Izabella Camargo: 'Prestígio da Globo me fez negligenciar a saúde'
Izabella Camargo, 42, apresentava a previsão do tempo em um telejornal da Globo, em 2018, quando travou no momento em que falaria sobre o Paraná, pois esquecera da palavra "Curitiba". No "apagão", a jornalista sentiu falta de ar, enjoo, tontura, a visão ficou turva, o corpo quente e as extremidades geladas.
Hoje, cerca de cinco anos após ser diagnosticada com síndrome de burnout e ter se reinventado profissionalmente, a resposta da apresentadora para o que faz é bem diferente: "Trabalho com resgate de pessoa".
Em conversa exclusiva com Splash, a profissional falou das experiências pessoais que mudaram a própria vida, as demissões em massa no jornalismo — e também fora dele — e suas ideias para melhorar o ambiente de trabalho nas empresas.
"Todo lugar com o prestígio que a Globo tem faz você se negligenciar. Quando seu corpo está doendo, ou quando uma dor te acomete, você vai se anestesiando, vai buscando vitamina, tomando café e energético. Fiz muitas consultas para continuar trabalhando bem", diz a jornalista.
Em março passado, Izabella Camargo venceu um processo movido pela Globo contra ela. A emissora da família Marinho pedia a retenção de R$ 500 mil do valor da indenização de R$ 1 milhão por considerar que a ex-funcionária teria violado uma das cláusulas do acordo entre as partes — de não falar sobre a conduta da empresa diante da doença.
À reportagem, ela preferiu não se manifestar a respeito do processo. Procurada à época da decisão do TST (Tribunal Superior do Trabalho), a Globo disse que não comenta "casos sob judice". O acordo foi feito após Izabella ter sido demitida ao retornar de licença médica e ter sido reintegrada por decisão da Justiça.
Ao analisar o que leva uma pessoa ao burnout, no entanto, a apresentadora cita a negligência com a própria saúde em razão do prestígio de empresas como a emissora.
Embora tenha levado o assunto à Justiça, ela também ressalta as qualidades da antiga empregadora. "Trabalhar na Globo foi muito legal. Aprendi demais. Foi legal demais trabalhar lá. O burnout que eu tive lá poderia ter acontecido em outro lugar com as mesmas características."
"Fiquei um ano sem dirigir. Fiquei meses sem compreender um texto. Ou uma mensagem. Recebi uma mensagem pelo WhatsApp e não consegui compreender o que estava escrito ali", complementa.
Ela afirma que o ponto em comum das pessoas com burnout é estar em um lugar em que os recursos são inferiores às demandas e há algum tipo de assédio. "Está na hora de a gente colocar CPFs e CNPJs falando a mesma língua."
Hoje, Izabella Camargo se define como especialista em produtividade sustentável e presta consultoria às empresas sobre o equilíbrio entre produção e limites individuais de cada colaborador. O tema se transformou no livro "Produtividade sustentável", que será lançado no segundo semestre deste ano.
"Foi um movimento que eu comecei a desenvolver depois de ter ficado bem, para as empresas [...] Eu estou no melhor momento da minha vida podendo levar essa mensagem nas empresas ou pelas minhas redes sociais. Produzindo um conteúdo que é para a prevenção de burnout, e de qualquer coisa que o excesso de estresse produza."
Demissões em massa
A Globo promove uma série de demissões em um processo de reestruturação e redução de custos iniciado em 2018. Os cortes já atingiram grandes nomes do jornalismo e do esporte, como César Galvão, Mônica Sanches, Giuliana Morrone e Cleber Machado. O mesmo movimento também acontece em outras áreas e empresas do mercado de trabalho.
"Não estava preparada para ser demitida quando voltei de licença médica. Quem estaria? Ninguém. Quando vejo demissões em massa, eu me pergunto quantas dessas pessoas já estavam observando os movimentos externos. É uma atualização de identidade. Se o mercado muda, o produto muda e as pessoas que fazem também podem mudar."
Izabella ressalta a importância do profissional, seja de qual área for, de se colocar como o grande responsável pela carreira e estar atento ao que está acontecendo ao redor.
"Se nós somos a geração, a primeira geração, depois de uma, que ouviu que chegar em determinados lugares seria sinônimo de estabilidade, precisamos dizer que isso não existe mais. Não, é só um ponto de passagem."
Depois de tudo o que viveu, a jornalista faz questão de reafirmar que vive a melhor fase da vida. "Descobri isso de forma involuntária. Estou vivendo a melhor fase da minha vida porque tenho consciência do impacto da minha mensagem para a prevenção de qualquer perda que os excessos vão provocar."
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