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ANÁLISE

'Pânico 6' é só o sintoma: o ano 2000 voltou para nos assombrar

O rosto de Ghostface, de "Pânico", foi uma das marcas do ano 2000 - e ele está de volta - Divulgação/Paramount Pictures
O rosto de Ghostface, de 'Pânico', foi uma das marcas do ano 2000 - e ele está de volta Imagem: Divulgação/Paramount Pictures

Renan Martins Frade

Colaboração para UOL

09/03/2023 11h10

Esta é a versão online da edição desta quinta-feira (9) da newsletter Na Sua Tela. Nesta semana, destaques para "Pânico 6", "Luther: Ao Cair da Noite" e outros filmes que chegam aos cinemas e aos streamings, além de uma curadoria do que vale assistir. Quer receber a edição da semana que vem no seu email? Inscreva-se aqui. Os assinantes UOL ainda têm mais de 10 newsletters exclusivas.

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Eu sei o que você fez no ano 2000: vestindo uma bela jaqueta jeans, foi assistir a uma sequência de "Pânico" ou de "Missão: Impossível" no cinema. Junto aos amigos, registrou o momento com uma câmera fotográfica instantânea - ou, quem sabe, em um modelo digital.

Acontece que tem uma grande chance de você estar fazendo a mesma coisa agora, em 2023.

Nesta semana chega aos cinemas "Pânico 6". Mais do que um terror autoconsciente, como é a marca da franquia, o filme também representa algo mais amplo: a volta da chamada "estética Y2K", em referência à moda e ao comportamento em voga no ano 2000.

Por isso, a edição desta semana do Na Sua Tela aproveita o gancho do lançamento para explicar o que é esse retorno ao passado - e, junto, apresentar uma curadoria que representa a virada do milênio. Para quem viveu poder rever - e para os mais novos conhecerem melhor a origem das músicas que dançam no TikTok.

Para quem quer algo a mais, a newsletter destaca dois outros lançamentos da semana: "Luther: Ao Cair da Noite", longa-metragem que continua a história da série estrelada por Idris Elba; e o nacional "A Porta ao Lado".

Agora é só escolher o que assistir.

O que tem de novo?

PÂNICO 6

Pânico VI - Divulgação/Paramount Pictures - Divulgação/Paramount Pictures
'Pânico 6' leva o assassino Ghostface para Nova York
Imagem: Divulgação/Paramount Pictures

  • Assista ao trailer
  • Onde: nos cinemas - clique aqui para comprar ingressos
  • O que tem de bom: Uma das características da franquia "Pânico", iniciada em 1996, é ser extremamente autoconsciente e autorreferente. Ou seja, são filmes que sabem que são longas-metragens de terror e, por isso, brincam com os elementos do gênero para construir as suas histórias. Foi assim com "Pânico", o relançamento da cinessérie que chegou aos cinemas no ano passado, e continua agora em "Pânico 6". Na nova história, reencontramos alguns dos protagonistas introduzidos em 2022 (incluindo Jenna Ortega, do hit "Wandinha"), além de alguns personagens já clássicos (como a Gale Weathers de Courteney Cox), enfrentando uma nova versão do assassino Ghostface. A diferença é que o roteiro se muda da pequena Woodsboro para a cidade de Nova York, adicionando outros elementos. Tudo isso temperado com brincadeiras e críticas ao cinema atual, dominado por franquias e pela tentativa de quebrar expectativas dos fãs mais aficionados. Ainda que tenha se tornado o "clichê dos clichês", "Pânico 6" diverte enquanto aterroriza, entregando uma uma ótima dose de adrenalina em seu trecho final.
  • O que te faz sentir: aflição, ansiedade
  • A opinião de Roberto Sadovski: "Não que exista aqui qualquer desejo de reinventar a roda. Desde que assumiram a série após a morte de Wes Craven em 2015, Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett fazem um trabalho decente ao criar momentos de tensão genuína e ampliar a violência e a brutalidade sem perder o foco do tema principal: este é um filme de terror consciente de ser um filme de terror." (leia a crítica completa)


LUTHER: AO CAIR DA NOITE

Luther - Divulgação/Netflix - Divulgação/Netflix
Idris Elba está de volta ao personagem Luther em novo filme da Netflix
Imagem: Divulgação/Netflix

