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'Estavam tristes e eu sorrindo': como Sebastian, ex-C&A, fez sucesso na TV?

Sebastian, que foi garoto-propaganda da C&A por cerca de 20 anos, também é ator  - Reprodução/Instagram
Sebastian, que foi garoto-propaganda da C&A por cerca de 20 anos, também é ator Imagem: Reprodução/Instagram

De Splash, em São Paulo

20/04/2023 04h00

Sebastian Soul, nome artístico de Sebastião Aparecido Fonseca, 57, era presença cativa na televisão brasileira entre os anos de 1990 e 2000. O ator, que foi garoto-propaganda da C&A por cerca de duas décadas, ultrapassou os limites da publicidade e se transformou em uma figura conhecida nacionalmente.

O artista estrelou a campanha "Abuse e Use", em 1990, e com isso se tornou o primeiro garoto-propaganda negro do Brasil. A peça publicitária, no entanto, chegou em um momento delicado para os brasileiros: o confisco da poupança realizado durante o governo de Fernando Collor.

"Todo brasileiro estava numa situação meio deprimente em relação às finanças. Eu era o contraponto, as pessoas estavam tristes e eu estava sorrindo. E eu vejo que aquele foi um momento no qual o brasileiro estava se vendo num perrengue muito grande", contou o ator, em entrevista a Splash.

À época, o governo federal anunciou um pacote econômico batizado de Brasil Novo — popularmente conhecido como Plano Collor —, que tinha por objetivo a estabilização da inflação. Entre as medidas adotadas, porém, estava o confisco de 80% das aplicações bancárias. Foi neste contexto que Sebastian surgiu no cenário nacional.

Entretanto, ainda que o país voltasse a enfrentar outros momentos de instabilidade, o ator permaneceu sendo a certeza de um sorriso diante de telas espalhadas pelos quatro cantos. Segundo ele, o otimismo e o bom humor nas propagandas também refletiam traços da própria personalidade.

"Eu diria que o resultado do personagem estava incrustado à minha centelha, à minha alma. Tudo que eu faço. Se sou hoje uma pessoa conhecida nacionalmente, isso se dá pela aprovação do povo brasileiro. Eu não poderia jamais abrir mão desse sentimento de gratidão."

Rotina e sucesso

Sebastian  - Reprodução/Instagram  - Reprodução/Instagram
Sebastian tem 57 anos
Imagem: Reprodução/Instagram

O garoto-propaganda viajou o mundo como rosto da marca. Ao longo do período de contrato o artista gravou peças publicitárias em países como Estados Unidos, Inglaterra e França. Cada filme contava uma história e, por isso, a rotina de gravações era um tanto imprevisível.

"Eu estive rodando em vários lugares do mundo e do Brasil, gravando imagens para contar uma história através dos filmes publicitários. Então, não tinha uma rotina. Dependia do tema, do ano, da economia que se estabelecia naquele ano. Existia sempre uma dinâmica muito forte."

A percepção quanto ao sucesso foi gradual. "Eu venho da dança, do teatro, da literatura e do universo da música. Todas essas influências pelas quais eu sofri, com os artistas pelos quais eu estive convivendo, como Oswaldo Montenegro, Cássia Eller e outros mais, isso veio trabalhando a minha relação com o público e veio crescendo."

A parceria com a marca se encerrou em 2010. Hoje em dia, ele se descreve como "ativista ambiental", segue com trabalhos na propaganda e está envolvido com a ONG Recomeçar 360, que reintegra à sociedade pessoas egressas do sistema penitenciário.

Primeiro garoto-propaganda negro

Sebastian  - Reprodução/Instagram  - Reprodução/Instagram
Sebastian é considerado o primeiro garoto-propaganda negro do Brasil
Imagem: Reprodução/Instagram

Sebastian foi o primeiro garoto-propaganda negro do Brasil. O artista acredita que a presença nas propagandas da multinacional fez o mercado olhar para dentro do país e enxergar o potencial econômico e social da diversidade.

"Com a minha presença na mídia, no caso a C&A, ela tinha 20 lojas e ao longo da minha relação eu a deixei com 200. Ela tinha um faturamento astronômico. E aí os empresários, eu imagino, que devam ter visto e falado: 'A gente não está olhando para o Brasil como ele é. A gente está rasgando dinheiro'."

Para o ator, quando as empresas deixam de olhar para a pluralidade elas também estão perdendo uma infinidade de possibilidades. "Eu creio que a minha presença na mídia gerou esse impacto, essa atenção. O próprio negro se vê presente e representado quando me vê ali dançando, atuando".