'Piroc* com oração': como executiva virou apresentadora do Sex Privê
A rebeldia de doidão é ser careta. E foi isso que moveu a vida de Krishna Mahon até meados de 2019. Jornalista e profissional do audiovisual, de uma família considerada desconstruída e sem tabus, ela foi executiva de canais a vida inteira.
"Venho de uma carreira na televisão, mas sempre atrás das câmeras. De alguma forma, mesmo com esse nome, eu entrei em uma vida nesta ratoeira corporativa", conta.
Há cerca de quatro anos, foi contratada pela Band para fazer uma consultoria dos canais pagos. Isso incluía BandNews, BandSports, Arte1, Smithsonian, Terra Viva e SexPrivé - seu maior desafio.
"Eu não sou uma pessoa que consome conteúdo adulto, precisava me debruçar e aprender. Quando fui olhar o canal, a grade era só pornô. Para marcas, isso é uma questão. Até mesmo as que são ligadas a sexo são muito caretas", explicou Krishna ao UOL.
A sugestão dela foi simples: suavizar o conteúdo. Falar de sexo com humor, por exemplo. As ponderações dela foram acatadas pela chefia, e mesmo assim não chegavam projetos.
Gravei um vídeo, como sugestão para eles procurarem aquele tipo de material, contando um caso real de família, de uma tia-avó. E aí eles falaram: é isso que a gente quer. E a gente quer que você faça.
Até aquele momento, Krishna não tinha pensado que ir para a frente das câmeras poderia ser a solução. Mas topou. Neste momento, ela assumiu a apresentação do famoso Cine Privê - conhecido de todo uma geração pelo clássico Emmanuelle - na TV Band aberta.
Um tempo depois, o programa Sex Privê Club foi criado, e desde então preenche a grade da emissora nas madrugadas de sábado para domingo.
'Uma piroc* e um pedido de oração'
Com a aparição semanal na TV, o Instagram de Krishna começou a bombar. Não demorou para que nudes não desejados começassem a chegar por mensagem direta.
A primeira vez que eu recebi um nude na vida veio aquela piroc* gigantesca, parecia um braço de criança. Levei um susto. Na época, nem imaginava que não podia fazer isso, dei um print e mandei no grupo da família.
Quando parou para ler a mensagem, descobriu que o dono daquela foto era um instalador de papel de parede do interior do Piauí. "Ele falava: 'Você é uma pessoa tão iluminada, ora por mim. Se não chover, eu não tenho trabalho'", lembra. Krishna ficou com aquilo na cabeça.
"Primeiro, me deu um susto. Depois, uma certa ojeriza. E aí pensei: as ferramentas desse cara são tão precárias que ele realmente acha que, de fato, está dando o melhor que pode dar. A forma de afeto que ele encontrou foi o peru e a fé. É preciso dar colo para essas pessoas", acredita.
E foi assim que ela conquistou a audiência do programa. "Hoje eu recebo pouquíssimos 'perus ungidos'. Eles já entenderam que não pode mandar nude para quem não quer receber e que essa é uma forma de assédio. Mas a minha DM é um lugar mágico."
Ensinando com diálogo
Krishna Mahon conta que já recebeu muitas mensagens de homens a tratando como objeto. "Eu falo que ele não vai comer ninguém dessa forma. E que a 'phoda madrinha' quer que ele se conecte, tenha boas relações, fique feliz e não fique no 5x1 (outro nome para masturbação)."
A resposta do público a surpreendeu. Além de agradecerem, já aconteceu de mandarem foto da família e falarem que sonham com uma filha como ela: independente, dona do nariz e que não aceita desaforo de macho nenhum.
Isso para mim é melhor do que qualquer prêmio. Conseguir abrir a cabeça de alguém a ponto de ele conseguir olhar para as mulheres de outra forma.
Por não ser uma pessoa "do confronto", ela consegue dialogar sobre questões como não-monogamia e feminismo sem ir para o embate.
"Várias pessoas falam: 'não tinha pensado sobre isso, sempre tive preconceito com feministas, mas estou entendendo o que você está falando'. Não acho que a maioria das pessoas tenham preconceito por maldade ou má-fé, é ignorância", lembra.
Temas que têm impacto na vida do espectador
Entre os convidados do programa, Krishna já recebeu nomes famosos, como Bruna Surfistinha, e pessoas menos conhecidas. Em um dos últimos programas que foi ao ar, ela conversou com um ex-casal evangélico que fundou a maior sociedade privativa de swing do Brasil.
"É muito interessante e divertido estar nesse lugar, falando de coisas que para mim são tão simples, mas que para muita gente ainda choca e é um grande tabu. Que lindo que é possível a gente conseguir caminhos melhores para o afeto e para o desejo", observa.
Para ela, o sucesso do programa se justifica pela carência da audiência de conteúdos reais. Enquanto no conteúdo adulto o sexo é tratado no lugar de objeto de consumo, o Sex Privê Club está discutindo algo que pode ter impacto na vida das pessoas.
No fundo, eu estou ali falando de relacionamento, preconceito, desejo, tentativa de controle de desejo. A gente acaba desmistificando questões que são muito profundas através de uma linguagem muito tranquila.
"A gente está criando adolescentes que acham que o peru tem que ter meio metro, mulher sempre vai ter silicone e estar depilada. Isso é muito triste para a geração muito nova, terem acesso dessa forma ao conteúdo erótico", completa.
Por isso, ela fica feliz ao ser parada por pessoas na rua. "Quando um cara fala 'minha mulher te ama', eu sei que eles têm o diálogo aberto e prestam a atenção no que gostam ou não gostam. Alguma coisa está acontecendo neste casal."
Experimente mais prazer no sexo
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