  • Assista ao trailer
  • Onde: nesta sexta, 10, na Netflix
  • O que tem de bom: Série policial produzida pela BBC entre 2010 e 2019, "Luther" traz Idris Elba como um detetive especializado em crimes graves que, apesar de ser extremamente dedicado, muitas vezes se deixa levar pelas emoções e se torna violento - sendo consumido pelo lado sombrio do que investiga. Agora o policial retorna para "Luther: Ao Cair da Noite", filme que funciona como uma continuação dessas aventuras, mas que pode ser assistido pelos novos espectadores sem problema algum. Na história, John Luther é pego em meio a um grande plano de David Robey (Andy Serkis), que usa os dados privados disponibilizados na internet para chantagear e cometer assassinatos. Ainda que esteja longe de ser o caso mais brilhante de Luther, o longa entrega um thriller criminal calcado no grande embate de Alba e Serkis em cena. Os dois, sozinhos, levam "Ao Cair da Noite" nas costas.
  • O que te faz sentir: ameaça, insegurança

A PORTA AO LADO

A Porta ao Lado - Divulgação/Vitrine Filmes - Divulgação/Vitrine Filmes
Danilo Ferreira e Letícia Colin formam um casal com problemas em 'A Porta ao Lado'
Imagem: Divulgação/Vitrine Filmes

  • Assista ao trailer
  • Onde: nos cinemas
  • O que tem de bom: Casamento não é uma relação fácil. Muitas vezes aquilo que unia os dois pode acabar por separá-los, junto com as pressões sociais e o desgaste do dia a dia. O que acontece, então, quando um casal vê se mudar para o apartamento ao lado quem é o seu exato oposto? É assim que começa "A Porta ao Lado", novo filme de Julia Rezende ("Meu Passado Me Condena"): Mari (Letícia Colin) e Rafa (Danilo Ferreira) passam a achar que a grama de Isis (Bárbara Paz) e Fred (Tulio Starling) é mais verde que a sua. A partir disso, o roteiro investiga as hipocrisias das relações tradicionais, mas também expõe as incoerências da modernidade. É um daqueles longas-metragens que podem levantar interessantes discussões, evitando que situações da vida cheguem ao mesmo nível. Tudo isso temperado por mais uma ótima atuação de Colin: a atriz está ótima em cena.
  • O que te faz sentir: culpa, vulnerabilidade

O retorno do 'Y2K'

Birtney - Reprodução Youtube - Reprodução Youtube
Britney Spears no clipe de "Oops... I did it again"; roupa metalizada e maquiagem futurista são símbolos da estética Y2K
Imagem: Reprodução Youtube

Se você reparar bem, muito do que se fazia entre o final do século 20 e o começo do 21 está de volta. Além das já citadas jaquetas e câmeras, tem também a profusão dos tecidos sintéticos, das roupas coloridas (em um estilo "futurista") e das calças de cintura baixa, além do retorno de músicas de Backstreet Boys e Britney Spears. Tudo re-embalado com as tecnologias e modismos atuais. Leia-se: transformados em memes e dancinhas do TikTok.

Ainda que tenha sido lançado nos cinemas brasileiros em janeiro de 1997, o primeiro "Pânico" representa bastante o que ficou conhecido como estética "Y2K" (que é um jeito descolado de escrever "ano 2000" em inglês). O longa-metragem marcou época e se tornou figurinha repetida nas reprises da TV aberta e paga pelos anos seguintes, ajudando a ditar os modismos de seu tempo.

É por isso que a retomada da franquia no ano passado - e com uma continuação agora, com "Pânico 6" - não é por acaso: trata-se de uma forma de surfar nessa "revitalização" de comportamentos.

A nostalgia atual pode ter diversas justificativas, inclusive. Entre elas, o fato de que aqueles que tinham por volta dos dez anos em 2000 estão, hoje, na casa dos 30 e poucos. São pessoas que lembram com carinho da moda de sua infância e que, com poder de compra e salários estáveis, podem adquirir e curtir o que não tinham acesso anteriormente.

Tem mais: os mais velhos daquela geração já têm os seus próprios filhos pré-adolescentes, muitas vezes influenciados pelas referências dos pais e suas coleções.

Seja qual for o motivo, o carinho pelo passado tem sempre um impacto forte, muitas vezes transformando em algo incrível uma produção cultural que, em sua época, foi considerada apenas mediana. Seja como for, a seguir você encontra alguns filmes que marcaram - ou representam - essa virada de década.

