Samara Felippo: 'Orgasmo da mulher de mais de 40 anos ainda é tabu'
Samara Felippo, 44, vive um dos momentos mais livres de sua vida. Em suas redes sociais, a atriz publica vídeos que questionam padrões e abordam assuntos pouco discutidos, como a sexualidade da mulher com mais de 40 anos.
Hoje, a artista fala com naturalidade sobre sexo, mas contou a Splash que nem sempre teve essa facilidade. "Um tema que eu sempre quis falar, mas era travada porque tinha medo, afinal era um tabu - e ainda é um tabu para muita gente - é a questão da sexualidade e o orgasmo da mulher de mais de 40 anos."
Longe das novelas desde 2019, quando fez "Topíssima" (Record TV), Samara faz do Instagram o seu principal canal de comunicação. Seguida por mais de 1,4 milhão de pessoas, a atriz compartilha fotos sensuais, fala abertamente sobre sexo e temas que julga relevantes, como o etarismo e o racismo (ela é mãe de duas filhas negras).
Sem pudores para publicar as fotos que tira e se vê bonita, Samara acredita que o etarismo (preconceito com pessoas mais velhas) não é algo que afeta apenas a idosos. "Agora, pessoas de 36, 37 anos sofrem com isso. Pessoas de 44 anos querem fazer faculdade e são hostilizadas, entende?"
Isso é o etarismo: mina a autoestima da mulher e a põe no pé. Como se a gente não fosse mais capaz, como se fôssemos descartáveis e a validade acabou.
"A sexualidade, para mim, entra nesse lugar: é um assunto muito importante para a saúde feminina, mas calam a nossa boca desde pequenas: 'tira a mão daí', 'fecha as pernas', 'coloca uma roupa longa', 'tira esse decote'."
Samara diz que o etarismo é fruto de "uma criação sexista bizarra" e, por causa disso, "uma mulher de 40, 50 anos, não quer nem falar de sexo."
Tudo é uma vergonha: vergonha de comprar um vibrador, de sentir prazer, de emitir um som em uma relação.
'Abrir uma relação não é sair pegando todo mundo'
A atriz é casada há nove anos com o ator e humorista Elídio Sanna, 39, e mantém um relacionamento aberto. "O mais importante é que meu parceiro queira voltar para casa e que tenha prazer de acordar e dormir comigo."
"Os desejos dele lá fora, para mim, são dele. Eu não me sente dona dos desejos dele, porque eu sei que eu sou um desejo dele, e para mim isso é importante."
Abrir uma relação não é sair pegando todo mundo, não é uma putaria louca, uma troca de casal. Não é isso que significa. É trocar a palavra fidelidade, que para mim é cafona, por lealdade.
'Uma Samara que se sente muito poderosa'
No Instagram da artista, são comuns as publicações com registros da festa Apocalipse Tropical, na qual Samara "ataca de DJ". "Ela começou pequena, como uma comemoração de aniversário pequena, em São Paulo. Eram 200 pessoas em uma casinha, mas cresceu e estamos em uma festa agora para 700, 800 pessoas. Inclusive correndo atrás de patrocínio."
Nas fotos, ela aparece com roupas curtas, coloridas e apertadas, que passam a sensação de liberdade.
"Quem está ali é uma Samara realizando um sonho, é o meu alter-ego que gosta de se vestir com aquelas roupas, que gosta de fazer o caldeirão esquentar e girar."
Os projetos que tenho trazido para mim depois dos 40 são projetos de ressignificação da mulher que eu me tornei, que eu quis me tornar, rompendo com barreiras e tabus, e a Apocalipse é esse lugar.
Na balada, Samara diz que vê muitas pessoas com mais de 40 anos dançando, sendo livres, felizes e realizadas. "É um público muito diverso, usando as roupas que querem, curtindo."
Tem uma Samara muito poderosa naquele lugar.
'Mulheres que nascem com os filhos'
Outro assunto latente nas redes de Samara é a maternidade. Ela é mãe de duas meninas, Alice e Lara, de 13 e 9 anos, fruto do relacionamento com o jogador de basquete Leandrinho.
A abordagem é tão ampla por parte da artista que, além de um livro, a atriz desenvolveu a peça "Mulheres Que Nascem com os Filhos", ao lado de Carolinie Figueiredo, em cartaz hoje, amanhã e domingo no Teatro Morumbi Shopping, em São Paulo.
Segundo contou a Splash, o argumento nasceu de "uma vontade absurda de gritar as minhas dores". "Eu tinha acabado de me separar, com dois filhos, saindo de um casamento que a gente acha que é para sempre, e aí o castelo da princesa cai na tua cabeça com as idealizações e as romantizações que você cria, porque fazem você criar."
A peça veio de uma vontade mútua de mulheres de levantar com outras e dizer: a gente não quer que romantizem a maternidade, porque o amor pelos nossos filhos é incondicional. O lado B ninguém fala.
'Nós, brancos, precisamos calar a boca e ouvir'
As filhas de Samara são meninas negras e, por ser uma pessoa branca, a atriz diz ter aprendido bastante sobre racismo desde então, mesmo que não tenha sido uma jornada fácil.
"Nós, brancos, precisamos calar a boca e ouvir, porque eles [pessoas negras] estão falando. Em termos de racismo no Brasil, nada vai cair no seu colo. E as pessoas que são filósofas e intelectuais negras não estão ali a fim de ficar ensinando para a branquitude."
Então é a gente que precisa correr atrás, é a gente precisa calar a boca e ouvir porque eles estão falando.
"Meu movimento antirracista veio quando a minha filha quis alisar o cabelo com sete anos. Foi quando eu falei: 'Caralho, alguma coisa estranha tá acontecendo aqui! Essa coisa que nunca me atacou, nunca bateu na minha porta, nunca me incomodou. Essa coisa é o racismo."
Samara acredita não ser preciso ser mãe de uma criança preta ou se casar com uma pessoa negra para ser antirracista. "Eu furei essa bolha devido à maternidade, mas eu adoraria que tivesse acontecido antes."
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