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Banheira, Chaves: a briga de Silvio Santos para vencer a Globo nos anos 90

Alexandre Frota e Luiza Ambiel participavam com frequência da "Banheira do Gugu" - Moacyr dos Santos/SBT
Alexandre Frota e Luiza Ambiel participavam com frequência da "Banheira do Gugu" Imagem: Moacyr dos Santos/SBT

De Splash, em São Paulo

02/04/2023 04h00

A segunda temporada da série "O Rei da TV!" (Star+), ficção que conta a vida de Silvio Santos, 91, mostra a disputa declarada entre o SBT e a Globo pela liderança de audiência no Brasil.

Vencer a emissora rival virou o principal objetivo do apresentador e empresário após o TSE reprovar a sua candidatura para a presidência do país dias antes das eleições de 1989, segundo a produção. Para isso, Silvio pensou em maneiras de "modernizar a sua programação" na chegada dos anos 1990.

Os primeiros desentendimentos entre SBT e Globo ocorreram ainda na década de 1980. Silvio Santos criticou publicamente Roberto Marinho no Troféu Imprensa de 1988.

Na época, o empresário pediu que a Globo liberasse a participação de artistas de outras emissoras em seus anúncios comerciais. Ele citou o caso do jornalista Sérgio Chapelin, que optou por retornar à empresa carioca após ser contratado pelo SBT em 1983.

Os embates também ocorreram na programação. As duas emissoras anunciaram filmes da franquia "Rambo" em janeiro de 1989, e a disputa também envolveu o último capítulo de "Vale Tudo", novela de sucesso da Globo na época.

A briga pelos domingos

Após impedir a saída de Gugu Liberato para a Globo em 1988, Silvio Santos promoveu a estreia do Domingo Legal em 1993. A atração matinha confronto direto em audiência com Fausto Silva, que liderava o horário com o Domingão na Globo.

O novo programa de Gugu trouxe quadros que marcaram a década, como Banheira do Gugu, Táxi do Gugu e Acordando Famosos, além de dar fama à dupla formada por Rodolfo e ET. O primeiro lugar na audiência oscilou ao longo dos anos.

O Domingo Legal bateu Faustão pelo sétimo domingo consecutivo em dezembro de 1997. Segundo dados do Ibope publicados pela Folha de S.Paulo, foram picos de audiência de 24 pontos contra 16 do programa rival.

Eliana de Lima e Mamonas Assassinas são entrevistados pelo Gugu no Domingo Legal - Moacyr dos Santos/SBT - Moacyr dos Santos/SBT
Eliana de Lima e Mamonas Assassinas são entrevistados pelo Gugu no Domingo Legal
Imagem: Moacyr dos Santos/SBT

Com os bons resultados, Silvio Santos mantinha atrações durante a noite, mantendo confrontos diretos com Fantástico.

A atração da Globo perdeu pela primeira vez para Silvio Santos em setembro de 1991, quando o dono do SBT inverteu os horários do Show de Calouros e do Topa Tudo por Dinheiro. O apresentador manteve 36 pontos no Ibope contra 31 da emissora carioca.

As eventuais vitórias do SBT foram temas de comerciais da emissora quando ocorreram.

Interesse por 'Chaves'

Presente na programação do SBT desde os anos 1980, o sucesso do seriado mexicano "Chaves" (1972) também incomodou a Globo em 1996.

A emissora carioca ofereceu, na época, US$ 10 milhões pelos roteiros de Roberto Bolaños, criador e protagonista do seriado, segundo Florinda Meza, intérprete de Dona Florinda.

Ela comentou sobre o tema em entrevista à apresentadora Adela Micha em janeiro deste ano. A atriz disse que a ideia da Globo era produzir novas obras utilizando-se da história e dos personagens.

Segundo o relato, Bolaños recusou a proposta alegando fidelidade à Televisa, emissora mexicana detentora oficial dos direitos da obra.

Novelas importadas e da casa

Silvio Santos insistiu na compra de novelas mexicanas durante os anos 1980, mas só viu resultados na década seguinte.

Marimar (1996) teve média semanal de 15 pontos no Ibope (cerca de 1,2 milhão de telespectadores na Grande São Paulo), publicou a Folha de S. Paulo na época.

"Maria do Bairro" estreou no SBT em 19 de fevereiro de 1997, no mesmo horário de Marimar, e incomodou o Jornal Nacional (Globo) com médias de até 23 pontos.

Com seis exibições, é a segunda novela mais reprisada no Brasil. A primeira colocada é "A Usurpadora" (1998), outro grande sucesso mexicano exibido pelo SBT em sete oportunidades.

Os bons resultados motivaram a emissora de Silvio Santos a produzir suas próprias novelas.

A versão brasileira de "Chiquititas" (1997), "Fascinação" (1998) e "Pérola Negra" (1999) renderam bons resultados nos anos 1990 — a última bateu 20 pontos de audiência em sua reta final, conforme divulgado pela Folha de S. Paulo na época.

Patrícia de Sabrit (Pérola) e Dalton Vigh (Tomás) em cena de "Pérola Negra" - Reprodução/SBT - Reprodução/SBT
Patrícia de Sabrit (Pérola) e Dalton Vigh (Tomás) em cena de "Pérola Negra"
Imagem: Reprodução/SBT