Topo

Natuza Nery revela bastidores de exclusivas com Janja e Lula

Natuza Nery ganhou um programa semanal na GloboNews - Marcos Serra Lima/g1
Natuza Nery ganhou um programa semanal na GloboNews Imagem: Marcos Serra Lima/g1

De Splash, em São Paulo

08/02/2023 04h00

Natuza Nery se tornou um dos nomes de maior destaque da GloboNews nos últimos meses. Além de apresentar a Central Eleições — que entra para a grade da emissora como Central GloboNews amanhã — também conseguiu duas exclusivas de grande repercussão: na primeira, Janja reclamou do estado do Palácio da Alvorada; na segunda, o presidente Lula (PT) falou pela primeira vez após os ataques terroristas de 8 de janeiro.

Em entrevista a Splash, ela contou que conheceu a mulher do presidente durante o debate da Globo. Na ocasião, Janja foi simpática e contou que acompanhava a Central.

Aproveitei a oportunidade para pedir o telefone dela, que resistiu. Disse a ela que não se preocupasse, que sempre tentaria primeiro falar com a assessoria de imprensa. E assim eu o fiz. Sempre que podia, pedia um café. Pedir café, para um jornalista, é a oportunidade de bater um papo com a fonte, em on ou em off. Natuza Nery a Splash

Com Lula eleito, já na transição de governo, Natuza entrou em contato com a assessora de Janja, que fez a ponte entre as duas. "Disse a ela [Janja] que gostaria muito, e que tinha particular interesse em entrar no Palácio da Alvorada. Ela não respondeu nem que sim e nem que não. E eu fui fazendo um trabalho de formiguinha. Toda semana falava com alguém e insistia na entrevista, mas de forma tranquila, sem pressionar muito para não criar o efeito inverso. Até que um dia, ela topou".

Natuza pedia, semanalmente, uma entrevista com Lula desde que ele anunciou a candidatura. "No encontro com a Janja, reiterei que seria muito importante fazer uma entrevista também com ele. Até que, dias depois, recebi a informação de que o presidente havia topado e que falaria comigo dali a dois dias".

A entrevista com Lula já é uma mostra de que o tratamento à imprensa é diferente. Ele topou se submeter a perguntas que ele não sabia quais seriam. Natuza Nery a Splash

Hoje um sucesso no jornalismo político, Natuza nasceu em uma família humilde e começou a trabalhar aos 15 anos. "Até os 30, não falava outra língua que não o português. Foi quando chegou a hora de montar uma estratégia: tinha que aprender inglês, ler todos os clássicos que não tinha lido e melhorar minha formação para conseguir um bom emprego no jornalismo".

A jornalista começou na TV como "Menina do Jô" e trabalha para o Grupo Globo desde 2017. Além de comentarista e apresentadora da GloboNews, é colunista no g1, com o Blog da Natuza Nery, e apresentadora do podcast diário O Assunto.

A Splash, ela ainda falou sobre a transição do impresso para a TV, os aprendizados que teve com Jô Soares e a defesa das colegas atacadas por políticos.

Leia abaixo a íntegra da entrevista:

Você foi jornalista de texto por muitos anos antes de migrar para a TV. Como foi essa mudança?

Eu nunca imaginei que um dia fosse trabalhar em TV. Eu curtia jornal impresso. E fiquei com medo de não funcionar. Mas tem aquele ditado segundo o qual um cavalo, quando passa selado na sua frente, você tem que montar, pois pode ser que não passe mais (risos). E eu montei.

No começo, o desafio era usar o mesmo conteúdo que eu apurava, mas de uma forma televisiva. Na base, o trabalho era o mesmo: apurar exaustivamente, colocar os fatos mais importantes em ordem de importância e explicar de uma forma simples. Só que, no vídeo, você tem que ser mais breve, sem perder a precisão da notícia, e ainda manter a sua fala interessante para quem te assiste.

