Como Drake foi parar em música que não cantou (e o futuro das IAs)
De Felipe Neto a Gilberto Gil, todos estão de olho no futuro da inteligência artificial. Foi o que ficou claro durante a Rio2C 2023, em que este foi um dos principais assuntos do evento voltado para a indústria criativa.
À medida que as descobertas tecnológicas avançam e tomam maiores proporções, o tema levanta debates no meio da comunicação. Seremos, afinal, todos substituídos por robôs?
As questões vão se tornando mais complexas quando entram no assunto dos direitos autorais, e levantam uma questão: como o uso das inteligências artificiais pode se tornar algo prejudicial para criadores, artistas e escritores?
Um exemplo recente que repercutiu em proporções mundiais foi o surgimento de uma canção com as vozes de Drake e The Weeknd, chamada "Heart on My Sleeve". A música rapidamente acumulou 600 mil reproduções no Spotify, 15 milhões de visualizações no TikTok e 275 mil no YouTube, segundo o jornal The Guardian.
Mas o que poderia ser o "feat" do momento era nada mais do que uma música criada por uma pessoa usando inteligência artificial.
A viralização a contragosto de Drake não foi o primeiro e tampouco o último uso de deepfakes e inteligências artificiais a gerar processos por infrações contra a propriedade intelectual. Em ocasiões anteriores, Jay-Z e Eminem já moveram ações contra o YouTube pela reprodução de canções que usaram tecnologias para incluir suas vozes de forma não-autorizada.
A composição foi retirada das redes na última semana a pedido da Universal Music Group, que condenou "Heart on my Sleeve" como "conteúdo infrator criado com inteligência artificial generativa". Segundo a gravadora, esse tipo de conteúdo representa um risco para o setor criativo.
"[Isso] demonstra por que plataformas têm uma responsabilidade legal e ética de prevenir o uso de seus serviços de uma forma que possa prejudicar os artistas", afirmou a UMG em comunicado enviado à revista Billboard.
"O treinamento de IAs usando a música de nossos artistas (o que representa uma violação de nossos acordos e uma violação da lei de direitos autorais), bem como a disponibilidade de conteúdo infrator criado com IAs, levanta a questão de qual lado da história todas as partes interessadas no ecossistema da música querem estar: do lado dos artistas, fãs e expressão criativa humana, ou do lado das falsificações profundas, fraudes e negando aos artistas sua devida compensação", disse um porta-voz da UMG em comunicado enviado à revista.
Ser humano ou máquina?
Ao longo dos dias de palestras na Cidade das Artes, zona oeste carioca, autoridades em variados setores da indústria cultural destacaram que é importante olhar para a nova tecnologia não apenas para compreender o futuro do mercado, mas para desenvolver a capacidade de proteção contra eventuais pontos cegos que ela possa provocar.
Felipe Neto, por exemplo, está preocupado com a possibilidade de esquecermos o de faz de nós, de fato, humanos.
"A inteligência artificial é um fenômeno que pode tirar do potencial humano a nossa capacidade criativa e jogá-la para uma máquina", opinou. "E isso para mim é um assassinato da parte humana. Temos que usar a tecnologia a nosso favor, mas nunca substituí-la. Precisamos falar de regulamentação pública para esse uso, como em alguns países já está acontecendo."
Ex-ministro da Cultura, no cargo entre 2003 e 2008, Gilberto Gil chamou atenção para a criatividade humana ao dizer que o homem segue no comando.
"Tem uma música minha que diz, em resumo, que qualquer coisa que venha das máquinas vai estar em última análise regida por uma dimensão humana. A inteligência pode ser artificial, transartificial, pós-artificial, quem pluga e despluga é o ser humano. Ainda é o homem mandando nas máquinas, e não as máquinas mandando no homem."
O certo é que o tema desponta como um assunto prioritário na agenda de produtores de conteúdo e de arte. Não é diferente na esfera governamental, que começa a debater, pelo menos por enquanto, discussões envolvendo a inteligência artificial generativa - como o Chat GPT - e sua relação com o direito autoral.
"É complexo porque é um ambiente em constante mudança. É preciso a criação de regras para regular o que é criado pela IA. O que é criado pela máquina não é considerado uma obra porque, pela lei, é preciso ter uma pessoa de carne e osso na produção", pontuou Marcos Souza, secretário de Direitos Autorais e Intelectuais do Ministério da Cultura.
A rápida evolução das IAs foi tema em diferentes painéis, mas teve um espaço próprio durante a programação. A palestra "As novas janelas da Inteligência Artificial" trouxe reflexões sobre os impactos sociais e éticos do avanço dessa tecnologia e o papel da criatividade humana em um mundo cada vez mais impulsionado pela automação.
Sim, em um mundo em que robôs constroem textos a partir de comandos, a criatividade para fazer diferente ganha mais espaço no mercado.
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