Evangélica, cantora e mãe: como Negra Li inspirou Vai na Fé da Globo
"Com muita coragem, a gente tá de pé, a gente segue em frente", diz trecho cantado por Negra Li, 43, diariamente na abertura de "Vai na Fé", novela das 7 da Globo.
A cantora serviu de inspiração para a trama que conta a história de uma mocinha evangélica e mãe de duas filhas que se torna dançarina de funk. No caso de Negra Li, o que mudou sua vida há 25 anos foi o rap, quando entrou para o grupo RZO.
Em conversa com Splash, ela detalha como foi a conversa com a autora, Rosane Svartman. Ela lembra de falar sobre como conseguia juntar a doutrina da igreja e o próprio trabalho para "não deixar crenças limitantes atrapalharem" sua trajetória profissional e pessoal.
Bati muito sobre ser evangélica, a (relação da) doutrina da igreja e o meu trabalho, ser mãe e dar conta de tudo, envelhecimento e idade.
"Como se eu tivesse uma homenagem ainda em vida e jovem. Ver o meu legado sendo exposto, falado e entendido com essa leitura. Não percebia que as pessoas enxergavam desse jeito, que era evidente eu ser essa mulher de fé, batalhadora, que gosta da justiça."
Ela conta receber retorno positivo dos amigos e familiares que percebem sua semelhança com a Sol, personagem de Sheron Menezzes em Vai na Fé.
"Minha mãe me mandou um WhatsApp e falou: 'filha, essa novela tem tudo a ver com você. Ela chegou do show e agradeceu a Deus. Eu vi você ali'."
Inspiração de Sol nas telinhas, Negra Li chegou a fazer teste para atuar como a protagonista, mas o posto ficou com Sheron. As duas se conheceram em um voo, antes da novela, quando sentaram lado a lado casualmente.
"Depois de 20 anos de carreira, é a primeira protagonista dela. E é a minha primeira vez fazendo uma abertura de novela em 25 anos. Feliz de a gente estar vivendo essas primeiras vezes das nossas vidas juntas. Feliz de ser ela, dessa troca que a gente teve. Falamos o voo inteiro, parecia que éramos amigas de infância."
Negra Li divide a abertura com MC Liro. A faixa "Vai Dar Certo" usa refrão do funk "Vai na Fé", de autoria do funkeiro paulistano.
"Feliz também de ser usado o refrão do MC Liro. Quando soube, fiz uma ligação no WhatsApp, ele me mostrou a família dele, vi a simplicidade dele. Tão ingênuo, falei: 'não perde isso, que coisa linda'. Troca gostosa com pessoas que tiveram a sua primeira oportunidade."
25 anos de carreira: novela, disco e shows
Natural da Brasilândia, Liliane de Carvalho começou cantando na igreja e ganhou visibilidade nacional com a série Antonia (2006). Ela já se sentiu desvalorizada na profissão, consequência do racismo estrutural que também está na música, mas hoje sente gratidão: aos 43, tem música na trilha de novela, prepara o quinto disco de estúdio e comemora o retorno aos palcos.
Eu falaria para a Liliane há 25 anos atrás: 'querida, você conquistou mais do que imaginava'. E tenho muito para conquistar. Estou no auge da minha juventude, estou na minha melhor fase. Tenho muito para dar e experiência para contar.
25 anos após começar, ela analisa que a sociedade avançou a passos lentos para dar oportunidade às minorias. Hoje, acredita que meninas do rap, como Drika Barbosa, Julia Sette e Mac Júlia, ainda enfrentam desafios, mas são diferentes, assim como a sua filha Sofia, uma adolescente negra de 13 - ela ainda é mãe de Noah, 5.
"Sou uma mulher preta que veio da periferia e ficou conhecida pelo rap, que era um movimento marginalizado. Tive que driblar esses desafios para me manter firme. Ainda é desafiador me manter na carreira artística por tudo isso que falei, mas, ao mesmo tempo, é o que me incentiva a mudar essa situação e escrever uma nova história e um legado."
Transformo os desafios em arte e inspiração.
Negra Li adianta um pouco do próximo álbum, mas revela que "Era uma Vez, Liliane" e "Malagueta", parceria com Rincon Sapiência, estão na produção que será lançada este ano. "Um disco que tenho muito carinho. Feliz por conseguir produzir durante a pandemia", finaliza.
Inspirada em histórias reais
Em entrevista a Splash, Rosane Svartman contou que Vai na Fé é uma trama contemporânea e inspirada na vida de brasileiros reais. A autora teve a ideia de escrever uma protagonista evangélica após analisar a ficha de pessoas que contribuíam com os grupos focais de "Bom Sucesso". "A cada 10 pessoas, de 4 a 6 botavam que eram evangélicas", lembra.
Além de Negra Li, pessoas anônimas e consultores também foram ouvidos para a construção da Sol e outros personagens. Ela diz contar com uma equipe diversa, entre pesquisadores e consultores de roteiro.
"São pessoas negras, evangélicas e pastores também. A gente não vai poder dar conta de tudo, mas temos que tentar trazendo diversidade, histórias de vida diferentes e trajetórias distintas."
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