falar é o que causa sofrimento. Não falar é que permite que outras tragédias como essa aconteçam no Brasil."
Nosso papel, enquanto jornalistas e construtores de histórias, enquanto pessoas que trabalham no audiovisual, é exatamente mostrar o quanto é longo o caminho para a Justiça no Brasil. A última opção aqui é não dizer.
Daniela Arbex, autora de 'Todo Dia a Mesma Noite'
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