Se, anos atrás, não me via no jornalismo de TV, hoje não me vejo fazendo outra coisa. Caí de amores por isso aqui.

Você já disse que sua mãe teve dificuldades para te sustentar, algo que não é tão comum entre os jornalistas de TV da sua geração. Já se sentiu diferente dos colegas nesse aspecto?

Minha família nunca teve muito dinheiro e trabalhava muito para me sustentar. Éramos nós duas nessa época. Desde os 10, 11 anos, eu já fazia muita coisa sozinha. Ia para a escola, esquentava ou fazia meu almoço e dava um jeito na casa até minha mãe chegar do trabalho. Meu primeiro trabalho foi aos 15 anos. Saí de casa aos 19. Não estudei nas melhores escolas. Vendia plano de saúde para me sustentar. Até os 30, não falava outra língua que não o português. Foi quando chegou a hora de montar uma estratégia: tinha que aprender inglês, ler todos os clássicos que não tinha lido e melhorar minha formação para conseguir um bom emprego no jornalismo.

Se você me perguntar se eu trocaria a vida que tive até chegar no ponto em que tudo começou a mudar, eu diria "claro!", porque teria sido mais fácil. Mas isso não significa que não tenha orgulho do meu passado. Sou profundamente grata a ele. Assim como tenho uma gratidão imensa por todas as pessoas que me ajudaram a ser quem eu sou, e tive muita ajuda. Tudo isso compõe quem eu sou. E como eu olho para o mundo, para as pessoas e até para a política, no dever que ela tem de dar chances iguais para todo mundo.

O seu comecinho na TV foi como Menina do Jô, que foi um grande entrevistador. O que você pôde aprender com ele?

A deixar o entrevistado à vontade. Isso não é fácil! Mas ele fazia com tanta maestria que ia do momento sério ao riso em minutos, sem deixar passar nada. Jô era leve. E tudo isso tento aprender com ele. Às vezes eu volto aos seus áudios para ouvir de novo seus conselhos. Jô me faz uma falta grande.

1 - Marcos Serra Lima/g1 - Marcos Serra Lima/g1
Natuza Nery
Imagem: Marcos Serra Lima/g1

Jornalistas de TV têm mais probabilidade de virar notícia - seja por emoção ou qualquer gafe cometida. Como você lida com isso?

Não me acostumei com isso ainda (risos). Desde a faculdade, aprendemos que jornalista dá a notícia. Fica estranho quando ele é a notícia. Ainda mais sendo jornalista de política. Mas isso não vai fazer com que eu pare de me emocionar. Quanto à gafe, não tem muito jeito quando se faz jornalismo ao vivo e sem teleprompter. Como eu não uso teleprompter nem quando apresento jornal eventualmente, nem quando apresento a 'Central GloboNews', que agora passará a ser semanal, sei que não estou imune. Mas eu aprendi algo valioso com a Maria Beltrão: a não ter medo de errar nem de sentir as coisas no ar. O medo que eu tenho é o de errar na informação, me dá calafrio uma apuração errada. Mas a gafe, quando ocorre, eu peço desculpa, dou risada de mim mesma e sigo.

Nos comentários das suas fotos ou em qualquer busca pelo seu nome na internet é muito fácil encontrar pessoas elogiando sua beleza. Existe uma pressão sobre a aparência das mulheres que fazem TV?

Acho que há uma pressão da sociedade sobre a aparência das mulheres em geral, não só em relação às mulheres que fazem TV. Claro que as que estão em mais evidência são mais julgadas. Mas o segredo é não se pilhar pelo elogio, mantendo o pé no chão, nem se abater com a crítica.

Você já expressou seus sentimentos ao vivo, inclusive chorando. Como lidar com isso?

