Rodrigo Sant'Anna: 'Se for embalado para inglês ver não é meu propósito'
Rodrigo Sant'Anna, 42, viu a série "A Sogra Que Te Pariu" fugir da sina de cancelamentos nas plataformas e ser renovada pela Netflix para uma segunda temporada, que estreou hoje na plataforma.
Em entrevista a Zeca Camargo no Splash Entrevista, o ator afirmou que a representatividade de contar uma história que reflete a sua vida e o meio em que cresceu é essencial para que ele se sinta realizado com o resultado.
"Eu sou gay, preto, favelado e suburbano. Para eu reconhecer um produto da minha autoria, tem que ter todo mundo. Se não estiver, parece que está embalado para inglês ver, o que não é o meu propósito", diz.
Na sitcom, a personagem Dona Isadir, interpretada por Rodrigo Sant'Anna vive o choque cultural de trocar sua vida no Cachambi, bairro de classe média da zona norte carioca, pela Barra da Tijuca.
"Tenho 41 anos, e vivi quase 30 em comunidade ou subúrbio", conta ele, que tentou imprimir ao atual projeto toda a diversidade humana tão própria desse ambiente. "Numa comunidade, tem toda a qualidade de pessoas. Acho que é esse bem bolado que a gente traz para a série."
História real da pandemia
A personagem é uma senhora temperamental que estremece o casamento do filho, Carlos (Rafael Zulu), ao mudar-se para o apartamento dele durante a pandemia - e passar a protagonizar diversos atritos com a nora, Alice (Lidi Lisboa).
Também autor da série, Rodrigo confessa ter inspirado a narrativa em uma experiência pessoal - vivenciada enquanto ainda era casado com o roteirista Júnior Figueiredo, de quem se separou no segundo semestre de 2022.
"A minha mãe foi morar comigo durante a pandemia, e eu vivi aquilo [que está no programa] com o meu ex-marido. Era exatamente o que a gente passava na casa, com minha mãe se metendo nas coisas...", recorda o comediante.
'Ainda me sinto observado se fizer carinho em um namorado'
Rodrigo Sant'Anna é muito bem resolvido quando se trata de sua sexualidade. Após ter mantido um casamento de três anos com outro homem, ele não vê essa questão pessoal como tabu e festeja a evolução que a sociedade brasileira tem conquistado no sentido do respeito às diferenças.
O que não significa que essa longa jornada tenha chegado ao fim. "Ainda me sinto incomodado na rua se estiver beijando o meu ex, por exemplo. Ainda me sinto observado se eu for fazer carinho num namorado", admite o humorista.
As prospecções para o futuro, entretanto, são otimistas na visão dele, inclusive a partir do que já se vê no presente. "A geração atual, de 17, 18 anos, consegue lidar com essa situação [das diferenças de gênero e sexualidade] de uma maneira mais fluida", festeja.
A inesquecível Valéria
Quem acompanha Rodrigo desde seus inícios na telinha certamente se lembrará de Valéria, a tresloucada personagem do Zorra Total (Globo) que vivia aprontando no metrô com sua amiga Janete (Thalita Carauta) e ficou marcada pelo bordão "Ai, como eu tô bandida!".
Não ficar marcado por um personagem de tanto sucesso é certamente um desafio para qualquer ator - mas, hoje, Rodrigo acredita ter chegado lá. "Nesse momento, sinto que a Valéria ficou para trás. Acho até que tem outros personagens, entre a Valéria e a Isadir, que já tomaram o espaço da Valéria", alegra-se.
Ficar famoso por viver tantos papéis femininos - Rodrigo também interpreta Maria da Graça na sitcom "Tô de Graça" (Multishow), desde 2017 - está longe, aliás, de ser um incômodo para o humorista.
"Adoro fazer mulher. Na minha vida, as mulheres sempre foram mais fortes do que os homens. Por isso, sempre estive interessado nesse universo. [Com a Isadir] quis explorá-lo sob uma outra ótica - e, ainda assim, dentro de uma suburbana", analisa.
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