Atriz de 'Chocolate com Pimenta' lamenta estar fora da TV aos 90 anos
"Desculpa o atraso. Fui tomar a vacina da gripe hoje. Também já tomei as cinco doses da vacina da covid-19, incluindo a bivalente". Assim Rosamaria Murtinho começou a entrevista por telefone com Splash para falar da vida aos 90 e vontade de voltar a atuar. Ela lamenta receber menos convites para TV e eventos sociais atualmente.
A atriz está longe das novelas desde 2019, quando atuou em "A Dona do Pedaço", escrita por Walcyr Carrasco — parceiro de longa data da atriz e autor de "Chocolate com Pimenta", em reprise nas tardes da Globo atualmente.
"Estou sem convites. As pessoas perguntam por que não apareço na tela, mas isso não depende de mim. Depende da escalação. Para escalar, o autor precisa escrever e a produção me chamar... O Walcyr sempre me fez convites por telefone, sempre teve consideração comigo e aos meus 60 anos de carreira."
Dona Rosinha — como é chamada pelos amigos — cita etarismo ao comentar a diminuição dos convites. "Eu era muito convidada para eventos chiques, agora, não mais. Só tenho convite para assistir teatro, que eu amo. Era muito convidada para tudo no Rio de Janeiro: exposições, desfiles, estreia de filmes... Existiam semanas que eu tinha de escolher alguns e recusar outros porque não tinha tempo."
Hoje, tudo é muito rápido e feito para jovens. As pessoas pensam que estou caquética. Pode ser por isso que não me chamam, né? Mas não estou assim (risos)... Em setembro vou ser homenageada em uma premiação em Nova York.
A Globo enxugou o número de funcionários fixos e demitiu atores conhecidos do público há décadas, mas o caso de Rosamaria é diferente. Ela e o marido, o ator Mauro Mendonça, 92, seguem contratados.
"Sempre gostei de trabalhar lá. Nunca tive uma decepção. A Globo tem muita consideração com as pessoas mais velhas. Ela teve muita consideração com Laura Cardoso, Lima Duarte, Emiliano Queiroz, com o Mauro e comigo. Procurar emprego com 90 não seria fácil (risos)... Confiante de que em breve vai pintar um convite."
Ela ainda diz que "antes tinha mais velhos nas novelas" e enxerga uma possível relação disso com a pandemia da covid-19, afinal, foi um período histórico inédito que fez a Globo parar de produzir novelas momentaneamente pela primeira vez.
"A Globo está fazendo contratos por obra. Muita gente que saiu de lá foi convidada para voltar e fazer novela... Mesmo não tendo 60% ou 80% como antigamente, ainda é o maior ibope da TV. As novelas são menores e fazem muita série para o streaming, mas não deixam de produzir."
Fôlego aos 90
A veterana já foi vítima de fake news. Em outubro passado, um boato disse que a atriz havia falecido. Ela ri ao falar sobre o assunto hoje e diz estar com ideias para o teatro.
"Deram a minha morte. Ainda me arranjaram um sofá: 'o marido encontrou ela no sofá'. Que absurdo. Um amigo meu me mandou e eu li, mas estou ótima e apta para trabalhar. Agora é mais fácil porque há ponto na orelha, mas minha memória segue boa... Como minha médica disse: 'agora você é uma nonagenária'. Levei susto quando me falou isso, mas gosto de me cuidar."
Não estou pintando mais o cabelo, ele está grisalho. Gostei muito e não quero pintar mais, a não ser que precise para alguma novela.
Ela está conversando com o diretor Jorge Farjalla para fazer algo inédito na carreira: um monólogo. "Olha que louca, aos 90 (risos). Estou com sede de viver ainda. Um dia atrás do outro", diz.
O projeto ainda não tem data de lançamento, mas ela espera contar com o público fiel que sempre a acompanhou no teatro. Será o reencontro após período de isolamento provocado pela pandemia.
"Graças a Deus os teatros estão lotados. Os dois anos de confinamento trouxeram aquela ansia de as pessoas fazerem o que faziam antes da pandemia. Para mim, foi difícil. Tinha medo da covid-19. Fiquei com uma leve depressão, tive que me tratar. Faço análise, vou ao psiquiatra. Tô bem agora, foi difícil na época do confinamento. Agora, estou bem e me sentindo apta para fazer as coisas. Vou ao cinema, saio com as amigas, janto fora."
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