70 mil rituais: a história real do 'Exorcista do Papa' que inspirou filme
Chegou aos cinemas na última quinta-feira o filme "O Exorcista do Papa". O longa é inspirado em uma figura que teve destaque na Igreja Católica: o padre Gabriele Amorth, responsável por 70 mil rituais contra espíritos demoníacos, segundo relato próprio.
Apesar do grande número de rituais, relatos contam que o clérigo manteve a leveza do espírito. Ele começava seus rituais debochando do diabo e contando piadas. "Sabe por que o diabo foge quando me vê? Porque eu sou mais feio do que ele", dizia ele.
A explicação do padre, segundo o ator Russell Crowe, é porque "o diabo não gosta de piadas". O vencedor de três estatuetas do Oscar é o responsável por dar vida ao clérigo na luta do bem contra o mal no filme.
"Gabriele tinha uma pureza de fé que lhe conferia um maior nível de coragem e bravura para fazer o seu trabalho. É uma empreitada muito tenebrosa — você está lidando sobretudo com pessoas que estão sofrendo profundamente. A maioria delas precisava de ajuda psicológica — e ele encaminhou cerca de 98% dos seus casos para profissionais da área médica. Ele acreditava que poucas vezes eram realmente possessões demoníacas. Quando ele se deparava com algo inexplicável, ele era capaz de reconhecê-lo", afirma Crowe em mensagem enviada a Splash.
Afinal, quem foi Gabriele Amorth?
Nasceu em 1925 na cidade de Modena, no norte da Itália, e faleceu em 2016, aos 91 anos, por decorrência de problemas pulmonares.
Filho caçula de um advogado, aos 17 anos foi a Roma para conversar com um padre sobre como se tornar sacerdote. Ele recebeu a resposta de que era novo demais e precisava viver um pouco antes de seguir a sua vocação.
Na 2ª Guerra Mundial, o jovem foi recrutado para o exército italiano, mas logo mudou de lado e se tornou um guerrilheiro na luta contra os fascistas e os nazistas.
Após a guerra, Amorth entrou para a faculdade de direito, mas sua vocação nunca o abandonou. Em 1951, foi ordenado ao sacerdócio.
Em 1986, Roma o designou para auxiliar o padre Candido Amantini, então o principal exorcista do Vaticano. Quatro anos depois, ele fundou a Associação Internacional de Exorcistas e, em 1992, quando Amantini morreu, ele se tornou o exorcista chefe.
O que Gabriele Amorth disse em vida?
Além de exorcista, ele também foi jornalista, dirigindo a revista Madre di Dio, e escritor. Publicou dezenas de livros sobre o tema, como "Um Exorcista Conta-nos" e "Novos Relatos de Um Exorcista", que serviram de inspiração para o filme.
No livro "O Último Exorcista", o clérigo afirmou que "o mundo está sob o poder do diabo". Ele chegou a dizer que Adolf Hitler e Josef Stalin estavam possuídos pelo demônio, o que explicaria os crimes cometidos pelos ditadores.
Em 2012, ao site italiano Libero, ele relatou como foi o seu primeiro encontro com o diabo.
"De repente, eu tive a nítida sensação de uma presença demoníaca na minha frente. Senti o demônio me olhando, me examinando, se movimentando ao meu redor. O ar ficou frio. Um amigo exorcista já tinha me falado dessas mudanças bruscas de temperatura. Mas uma coisa é ouvir falar e outro é viver a experiência", narrou ele.
Querido pelo Vaticano e pelos fiéis, Armoth também emitiu opiniões polêmicas. Ele acreditava que a saga Harry Potter era diabólica, afirmando que "a magia é sempre um caminho para o diabo". Também era contra a prática de yoga. "Praticar yoga é satânico, leva ao mal como a leitura de Harry Potter".
Além disso, foi intolerante a outras religiões. Criticou, por exemplo, o hinduísmo ao afirmar que é uma religião baseada em "crenças falsas na reencarnação".
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