Heloísa Périssé após câncer: 'Soltei o freio de mão e fui no fundo do poço'
Heloísa Périssé, 56, em entrevista ao O Globo.
Descobriu o câncer antes mesmo de existir. "Descobri que sou assim: estou aqui e ouço essa árvore falando [aponta para o jardim de sua casa]. E oro a Deus para que eu consiga romper os cinco sentidos, que expanda minha consciência e me revele coisas grandes e ocultas"
Metáfora do ânus após a cura. "Foi o momento de ir no c* para sofrer a transformação. Por que é ele quem rege o medo, né? Deu ruim, você fecha aquilo e não passa nem wi-fi [risos]. Soltei o freio de mão e fui no fundo do poço. Como a poesia de Khalil Gibran que diz que, quando o rio está chegando no mar, ele tem medo. Só que isso é inexorável. Uma hora, ele relaxa e vai. E, ao se fundir, descobre que só ganhará porque era o oceano também"
Quando a gente perde o medo de perder, é que a vida acontece. Porque o medo é um um parasita. Por isso, deixo filho se foder um pouco. Fico na retaguarda, mas deixo. Crio minhas filhas para poder morrer tranquila. Controle é ego, é ilusão, é o que traz o sofrimento. Quando você vai contra, cria força oposta, mas ao se harmonizar, a coisa vai para o lugar que ela tem que ir Heloísa Périssé
Superação da doença ao trabalhar a aceitação. "Descobri que, lá no fundo, a gente encontra a cama elástica que precisa para voltar melhor. Nosso tabu com a morte é que a gente não vivencia nossos ritos. Morremos quando deixamos de ser criança, quando nos tornamos adultos... De morte em morte, chegamos à vida. Fui obrigada a trabalhar meu espírito. Assim como a gente pega um peso e faz o tríceps. Dá para exercitar a alma freando um mau pensamento, pedindo a Deus que amplie o seu olhar."
Saudades do sorriso após perder movimentos da boca. "Isso é o espinho na carne. Coisas que ficam para você olhar e dizer: "Passei." Mas se você me pergunta se isso me leva a parar, respondo que me leva. Porque me limita. Eu tinha um sorriso muito aberto e bonito. Eu tenho saudades dele. Agora, tenho desejo de começar a me despedir da frente das câmeras, do palco e fazer o movimento de escrever as minhas histórias, dirigir, quem sabe?
Inclusão de mulheres no humor. "Se lembrarmos tempos antigos, nenhum homem diria feliz "pô, saí com uma engraçada ontem". O cara queria sair com uma peituda. A mulher que vai olhar uma situação, falar uma sacanagem ou expor o outro, causa medo. Nós, comediantes, já nascemos numa contramão da vida, remando contra a maré. E antes, a mulher entrava na comédia como? A feia, que até tinha o direito de ser engraçada, a gostosa ou a burra."
Dani Calabresa já disse que, se o mundo fosse justo, homem gozava Nutella. Uma mulher falar isso... Homem xingando todo mundo acha ok. Esse estigma de coroa de princesa desequilibra a gente. Mas a comediante pega essa coroa e joga longe Heloísa Perissé
Comparação do humor com o sexo. "Tem coisas inconcebíveis hoje. Como a piada que diz que pobre sobe na vida quando o barraco explode. Não dá para ficar rindo das mesmas coisas até virar o tiozão do churrasco. Acho também que humor é como sexo: 'Tem que ser bom para os dois'. Se faço uma piada com você e todos nós rimos, inclusive você, essa piada valeu. Agora se todo mundo riu menos você, fica esquisito"
Boa relação com o sexo. "Se me perguntam se sou heterossexual ou homossexual, respondo: "Sou maurossexual." Focada nele. Agora, então, que voltei a fazer minha reposição hormonal... Acho que os Farias são bons na coisa, porque eu estou bem, Andréa Beltrão [casada com Maurício Farias] está bem, Paula Toller [com Lui Farias] é um fenômeno a ser estudado."
Crítica sobre o etarismo. "Essa história de que mulher não pode ter cabelo comprido ou sei lá o que depois dos 50 é pura babaquice... A mulher de 50 hoje é a de 30 em energia. Decidi uma coisa: 'Eu não envelheço, eu atualizo'"
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