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Sofi Tukker se surpreendeu com convite de Pelé: 'Não sabia que ele cantava'

De Splash, em São Paulo

22/03/2023 12h00Atualizada em 22/03/2023 12h06

Uma alemã e um americano formam a dupla Sofi Tukker. Juntos, transformam poesia brasileira em música eletrônica. Parece confuso, mas essa "mistura" tem explicação — e dá certo.

Além de acumular milhões de visualizações em suas próprias canções, o duo já colaborou com artistas como Pabllo Vittar e os colombianos Bomba Estéreo, além de ter remixado canções de Lady Gaga, Katy Perry e até Pelé.

Sophie Hawley-Weld, 30, foi apresentada à música brasileira por amigos do colégio. Apaixonada pela língua, fez aulas de português e se mudou para o Rio de Janeiro.

"Pensei que ficaria lá para sempre porque senti que encontrei meu lugar e meu povo", conta ela a Splash.

De volta aos Estados Unidos, conheceu Tucker Halpern, 33, na faculdade. Ele viu a colega cantando Bossa Nova em uma apresentação e sugeriu que os dois transformassem aquilo em dance music. Assim, surgiu Sofi Tukker.

No próximo sábado (26), eles apresentam essa receita no palco do Lollapalooza, em São Paulo.

Colaboração com poeta Chacal

Sophie conheceu o poeta carioca Chacal nos EUA. Pouco depois, o artista passou a "emprestar" suas poesias e a produzir novas composições para Sophie e Tucker transformarem em música.

A faixa "Drinkee", um dos maiores sucessos da dupla, é baseada no poema "Relógio". A letra de "Kakee", uma homenagem ao caqui, também é obra de Chacal.

Enviei uma mensagem para ele. Eu disse: "Estou realmente obcecada por esta fruta. O caqui. Podemos escrever um poema sobre caqui?". Então, ele escreveu o poema e eu mudei algumas coisas para ter certeza de que soaria bem na música. É basicamente sempre uma colaboração com ele. Sophie Hawley-Weld

Música com Pelé foi surpresa

Em 2020, Pelé lançou a música "Acredita no Véio" em parceria com a dupla mexicana Rodrigo y Gabriela. A faixa ganhou três novas versões — entre elas, um feito por Sofi Tukker.

Eles se surpreenderam ao receber o convite para remixar a canção do Rei do Futebol.

"Eu não sabia que ele cantava até ouvir aquela música", diz Tucker.

Recebemos um e-mail dizendo: 'Vocês gostariam de fazer um remix dessa música?' Nós tivemos que olhar duas vezes. Eu pensei: 'É o mesmo cara?'. Então ouvimos a voz dele e parecia que era. Obviamente descobrimos que era ele mesmo. Tucker Halpern

"Foi uma honra fazer isso. Foi incrível, uma loucura. Nós dois ligamos para nossos pais e dissemos: 'Adivinhem o que estamos fazendo agora?'", conta.

Sophie disse que ainda sonha em colaborar com três artistas brasileiros: Anitta, Vanessa da Mata e Gilberto Gil.

Apropriação cultural? Dupla quer mostrar a americanos que "há mais lá fora"

Sophie pensa muito nos debates sobre apropriação cultural, por cantar em português e falar de outra cultura em suas músicas.

Na canção "Brazilian Soul", por exemplo, a alemã canta: "Quer saber de onde sou? Brasileira, meu amor. [...] Acho que tenho um pouco de alma brasileira".

Segundo a dupla, a ideia é mostrar principalmente aos americanos que há outras línguas e ritmos a serem explorados pelo mundo.

Eu realmente quero ter certeza de que estou constantemente sendo o mais respeitosa e reverente possível. [...] Minha esperança é basicamente que possamos viver em um mundo onde, se nos sentirmos inspirados por diferentes idiomas ou sons diferentes, que nós também os entendamos profundamente e tenhamos respeito. Sophie Hawley-Weld

"No meu caso, estamos sempre trabalhando com o Chacal que é brasileiro e é poeta. Obviamente, ele também está recebendo créditos de composição. Não é como se estivéssemos fazendo isso sem qualquer tipo de contexto ou relacionamento. Essa parte é muito importante para mim", completa a artista.

"A maneira como muitos americanos veem o mundo é que os Estados Unidos são o centro do mundo e todos deveriam falar inglês. E muitas pessoas fora dos Estados Unidos, na indústria do entretenimento, sentem que precisam falar e cantar em inglês para serem populares. Acho importante que pessoas dos Estados Unidos que falem inglês digam que tem mais lá fora. Existem muitas outras línguas bonitas por aí. Há muitas coisas bonitas que também queremos mostrar. Essas coisas realmente falam conosco e nós amamos isso", acrescenta Tucker.

Show no Lollapalooza

Além da combinação de ritmos e idiomas, Sofi Tukker também é conhecida pelos shows cheios de energia. Tanta empolgação fez com que a dupla precisasse cancelar sua última vinda ao Brasil em 2019: Sophie quebrou o pé durante uma apresentação na Austrália.

"Estávamos loucos, pulando por aí. E de repente, Sophie para de se mexer. [...] Então a música acabou e eu fui até ela e disse "Vamos! O que você está fazendo?". Ela tinha quebrado o pé no palco porque caiu de um degrau, mas eu não vi. [...] Nós a colocamos em uma cadeira, colocamos uma guitarra na mão dela e ela continuou o show por uns 30 minutos e depois foi para o pronto-socorro", lembra Tucker.

"Eu estava chorando e cantando ao mesmo tempo", se diverte Sophie.

A fratura e, depois, a pandemia, impediram a dupla de vir ao Brasil naquele ano. Mas Sophie garante que está "ótima" e "pronta para pular". Eles prometem tocar um pouco de "Songs That Should Be Best Friends", remixes que viraram sensação nas redes sociais. Nessas faixas, eles unem três músicas que "deveriam ser melhores amigas".

Sophie e Tucker estão empolgados para voltar ao país e prometem um show maior e melhor aos fãs.

Estamos esperando isso há tantos anos. Definitivamente, temos expectativas muito altas, mas acho que é seguro dizer que elas serão superadas. Estamos muito animados por estar de volta ao Brasil, um país que tanto nos inspira e que significa tanto para nós. Sophie Hawley-Weld

"Temos muito mais música. Estamos muito melhores em performance, temos uma produção muito melhor agora, temos bailarinos que vêm conosco. [...] É importante para nós passar um tempo aí", finaliza Tucker.