PÂNICO

Pânico - imagem - Divulgação/Paramount Pictures - Divulgação/Paramount Pictures
O figurino de Neve Campbell em 1996 se encaixa como uma luva para 2023
Imagem: Divulgação/Paramount Pictures

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  • Onde: Telecine, Globoplay, Paramount+, UOL Play
  • O que tem de bom: "Pânico" (1996) é um dos mais interessantes filmes da década. Dirigido por Wes Craven (de "A Hora do Pesadelo"), é um terror que faz uma paródia do próprio gênero para criar um suspense de "quem matou" temperado com muitas facadas e sangue falso. De certa forma, influenciou diversas produções que vieram a seguir - e, com suas posteriores reprises nas TVs aberta e fechada pelos anos seguintes, ditou o comportamento na virada do século.
  • O que te faz sentir: perseguição, repulsa

EU SEI O QUE VOCÊS FIZERAM NO VERÃO PASSADO

Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado - Divulgação/Sony Pictures - Divulgação/Sony Pictures
Freddie Prinze Jr. e Jennifer Love Hewitt em cena de 'Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado'
Imagem: Divulgação/Sony Pictures

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  • Onde: para aluguel ou compra em Loja Prime Video, Apple TV, Google Play, YouTube
  • O que tem de bom: O sucesso de "Pânico" revitalizou o gênero do terror, agora com foco em uma nova geração. "Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado" (1997) é um dos primeiros reflexos disso, reunindo um elenco de rostos famosos entre os adolescentes da época (como Jennifer Love Hewitt, Sarah Michelle Gellar, Ryan Phillippe e Freddie Prinze Jr.) para construir um "slasher" - subgênero com assassinos em série e muito sangue.
  • O que te faz sentir: ansiedade, insegurança

MISSÃO: IMPOSSÍVEL 2

Missão: Impossível 2 - imagem - Divulgação/Paramount Pictures - Divulgação/Paramount Pictures
Tom Cruise em versão 'Y2K' em 'Missão: Impossível 2'
Imagem: Divulgação/Paramount Pictures

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  • Onde: Star+
  • O que tem de bom: Ethan Hunt cabeludo, com óculos Juliet e correndo em slow motion ao som de rap rock: essa é a versão ano 2000 para o famoso personagem interpretado por Tom Cruise. "Missão: Impossível II" (2000), de John Woo (de "A Outra Face"), está longe de ser o melhor capítulo da franquia, mas é o puro suco desta fase de Hollywood. E se a história de espionagem fica devendo, as cenas de ação compensam. Ah, a trilha sonora ainda entrega sons de Metallica, Limp Bizkit, Foo Fighters e, na versão nacional, até do Raimundos.
  • O que te faz sentir: empolgação, liberdade

AS PANTERAS

As Panteras - imagem - Divulgação/Sony Pictures - Divulgação/Sony Pictures
Poucas coisas representam mais o ano 2000 do que esta versão de 'As Panteras'
Imagem: Divulgação/Sony Pictures

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  • Onde: para aluguel ou compra em Apple TV, Google Play, YouTube
  • O que tem de bom: Na mesma linha, "As Panteras" (2000) entrega ação ao estilo "Y2K". Dirigido pelo então estreante McG ("O Exterminador do Futuro: A Salvação"), esta é uma recriação da série de mesmo nome, dos anos 1970. Porém, saem de cena as Panteras mais tradicionais, com armas na mão, e entram as habilidades de kung fu de Cameron Diaz, Drew Barrymore e Lucy Liu. Estilizado ao gosto da época, o divertido longa também tem uma trilha sonora única - com músicas de Destiny's Child e Fatboy Slim.
  • O que te faz sentir: poder, animação

MATRIX

Matrix - Divulgação/Warner Bros.  - Divulgação/Warner Bros.
Keanu Reeves em 'Matrix', um dos filmes mais influentes do cinema
Imagem: Divulgação/Warner Bros.

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  • Onde: HBO Max, Prime Video
  • O que tem de bom: Lançado nos cinemas em 1999, "Matrix" pode ser considerado um dos mais influentes filmes da história do cinema. Além de representar bastante o estado de espírito do mundo no final do século 20, a estética e temáticas do longa-metragem nos perseguem até os dias atuais - justificando até uma recente continuação, "Matrix Resurrections" (2021). Pior do que isso, até: todo o conceito das máquinas se revoltando contra os humanos soa assustadoramente atual em tempos de inteligências artificiais sendo aplicadas em ferramentas na internet. Essa, no entanto, é só a primeira camada de um longa com muitas nuances nas entrelinhas. Tudo empacotado com cenas de ação de primeira.
  • O que te faz sentir: descoberta, poder

