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Melhem usava sexo como poder na Globo, diz Luís Miranda: 'Isso é doença'

De Splash, em São Paulo

01/05/2023 12h46

Luís Miranda, que trabalhou no núcleo de Humor da Globo sob o comando de Marcius Melhem, se pronunciou sobre as denúncias de assédio sexual e moral contra o humorista.

Em entrevista aos jornalistas Guilherme Amado e Olívia Meireles, do Metrópoles, ele afirma que o chefe usava o sexo como uma ferramenta de poder: "Isso é uma doença". Procurado por Splash, Melhem afirma que Miranda, "na tentativa de reforçar uma narrativa, apenas evidencia mais e mais mentiras e contradições" -- leia mais ao final deste texto.

Para Luís Miranda, Melhem deveria se tratar antes de acusar as denunciantes: "Isso tem que ser tratado por ele. Ele tinha que estar num psicólogo tratando o grau elevado da sexualidade dele. Tratando a prática de exercer poder dessa maneira. Isso é uma doença, ele tem uma doença que precisa ser tratada. E é triste, é lamentável, é penoso ver um doente relutar contra a cura".

"Jogo sujo" nos bastidores: "Eu sinto que, muitas vezes, a gente faz um personagem para tentar jogar aquele jogo. É um jogo sujo das escalações. É um jogo sujo do poder, e no Zorra foi muito sujo. Muito sujo mesmo, de dar ascensão e lugar às pessoas por puxa-saquismo."

Vocês não sabem o que é viver num ambiente que é maravilhoso, que é o sonho de todo mundo. A gente não quer perder, às vezes a gente se apega àquilo ali. E tem que enfrentar espécimes desse nível, que manipulam relações, comportamentos, que minam coisas. Luís Miranda

"Quando eu entrei lá, entrei com um poder. Quando eu saí de lá, eu saí na merda, no zero poder. Comigo foi assim. Não sei se por causa da minha postura de ser gay. Eu não confabulava com ele papinho de xoxota, de mulher. Isso não tinha comigo. Nem papo de pinto, nem papo de nada."

Para Luís, recusar as investidas de Melhem era ameaçar o próprio trabalho: "Quando você corta um fluxo de intimidade que ele abre, você está se colocando fora do projeto. Ele propunha um projeto com essa abertura de diálogo e tal, mas não era bem verdade. Era muito pro forma."

Até saber da denúncia de Dani Calabresa, Luís Miranda via tudo em tom de brincadeira: "Quando ela me ligou, eu fiquei bastante perturbado, comecei também a fazer alguns links de algumas coisas. E eu liguei, então, na sequência para [os diretores do Zorra, na época] Maurício [Farias] e para Mauro [Farias], para tirar algumas opiniões sobre o assunto. Queria entender se aquilo partiu de uma coisa... Vou ser bem sincero aqui: se era uma queixa dela, porque ele tinha tirado o programa e ela estava chateada, ou se de fato, realmente, a coisa do abuso sexual fazia parte. A gente entendia naquele momento como uma brincadeira. Mas, depois, eu pensei assim: seria brincadeira se fosse comigo, com os outros que faziam parte do elenco. Mas quando é chefe a coisa é mais complicada, né?"

"No que diz respeito aos assédios, alguns eu vi. E a Dani, de fato, falou comigo naquele dia específico da festa, que ele mostrou o p*u para ela. Tirem suas conclusões que quiserem."

Ator relembrou as interações de Dani com Melhem: "Basicamente, um comportamento íntimo demais para a hierarquia da casa. De entrar no camarim quando ela estava trocando de roupa ou experimentando uma peça, brincadeiras de cunho sexualizado, piadas nesse lugar. E essas armações, de articulação de poder."

"Várias vezes no camarim ela virava para mim e fazia gestuais do tipo: ai, meu Deus, Marcius aqui de novo. Várias vezes ela bufava isso comigo. E isso eu posso atestar, porque eu era fofoqueirinho com ela."

Luís Miranda reprovou a reação de Melhem às denúncias das artistas: "Vai pegar a minha fala e vai desdizer, vai trabalhar. Nunca sabe o que está dentro das pessoas, o que magoou aquelas pessoas. Não passa por esse critério. Não tem avaliações pessoais, sentimentais, sobre o mal que causa aos outros. É sobre o mal que causou a muitas pessoas. É sobre o mal que causou a um departamento. É sobre milhares e milhares de pessoas despedidas, passando necessidade, que ele matou, que ele minguou, por conta desse projeto de poder."

É sobre esse projeto de poder que eu estou aqui falando. Não sobre Marcius, ele para mim já não tem nem valia. Eu gostaria de encontrar ele na rua e dizer: que pena, né, cara, que você não conseguiu gerir a sua vida. Gostaria, mas assim: cada vez que ele abre a boca, ele me afasta mais da conexão com ele. Luís Miranda

Procurado por Splash, Marcius Melhem afirma:

Essa entrevista que, na tentativa de reforçar uma narrativa, apenas evidencia mais e mais mentiras e contradições.

Miranda se declara amigo íntimo de Calabresa. E mesmo ele, com toda amizade e tendo estado na festa 100, conta que quando ouviu a denúncia de Calabresa (anos após a festa) liga para Mauro Farias e Maurício Farias para entender se não era vingança pelo programa perdido. Só isso já basta para mostrar que até um amigo íntimo que não viu nada, questionou se Calabresa agia por vingança. E agora tenta aderir à cartilha do "fui manipulado" e "só agora entendo".

Outro detalhe revelador é como o relato de Miranda não bate em nada com o da revista Piauí: Dani teria vindo lhe contar sorrindo a sua versão falsa da história do pênis para fora.

Uma entrevista que explica porque ele, apesar de tão amigo, não é testemunha na investigação que corre na delegacia. No mais, o golpe vai ficando claro, à medida que se revelam os movimentos de Dani Calabresa e as datas em que ela começa a agir.

Relembre o caso

Melhem é investigado desde dezembro de 2019, quando Dani Calabresa e outras sete mulheres o denunciaram como "assediador" no compliance da Globo — a investigação interna foi arquivada em janeiro de 2022.

Ele deixou a chefia de Humor da Globo em março de 2020. Cinco meses depois, a emissora o demitiu, e afirmou que foi em comum acordo, sem mencionar os casos de assédio.

Em janeiro de 2021, Melhem vai à Justiça contra Dani Calabresa pedindo uma indenização de R$ 200 mil em danos morais. O processo está em segredo de Justiça.

Em julho de 2021, o Ministério Público encaminha denúncia criminal à Deam (Delegacia Especial de Atendimento à Mulher no Rio de Janeiro), que instaurou inquérito. O caso corre em segredo de Justiça.