Gianecchini e Fagundes estreiam peça gay ousada com nu frontal e 6h
Era 2019 quando Bruno Fagundes se encantou com o espetáculo "A Herança" ("The Inheritance") na Broadway. 12 atores no palco narravam os dilemas e dramas de diferentes gerações de homens gays de forma ousada, tanto no formato inédito — dividido em duas partes — quanto em relação à nudez — há cena de nu frontal.
Quase quatro anos depois, ele e o diretor Zé Henrique de Paula são os responsáveis por trazer ao Brasil o texto de Matthew Lopez. A peça estreia hoje (9) no Teatro Vivo, em São Paulo, com ingressos a partir de R$ 50.
Falar de vivências LGBTs no teatro de forma humana se aproxima do que o filho de Antônio Fagundes vive na atualidade. Recentemente, ele falou pela primeira vez sobre sua sexualidade após assumir relacionamento com Igor Fernandez. Em papo com Splash, ele comemora.
"Meus trabalhos são uma manifestação do meu inconsciente. Quando eu assisti a peça, em 2019, veio como um baque para mim porque fala da existência LGBT, com um recorte homem cis e gay. Quando vi a peça, pensei: 'preciso levar essa história'... Peguei a peça, coloquei no colo e estou usando todo meu esforço, conhecimento e maturidade para levantar essa peça da forma mais digna", conta Bruno.
Casou muito com o momento que eu estou agora. É bom que seja assim porque a peça vai tocar em temas importantes para mim e para a comunidade. Estou feliz em poder realizar isso.
Bruno Fagundes sobre "A Herança"
O principal desafio para montar "A Herança" no Brasil é o seu formato inédito. Ela conta com seis horas de duração, encenada em dois dias diferentes. A história é única, com uma estrutura linear. Nas primeiras semanas em cartaz — entre 9 e 16 de março — será exibida a parte I do espetáculo. A estreia da parte II está marcada para o dia 24. A partir daí, a parte I será exibida às quintas e sábados e a parte II será apresentada às sextas e aos domingos.
"É quase a ideia de maratonar uma série, só que no teatro, com os atores ali ao vivo", brinca o diretor Zé Henrique.
Assim como na versão da Broadway, a versão brasileira promete emocionar ao falar de amores gays e preconceitos. Além disso, os atores exploram bastante a sensualidade dentro do contexto da história.
"Existe um nu frontal. A nudez vai deixando de ser um tabu, né? Já não é vista como uma coisa escandalosa ou ofensiva. É um momento muito bonito, delicado e que passa muito rapidamente. A nudez não é uma dos pontos importantes da peça. A atração da peça é realmente o texto dela", completa Zé Henrique.
A história
A peça tem início quando Eric (Fagundes), prestes a ser despejado de seu apartamento, se aproxima de Henry (Reynaldo Gianecchini) e Walter (Marco Antônio Pâmio), formando um triângulo amoroso, na tentativa de se compreender durante a turbulenta ascensão de seu recém-noivo, Toby, (Rafael Primot) à fama. Porém, quando Adam (André Torquato) surge em suas vidas, três gerações colidem e redefinem suas concepções sobre amor, afeto, perda, saudade e amizade.
Bruno reforça que "A Herança" é uma saga que ganhou 39 prêmios em sua temporada norte-americana e foi considerada pelo jornal inglês Daily Telegraphy como um dos textos mais importantes do século XXI.
Mais de 3 mil ingressos foram vendidos antes da estreia, segundo a assessoria do espetáculo. A expectativa é que a obra também seja bem recebida no Brasil. Zé Henrique acredita que o texto traz empatia nos personagens e suas histórias.
"São Paulo é a maior metrópole da América Latina. A gente faz a maior parada gay do mundo. Tem um público muito ávido por se reconhecer no palco. Também não é uma peça só sobre isso. Ela é uma peça sobre a nossa humanidade, tristezas, alegrias, dores, desafios e conquistas. Então, é extremamente humana... Essa peça é sobre orgulho e faz com que as nossas histórias se tornem histórias universais, não de um gueto ou de um nicho", pondera Zé.
Teatro é política
Os dois concordam que o teatro foi desmobilizado nos últimos anos devido a uma gestão política anticultural do governo Bolsonaro. Bruno reforça ainda que nunca foi fácil produzir teatro no Brasil, mas os últimos quatro anos foram especialmente difíceis.
"Cultura deve ser um investimento do Estado, independente de quem está ocupando o cargo, mas isso nunca existiu de fato. Só que a gente veio de um governo que foi além de dificultar, impediu mesmo, era uma agenda clara contra a cultura. De repente os artistas viraram os inimigos, os jornalistas viraram os inimigos. Difícil de se lidar... Ao contrário do que alguns pensam, a peça é fruto de muito trabalho. Não tem ninguém 'mamando na teta' de ninguém. É uma peça superambiciosa, 12 atores e um texto extremamente desafiador", diz Bruno.
O ator acredita no poder político da peça e do teatro, não só durante governos que dificultem sua promoção, mas também em relação ao tempo em que vivemos de "atenção pulverizada" pela tecnologia e cada um "no seu micromundo"
"É uma peça que aborda o universo LGBT pós-Bolsonaro. É super divertida e dinâmica, tem histórias lindas e emocionantes, mas exige a sua atenção. Você tem que ir ao teatro e desligar o celular. Se ficar no TikTok, vai se perder.. O teatro, em si, é político. Reunir pessoas numa sala durante determinadas horas para assistir uma história e compartilhar uma história, é revolucionário", pensa Bruno
É simbólico existir essa peça agora. É simbólico fazer isso em 2023, a cultura está ressurgindo, está renascendo. Para mim, ela tem diversas camadas de importância.
Serviço - A Herança
Estreia: 9 de março (parte I); 24 de março de 2023 (parte II)
Local: Teatro Vivo - Av. Chucri Zaidan, 2460 - Vila Cordeiro, São Paulo
Temporada: até 30 de abril
Ingressos: a partir de R$ 50 (meia), via Sympla
Classificação: 18 anos
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