Marco Luque 'pede gorjeta' como Jackson Faive: 'Quero defender os motoboys'
O humorista Marco Luque, 48, está de volta aos palcos com o melhor de seu repertório em dois espetáculos de peso. Em "Todos Por Um", agora em cartaz no Rio de Janeiro e em São Paulo, ele se desdobra em sete de seus principais personagens para brindar a plateia com uma apresentação hilariante.
Na peça "Dilatados", em cartaz na capital paulista, a ação se restringe a apenas dois tipos da galeria de Luque. Um deles é Mustafary - um vegetariano irônico e controverso, que prega a sustentabilidade do planeta, diz amar a natureza e os animais (especialmente o Serumaninho, cachorro que encontrou na praia).
Já o outro é Jackson Faive, motoboy conhecido pela maneira peculiar de se expressar e pelas gírias excêntricas de seu vocabulário - não por acaso, um dos papéis mais populares do artista.
"Ao todo tenho uns 15 personagens, mas o Jackson Faive é muito forte. Tem uma receptividade muito boa", festeja Luque, em bate-papo com Zeca Camargo no programa Splash Entrevista.
Se, por um lado, o riso nessas performances é garantido, por outro a coisa não termina aí. Mais do que simplesmente entreter e divertir, o comediante acredita que seu humor tem um papel na sociedade.
"Quando eu faço um personagem, quero defender aquela galera [que ele representa]. Não estou me apropriando [da classe] para fazer humor apenas, estou dando voz a uma classe - são 5 milhões de motoboys pelo Brasil inteiro", enxerga.
"Se você ver meu texto, eu falo: pô, jhow, tem que dar gorjeta, não é para dar só estrelinha no aplicativo, nós não estamos no Mario Kart, mano. Então a galera curte. As pessoas começaram a ver os motoboys de um jeito diferente" Marco Luque
CQC: o início de tudo
Marco Luque é hoje, certamente, um dos nomes mais conhecidos do humor nacional. Essa trajetória de sucesso começou no CQC - Custe O Que Custar, adaptação de um formato argentino que a Band produziu por aqui, entre 2008 e 2015, e foi responsável por revelar grandes talentos da comédia, como Rafinha Bastos, Danilo Gentili e, claro, o próprio Luque.
"Para mim, o CQC foi o meu projeto mais importante na TV. Foi ali que adentrei [pela primeira vez] a um projeto realmente significativo, onde pudemos ser uma opção para a população brasileira sobre como receber i[nformações] sobre política", recorda ele.
Marco vai além: para ele, a atração da Band contribuiu de forma decisiva para a formação e conscientização política da geração atual. "Muitos adolescentes [da época] perceberam a importância do voto graças ao CQC", defende.
Os limites do humor
Fazer comédia atualmente talvez não seja tão confortável quanto costumava ser algumas décadas atrás. Há, inclusive, quem questione a necessidade de evitar piadas que possam reforçar o preconceito contra negros, homossexuais e pessoas obesas, entre outras minorias.
Marco Luque, entretanto, assegura não ver essa questão como um problema. "Acho que o humor evolui. Eu já tirei piadas dos meus textos por perceber que hoje em dia não encaixam mais. Tive uma criação machista, mas agora estamos constantemente prestando atenção em nos ressignificar e melhorar."
"Hoje em dia não combina mais você fazer uma piada imitando um viadinho - você lê na plateia a reação [negativa]." Ele admite, inclusive, que já aposentou uma de suas criações para estar em dia com as pautas modernas.
"Eu botei um personagem na prateleira sim, que é o Esquerdinha, um preto velho, ex-jogador de futebol... Pelo fato de eu pintar minha pele [recurso artístico de iniciativa duvidosa, conhecido como blackface], achei melhor segurar", revela.
"Não sou cabeça dura, 'piada acima de tudo'. Acho que a gente tem que jogar conforme o movimento, conforme a dança. A minha arte é de uma transformar em outra pessoa. De nenhuma força faria isso para ridicularizar uma classe", afirma.
Influenciador ou influenciado?
Há quase 15 anos na mídia nacional, não é de se estranhar que Marco figure entre as principais influências de muitos comediantes que vieram depois. Ele enxerga com orgulho essa inspiração - mas confessa que, particularmente, não gosta de beber da fonte dos colegas.
"Não vejo muito os outros humoristas, porque acho que tenho mais chance de surpreender se criar do zero ao invés de ficar reparando por aí. Mas percebo que tem muito trabalho de humoristas por aí que têm como referência o meu trabalho", gaba-se.
Isso não quer dizer, entretanto, que Marco não aprecie a companhia dos colegas do riso, sobretudo nos bastidores dos espetáculos.
"É muito legal [essa convivência]! Quando se participa de um festival [de humor], sobra uma merrequinha de dinheiro para cada um, mas é tão legal a coxia, o camarim... A gente aproveita para fazer todas as piadas proibidas que a gente não pode fazer no palco", brinca.
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