'Oferenda ao Demônio': Terror inova no tema, mas derrapa nos clichês
Quando relembramos filmes de terror sobrenatural que fizeram história, rituais e crenças católicas estão presentes na maioria deles: "O Exorcista" (1973), "O Bebê de Rosemary" (1968) e "Invocação do Mal" (2013) são apenas alguns exemplos.
Permeada por dilemas sobre possessões, os quais só podem ser resolvidos por padres ou ferrenhos cristãos, tal temática já foi repetida à exaustão pela sétima arte. Porém, embora ainda beba da fonte dos clássicos, "Oferenda ao Demônio" foge levemente dessa premissa, o que faz o filme largar com alguma vantagem.
Na trama, o jovem Art (Nick Blood) e sua esposa Claire (Emily Wiseman), que está grávida, decidem visitar Saul (Allan Corduner), pai do rapaz. Saul é um senhor judeu dono de uma funerária, estabelecimento que funciona há anos na mesma casa em que o religioso reside - neste cenário, cuja potência se eleva graças ao talento do diretor de fotografia Lorenzo Senatore ('Mulher-Maravilha'), a atmosfera do longa já promete arrepios.
Enquanto o casal reencontra Saul e tenta reverter alguns impasses familiares, a comunidade judaica local lida com o desaparecimento da menina Sarah Scheindal (Sofia Weldon) e com a morte do estudioso Yosille Fishbein (Anton Trendafilov), que cometeu suicídio. Para os judeus, o ato de dar fim à própria vida é algo extremamente condenável, e a questão perturba Saul e seu fiel escudeiro Heimish, um dos melhores personagens do longa, vivido por Paul Kaye, o Thoros de Myr de 'Game of Thrones'.
O título sugestivo de "Oferenda ao Demônio" deixa explícito que o paranormal está inserido ali, e que algo (ou alguém) deverá ser sacrificado no processo. Abyzou, também conhecida como "a tomadora de crianças", é a entidade que os assombra, disposta a levar consigo o bebê que Claire carrega em seu ventre.
A aparição de Abyzou e as motivações de quem a invocou vão sendo reveladas ao longo da narrativa, porém, mesmo que o diretor Oliver Park tenha tentado inovar em seu segundo longa-metragem, o roteiro de Hank Hoffman e Jonathan Yunger é linear e não se diferencia do que já foi amplamente produzido entre os anos 1990 e 2000.
O elenco mais experiente do filme tem um desempenho destacável, mas o jovem casal protagonista acaba deixando a desejar. Mesmo com dramas capazes de gerar empatia no público, Nick Blood e Emily Wiseman não emocionam em tela, ainda que tudo e todos ao seu redor se esforcem para que isso aconteça. A cultura e os rituais judaicos que o filme apresenta também são um ponto alto, simplesmente por fugirem das tradições do terror cristocêntrico.
Por fim, ainda que o incomum e a estranheza elevem a tensão, "Oferenda ao Demônio" chega à sua conclusão como um terror de possessão digno, porém genérico - um "feijão com arroz" que cumpre com o que promete, mas não é memorável. Abyzou e suas artimanhas amedrontam o espectador, é claro. Mas não espere mais do que alguns espasmos e sustinhos tímidos como consequência.
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