A BRUXA DE BLAIR

A Bruxa de Blair - Divulgação/Europa Filmes - Divulgação/Europa Filmes
'A Bruxa de Blair' criou todo um novo subgênero de filmes
Imagem: Divulgação/Europa Filmes

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  • Onde: HBO Max, Star+
  • O que tem de bom: Outro terror influente. Ainda no começo da internet, "A Bruxa de Blair" (1999) foi extremamente competente ao criar uma espécie de "mito urbano" de que aquela história seria real. Tudo era, claro, uma obra de ficção - a primeira a usar a estética e formato de gravações caseiras de VHS, o que daria origem a todo um subgênero, chamado de "found footage". Mais ano 2000, impossível.
  • O que te faz sentir: medo, insegurança

VELOZES E FURIOSOS

Velozes e Furiosos - Divulgação/Universal Pictures - Divulgação/Universal Pictures
Paul Walker, um dos astros da franquia 'Velozes' - que começou em 2001
Imagem: Divulgação/Universal Pictures

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  • Onde: Telecine
  • O que tem de bom: No final dos anos 1990, o cenário dos rachas de rua e dos carros "tunados" (customizados) era muito forte. Um artigo de revista sobre o assunto acabou rendendo o primeiro "Velozes e Furiosos" (2001). O enredo é bem batido, ao estilo "Caçadores de Emoção": um policial, Brian (Paul Walker), se infiltra em um grupo de fãs de automóveis para juntar provas contra o criminoso Dominic Toretto (Vin Diesel) - no entanto, ele se apaixona pela irmã de Dom, Mia (Jordana Brewster). Foi um sucesso na época, fazendo os jovens se dividirem entre a vontade de ter na garagem um coupé japonês ou um muscle car norte-americano. Em uma coisa os dois lados concordavam: era necessário ter uma dose de nitro para "apimentar" as máquinas. A franquia, que ganhou ares de filme de super-herói na década seguinte, continua firme e forte até hoje: "Velozes & Furiosos 10" estreia nos cinemas em maio.
  • O que te faz sentir: coragem, arrojo

10 COISAS QUE EU ODEIO EM VOCÊ

10 Coisas Que eu Odeio em Você - Divulgação/Disney - Divulgação/Disney
O inesquecível Heath Ledger e Julie Stiles em '10 Coisas Que eu Odeio em Você'
Imagem: Divulgação/Disney

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  • Onde: Disney+
  • O que tem de bom: O pessoal do ano 2000 também amava - e "10 Coisas Que eu Odeio em Você" (1999) representa bem os corações e comportamentos da época. Adaptação moderna e atualizada de "A Megera Domada", de William Shakespeare, traz Cameron (Joseph Gordon-Levitt) se apaixonando por Bianca (Larisa Oleynik). Porém, para ela sair com o crush, havia uma condição: a irmã mais velha, a esquentada Kat (Julia Stiles), arranjar antes um namorado. Para a árdua função é contratado Patrick (Heath Ledger), mas razão e sentimento acabam se misturando. O resultado é um clássico instantâneo.
  • O que te faz sentir: paixão, malandragem

LEGALMENTE LOIRA

Legalmente Loira - Divulgação/20th Century Studios - Divulgação/20th Century Studios
Selma Blair, Reese Whiterspoon e todo o estilo de 'Legalmente Loira'
Imagem: Divulgação/20th Century Studios

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  • Onde: Prime Video
  • O que tem de bom: "Legalmente Loira" (2001) também conta muito do mundo no comecinho do século 21 - inclusive sobre os seus problemas. Você, a essa altura, conhece a história: Elle (Reese Witherspoon, no papel que a colocou no mapa) é uma jovem que, entre os jovens brasileiros da época, seria chamada de "Patty". Porém, para além dos estereótipos, ela resolve entrar na faculdade de Direito e quer se mostrar uma grande profissional. Deixando de lado as partes que não envelheceram muito bem, vale a pena rever o filme com um olhar para a moda e comportamento da época. Sim, naqueles tempos muita gente queria um iBook colorido igual ao da protagonista. Aliás, tem aqueles que sonham com o notebook tangerina da Apple até hoje..
  • O que te faz sentir: animação, empolgação

Além dessas dicas da época, fica a sugestão de assistir a "Aftersun", longa indicado ao Oscar 2023. A produção se passa no comecinho dos anos 2000 e retrata com perfeição aqueles tempos - desde a música a objetos como câmeras de vídeo amadoras. Disponível na MUBI. Clique aqui para ler mais em uma edição anterior do Na Sua Tela.

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