Ben Affleck e Matt Damon reatam parceria em Air: 'Não sabíamos o que fazer'

"Gênio Indomável" ainda é a grande referência do cinema quando falamos sobre a dupla Ben Affleck e Matt Damon. Não que seja o único filme que os dois fizeram juntos mas, diante de seu significado para as carreiras de ambos (com um Oscar de melhor roteiro), tornou-se um marco da "reinvenção" dessa dupla. 26 anos depois, "Air" sedimenta essa parceria como o primeiro lançamento da produtora fundada por eles, Artists Equity.

Já nos cinemas, o filme tem direção de Affleck a partir do roteiro de Alex Convery, e conta a história de um dos contratos mais ambiciosos do marketing esportivo: quando a Nike resolveu apostar tudo em uma linha de tênis exclusiva para Michael Jordan.

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Diante dessa premissa, o filme tece uma reflexão sobre autoconhecimento e a importância de se brigar para ser reconhecido pelo próprio potencial, o que se torna um comentário ainda mais poderoso por estarmos falando sobre um homem negro, de origem simples.

"Não achei que seria necessariamente apropriado que eu tivesse uma opinião sobre essa questão", diz Affleck, sobre a capitalização da cultura negra, um dos temas que passam pelo filme.

"Em outras palavras, ninguém quer saber qual a opinião de Ben Affleck sobre como atletas negros foram explorados e marginalizados através da história. Mas isso precisa ser dito, porque é a verdade."

O diretor interpreta o excêntrico Phil Knight, criador da Nike, que a princípio é bastante reticente com a ideia de prospectar Michael Jordan. Ambientado em 1984, o filme introduz uma Nike que tinha apenas 17% do market share na liga de basquete (NBA), ficando atrás de Converse e Adidas.

Naquele momento, a Nike era majoritariamente conhecida por seus tênis de corrida. O Air Jordan foi a grande transformação da marca, e nada seria possível sem uma parceria justa com Michael Jordan.

"Isso é parte da história, e uma das razões por que o acordo entre Nike, Michael e Deloris [Jordan, interpretada por Viola Davis] foi tão significativo. Não consertou erros históricos, mas deu um passo rumo a uma justiça básica."

Parceria de vida

"Air: A História por Trás do Logo" é o primeiro filme lançado pela Artists Equity, produtora dos dois financiada pela RedBird Capital Partners. Mas como demorou tanto tempo para uma amizade de 40 anos entre dois grandes astros de cinema gerar um fruto deste tipo?

"Quando fizemos 'Gênio Indomável', demorou muito tempo para conseguirmos escrever, porque não sabíamos o que fazer", confessa Matt Damon. "Então, nós olhamos e pensamos: 'por que deveríamos fazer isso?'"

"Quando nos reunimos para 'O Último Duelo', percebemos que nós dois nos beneficiamos de fazer alguns filmes por algumas décadas à nossa própria maneira. Nós escrevemos muito mais rápido e nos divertimos muito. E aí pensamos: cara, por que não estamos fazendo isso? Vamos voltar'."

Para o ator de "Perdido em Marte" (2015), não há uma separação entre a relação pessoal e profissional com Affleck. Os dois são amigos desde a infância, no início dos anos 1980, quando moravam a apenas algumas quadras de distância em Cambridge, Massachusetts.

"Tudo está misturado, não sei se realmente se separa. Marlon [Wayans] trabalha muito com os irmãos dele, e parece que tudo é parte de quem você é, de certa forma, porque estamos o dia todo tentando resolver problemas criativos, chamando grandes atores para ajudar... acaba sendo uma desculpa para passarmos tempo juntos."

Muito além de um simples tênis

A escolha de não mostrar o rosto do ator interpretando Michael Jordan no filme (Damian Young) foi proposital, tanto para manter a aura do esportista intocada quanto para que fique claro que não se trata de uma biografia dele, e sim de um filme sobre o nascimento do Air Jordan.

Ainda assim, é claro que os simbolismos vão além.

"Eu sinto que, para muitas pessoas, sobretudo pessoas pretas, esse é o símbolo mais importante de excelência negra. Ser cuidadoso com essa história, com essa parte da riqueza que ele criou, é muito significativo. É um passo em uma longa estrada que as pessoas enfrentam em busca de equidade, e da qual permaneço apoiador, em conhecimento e admiração."

Mesmo se declarando um aliado, Affleck demonstra humildade ao reconhecer que outros olhares são mais que bem-vindos.

"Se eu quiser um ângulo específico, eu posso perguntar a Chris [Tucker], a Viola [Davis], ao Marlon. Eu tive a oportunidade de trazer outras pessoas para que elas dissessem algo, e pedir a elas que usassem suas próprias vozes nessa narrativa.

Conquistando Viola Davis

Uma das exigências de Michael Jordan para que desse seu aval para o filme era que Viola Davis interpretasse sua mãe. Ao The Hollywood Reporter, Affleck contou que teve medo de não conseguir, mas que era seu sonho de carreira um dia poder dirigir a vencedora do EGOT em algum projeto.

A Splash, o ator e diretor conta que foi apenas o porta-voz da conquista.

"Não foi por eu ter ligado que ela topou", esquiva-se. "Eu disse: 'Olha, eu sempre quis trabalhar com você. Por coincidência, Michael Jordan também gostaria que você interpretasse esse papel'. Então, eu acho que isso ajudou", constata.

"Particularmente, não acho que exista alguém melhor do que Viola nesse mundo. Sei que as pessoas dizem isso em entrevistas o tempo todo, mas é verdade. Trabalhar com ela sempre foi um sonho para mim."