Cracolândia e hospitais: preparação de Colin como usuária de droga em série
Pelo menos 35 milhões de pessoas sofrem transtornos ligados à dependência química no mundo, segundo relatório da ONU de 2021. O assunto é tema principal da série Onde Está Meu Coração, que estreia amanhã (31) na Globo, logo depois do BBB 23.
Em conversa com Splash, a atriz Letícia Colin conta como se preparou para viver a Dra. Amanda, uma jovem cardiologista que sucumbiu ao usar crack em São Paulo. Para viver a protagonista, ela viu de perto como a rotina de médicos em hospitais de São Paulo, fez oficinais de primeiros socorros e acompanhou cirurgias.
"Fiz uma vivência hospitalar, tanto no Hospital das Clínicas quanto no InCor. Fiquei assistindo algumas cirurgias para pegar um pouco desse espírito que a Amanda teria que ter. Ela trabalhava numa unidade de pronto-socorro de emergência. Quem me ajudou muito foi o Dr. Roberto Calil, que é cardiologista assim como a Amanda. É um médico que abriu as portas tanto do consultório como dos ambientes hospitalares."
Além disso, para entender a dependência química de Amanda, ela participou de reuniões dos Narcóticos Anônimos, conversou com ex-dependentes e visitou a cracolândia algumas vezes, onde se emocionou.
Foram grandes relatos que mudaram a minha vida, uma experiência muito intensa. Um lugar onde tem muita gente em sofrimento e muita gente disposta a trabalhar voluntariamente para ajudar aquelas pessoas com dignidade.
"Entendi sobre o processo de redução de danos, que é realmente a alternativa e o caminho para a recuperação do dependente. É o que funciona no mundo inteiro, nos países que conseguiram erradicar, como a Holanda, há uma política de drogas mais contemporânea, não é aquela coisa de antigamente, que está muito conectada com os valores religiosos ou teológicos."
A Dra. Amanda é uma mulher branca, médica e de classe média alta — diferente do estereótipo em torno do dependente químico. Ela se sente sufocada pelo idealismo e sua autoexigência na emergência do hospital em que trabalha, além de notar que o casamento com Miguel (Daniel de Oliveira) passa por um momento de desencontro.
Esse trabalho, que está disponivel no Globoplay desde 2022, rendeu a Colin a indicação de melhor atriz no Emmy Internacional, mas ela também destaca o trabalho "ousado" da diretora Luísa Lima e dos parceiros de cena.
"É uma série com grandes atuações. A Mariana Lima, a minha mãe na série, é uma das maiores atrizes do Brasil. Quem viu no Globoplay, sempre destaca a atuação dela, porque aquela relação de mãe e filho é uma coisa muito comovente. O Fábio Assunção, um ator que a gente ama assistir, além do talento, trouxe a história de vida dele (de luta contra as drogas) que a gente sabe. O Daniel de Oliveira é um cara que eu sempre sonhei em trabalhar."
Questão de saúde pública
Atriz defende que é preciso fortalecer as políticas públicas para auxiliar dependentes químicos a deixarem o vício e a vulnerabilidade, além de mostrar que o tema deve ser tratado como uma questão de saúde.
"A gente precisa evoluir nesse diálogo sobre a dependência química, olhar para esse assunto com menos preconceito e com mais empatia e respeito. Acho que a gente precisa abraçar a questão da dependência como uma questão de saúde, porque o nosso país muitas vezes é levado como um problema de polícia, um problema de segurança, e não é sobre isso, ela é uma doença como outra doença.
Colin vê a obra como uma "ferramenta de mudança" e acredita que a série também pode ajudar a ampliar o debate na sociedade com a audiência da TV aberta. Por estar no streaming, ela já recebeu diversos depoimentos de pessoas que diziam o quanto a série tinha ajudado a familiares ou amigos.
"Nosso trabalho e corpo sempre serão políticos. A TV aberta tem muito poder, ainda mais um povo como o nosso, que gosta tanto de se envolver com obras dramatúrgicas... E, na verdade, as drogas estão no nosso mundo o tempo todo. A gente fala muito do crack, mas as portas de entrada são várias. O álcool, que circula livremente na nossa sociedade, o tabaco, os remédios. Tudo em excesso gera essa descompensação."
Ela nota que o problema da dependência química vem se espalhando em cidades como São Paulo e Rio, fruto da desigualdade ampliada pela pandemia da covid-19 e da falta de políticas públicas, em especial, da última gestão, Jair Bolsonaro (PL).
Aqui no Rio também, eu moro aqui, então, também a gente percebe que vem se expandindo.
"Como a gente passou quatro anos devastadores em todos os setores, aumentou a fome, são 33 milhões de pessoas na margem de pobreza. A pandemia abriu flancos sociais, de pessoas numa zona de desemprego muito maior. Essa questão social leva as pessoas a buscarem escapatórias... Você não tem uma cidade que te propicia espaços de recreação ou de acolhimento. A droga está ali, às vezes, de braços abertos para receber esse vazio, essas lacunas sociais.
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