Topo

A série mais fofa da Netflix volta (com muitos riscos) para a 2ª temporada

Christian Convery e Naledi Murray voltam como Gus e Wendy na segunda temporada de "Sweet Tooth" - Kirsty Griffin/Netflix
Christian Convery e Naledi Murray voltam como Gus e Wendy na segunda temporada de 'Sweet Tooth' Imagem: Kirsty Griffin/Netflix

De Splash, em São Paulo

27/04/2023 04h00

Era junho de 2021 quando "Sweet Tooth" desembarcou na Netflix com o apocalipse mais fofo de todos os tempos. Crianças híbridas entre humanos e animais em uma realidade de colapso econômico no meio de uma pandemia foi talvez a combinação perfeita para o momento em que o mundo real sofria duramente os efeitos da covid-19.

Quase dois anos depois, resta fôlego para uma história assim? Apostando na doçura da história e no carisma do elenco, a Netflix acredita que sim. Para o showrunner, Jim Mickle, adicionar luz e vivacidade a um ambiente pós-apocalíptico foi o segredo para "Sweet Tooth" se destacar na multidão de histórias do fim do mundo.

"Quando li os quadrinhos pela primeira vez em 2010, eu amei. Mas 'A Estrada', 'The Walking Dead' e um filme que fiz chamado 'Stake Land - Anoitecer Violento' foram lançados naquele ano, e todos tinham a mesma vibe apocalíptica que eu amava. Relendo as HQs em 2016, percebi que tudo parecia a mesma coisa, e eu não queria fazer aquilo de novo", conta o produtor, em entrevista a Splash.

"Acho que 'The Last of Us' meio que refez isso, mas eu queria trazer um sabor novo a essa dinâmica. E isso era Gus crescendo na natureza, nesse cenário natural na Nova Zelândia onde filmamos, e simplesmente não dá para deixar aquele lugar feio", ri.

Tudo isso culminou na reflexão que queríamos deixar: e se fizermos uma história de apocalipse em que as pessoas têm vontade de ir para aquele mundo?
Jim Mickle, showrunner de 'Sweet Tooth'

A nova temporada começa com Gus (Christian Convery) e os outros híbridos mantidos em cativeiro pelos Últimos Homens, usados como cobaias para experimentos que tentam encontrar uma cura para o Flagelo. Com isso, o menino-cervo acaba entrando em uma jornada sombria para descobrir suas próprias origens.

"Não senti necessariamente uma grande explosão de fama, mas senti que a comunidade brasileira realmente demonstrou muito interesse em 'Sweet Tooth'. Agora, tenho uma conexão ótima com o Brasil, tive amigos brasileiros a minha vida inteira e toda a comunidade da Netflix no Brasil é maravilhosa", recorda Convery, falando sobre o sucesso da primeira temporada.

"É surreal ver os novos episódios no mundo. Eu tinha oito anos quando fiz os primeiros testes para 'Sweet Tooth'. Agora, tenho 13. É incrível como essa série é tão bem produzida, como eles fazem tudo se tornar realidade e transformar os efeitos visuais em uma bela obra de arte. Colocar isso no mundo é transmitir a mensagem da importância de encontrar e escolher a sua própria família", reflete o menino.

Em 2021, Christian viralizou ao aparecer em um vídeo com uma camisa do Atlético-MG, graças a um amigo brasileiro apaixonado por futebol. "Agora, por exemplo, estou fazendo projetos com vários times de futebol, então foi legal ver esse outro aspecto do Brasil e mergulhar um pouco nesse mundo."

Novas dinâmicas trazem novas descobertas

ST - Netflix/Divulgação - Netflix/Divulgação
Gus (Christian Convery) e Jepp (Nonso Anozie) estão separados na 2ª temporada de 'Sweet Tooth'
Imagem: Netflix/Divulgação

Se no primeiro ano Gus tinha como companheiro de aventuras Tommy Jepperd (Nonso Anozie), vimos a dupla separada enquanto os dois traçam jornadas paralelas tentando se reencontrar. O "Grandão" ganha uma nova parceira em Aimee (Dania Ramirez).

"Fizemos uma temporada inteira sem trabalharmos juntos, não tivemos uma cena sequer até o fim da primeira temporada, quando ela me resgata", recorda Anozie, também conhecido por "Game of Thrones".

"Agora, passamos boa parte dos episódios desta temporada atuando unicamente juntos, e isso foi revigorante. Por mais que todo mundo queira Jepp de volta com Gus, acho que tivemos uma química maravilhosa e eu, particularmente, amei."

"É sempre bom poder redescobrir um personagem com e diante de outro, ou podermos interagir com outras pessoas", completa Dania.

"A química entre mim e Nonso foi palpável desde o início. Sim, todos querem que voltemos para os nossos filhos e nos reencontremos com outras pessoas, mas há camadas muito interessantes de quem somos como indivíduos, independente dos outros, que ainda não havíamos conseguido explorar e, nessa temporada, foi possível."

Esta, é claro, não é a única nova dinâmica, já que Gus agora está cercado de outros híbridos e tendo a chance de conhecer melhor outros como ele. O garoto conta com a ajuda principalmente de Wendy (Naledi Murray), que abre para ele um novo mundo por usar língua americana de sinais (ASL) para se comunicar efetivamente com os demais híbridos.

"Eu sabia que, no momento em que a língua de sinais entrasse na equação, isso abriria 'Sweet Tooth' para ser mais diversa, para que mais pessoas possam assistir à série. Ao usarmos ASL como uma ferramenta de comunicação com os híbridos, isso mostra para as pessoas com problemas de audição que é possível termos recursos em filmes e séries", reflete Naledi, de 12 anos.

"Acho que isso é algo muito importante e especial, e eu fico feliz de fazer parte e aprender. Língua de sinais é tão bonita. Tivemos um instrutor no set e isso ajudou todos nós a fazermos uma representação realista e autêntica."

Uma aposta arriscada

ST2 - Divulgação/Netflix - Divulgação/Netflix
Segunda temporada de 'Sweet Tooth' traz novas crianças híbridas e usa língua americana de sinais para comunicação
Imagem: Divulgação/Netflix

Se a sensação da primeira temporada foi algo inesperado no nível em que aconteceu, a segunda chega com uma missão mais arriscada: tentar replicar todo aquele frenesi, embora situada em um contexto diferente.

Não apenas não estamos mais no epicentro do contexto pandêmico como o próprio cenário do streaming se transformou radicalmente. Há dois anos, o excesso de lançamentos semanais já era uma realidade, mas, hoje, é ainda mais palpável e transforma o caminho para o sucesso em uma corrida ladeira acima.

"Sinto medo, sim, mas esse é o tipo de coisa que está fora do meu controle", reflete Mickle, sobre o risco de perder fãs com o tempo de espera pela segunda temporada e o novo cenário do streaming.

"Talvez eu devesse estar mais preocupado, mas acredito que estou satisfeito porque amo a série que fizemos, e isso para mim está ótimo. Se você é fã da primeira temporada, acho que vai amar a segunda temporada ainda mais. Se você voltar e reassistir à primeira temporada antes da segunda, você vai ficar bem feliz. No geral, isso é sempre um risco, então precisamos fazer o melhor e torcer para a audiência estar lá."