Eu não gosto de chorar no ar. Fico com vergonha. Mas eu tenho muitos pontos fracos. Não consigo me distanciar quando a notícia envolve sofrimento de crianças, quando envolve fome ou uma mãe perdendo um filho. Eu me vejo naquele lugar e aquilo me domina a ponto de não conseguir disfarçar. Agora, eu também não acho que você tenha que ser uma profissional que não sente. Sentir é bom. E mostrar que você sente muitas vezes alivia quem do outro lado da tela está sentindo também.

Você defendeu colegas (Miriam Leitão e Vera Magalhães) de ataques sofridos por políticos. Qual a importância de se posicionar nesses casos?

Mostrar que estamos juntas na luta e que não vamos aceitar caladas esses ataques de gente de poder que não admite prestar contas à sociedade. A imprensa não é infalível e pode ser criticada, não há nada de errado na crítica. Ao contrário. Mas ataque é outra coisa. Não pode ser aceitável.

1 - Marcos Serra Lima/g1 - Marcos Serra Lima/g1
Natuza Nery, apresentadora da Central, ao lado dos comentaristas Eliane Cantanhêde, Nilson Klava, Ana Flor, Mônica Waldvogel e Gerson Camarotti
Imagem: Marcos Serra Lima/g1

Estamos em janeiro e você conseguiu duas exclusivas muito comentadas, com Janja e com Lula. Qual o segredo?

Vou te contar como eu fiz no caso das duas. Com Janja, a conheci no debate da Globo entre os presidenciáveis e conversamos um pouco. Ela disse que sempre acompanhava a Central das Eleições. Foi muito simpática comigo. Aproveitei a oportunidade para pedir o telefone dela, que resistiu. Disse a ela que não se preocupasse, que sempre tentaria primeiro falar com a assessoria de imprensa. E assim eu o fiz. Sempre que podia, pedia um café. Pedir café, para um jornalista, é a oportunidade de bater um papo com a fonte, em on ou em off.

Na transição, finalmente a Neudi, assessora mais próxima de Janja, com quem eu já vinha conversando, topou me colocar em contato com ela. E conversamos. Achei que estava na hora de pedir a entrevista. Disse a ela que gostaria muito, e que tinha particular interesse em entrar no Palácio da Alvorada. Ela não respondeu nem que sim e nem que não. E eu fui fazendo um trabalho de formiguinha. Toda semana falava com alguém e insistia na entrevista, mas de forma tranquila, sem pressionar muito para não criar o efeito inverso. Até que um dia, ela topou.

No caso do presidente Lula, eu pedia uma entrevista desde que ele anunciou que seria candidato. E fiz a mesma coisa. Toda semana pedia para uma pessoa diferente ajuda para que o convencesse a me dar uma entrevista. No encontro com a Janja, reiterei que seria muito importante fazer uma entrevista também com ele. Até que, dias depois, recebi a informação de que o presidente havia topado e que falaria comigo dali a dois dias.

Portanto, entrevistas como essas não caem do céu. Exigem convencimento e persistência.

Já é possível falar em diferenças no tratamento recebido por jornalistas entre o governo Bolsonaro e o atual governo?

A entrevista com Lula já é uma mostra de que o tratamento à imprensa é diferente. Ele topou se submeter a perguntas que ele não sabia quais seriam.

Lula demonstrou estar à vontade na entrevista e até gostaria de estender a conversa, o que gerou críticas. Como você lida com elas?

Entrevista normalmente rende mais quando o entrevistado fica à vontade para falar. E o presidente falou bastante. O momento político era delicado devido ao 8 de janeiro e perguntar sobre este e outros assuntos era jornalisticamente importantíssimo. Como ele não havia falado desde a eleição, a entrevista ficou ainda mais relevante. O tempo da entrevista fora dado pela assessoria da Presidência porque ele tinha um compromisso na agenda logo em seguida.

E quanto ao Brasil, acha que podemos ter esperança de um futuro melhor?

Difícil essa pergunta. O jornalista relata o fato e o analisa. O futuro é expectativa, não fato. Vou esperar que aconteça para falar sobre ele.