Regina Casé diz não sentir preconceito na pele: 'No Brasil eu sou branca'
Regina Casé, 69, é a entrevistada da semana do Mano a Mano, podcast de Mano Brown. A colunista Patrícia Kogut, do jornal O Globo, adiantou trechos da conversa com exclusividade:
Estigma por ser de família nordestina: "Por que Chico Anysio, Renato Aragão e Tom Cavalcante não viraram atores dramáticos? Por que eles vão para o humor? Porque só de ele ter aquele sotaque e aquela cara ele é considerado um palhaço. É caricato. O preconceito é tão forte e tão completamente naturalizado que não adianta, ninguém conseguiria vê-los num papel sério ou dramático. Hoje em dia, depois de Lázaro Ramos e Wagner Moura, esse preconceito vem sendo quebrado. Qualquer nordestino era fadado a ficar no humor".
Eu descobri isso logo. Porque eu tenho esta cabeça de Ademar, queixo de Adevictor e orelha de Adejar. São os três irmãos do meu avô. Com esta cara, eu logo vi que não seria a mocinha da novela. Aí eu falei: "Não, eu vou inventar o meu lugar. Porque nesse lugar eu não vou encaixar". Aí na televisão eu comecei a inventar os meus próprios programas, porque eu não encaixava em nenhum outro programa. Regina Casé
Regina diz ter "muita coisa de indígena, muita coisa de negra e muita coisa de branca": "Eu sou mãe de preto, convivo com um monte de preto no meu dia a dia e me dilacero com cada injustiça e desigualdade a cada dia. E vendo coisas que uma branca não conseguiria ver nem que ela lesse todos os livros, porque você conviver todo dia muda muito. É claro que eu não estou sentindo na minha pele, porque no Brasil eu sou branca. Ainda mais quando você tem grana e é famosa. Eu sou quase loura".
Quando tem um papel de uma negra retinta como a Dona Ivone Lara, não pode ser uma negra de pele clara para interpretá-la. Eu sou a favor, não posso fazer nada. Acho triste que precise ser assim. Se tivesse uma dramaturgia que dá papéis ótimos para atrizes pretas retintas, aí tudo bem (...) Eu acho que é mais fácil a Taís Araujo fazer uma protagonista numa novela do que uma negra retinta.
Crítica que mais a afetou: "As pessoas falam: 'A Regina não gosta de pobre não, não gosta de preto. Ela mora na Zona Sul'".
Ataques durante a exibição do Esquenta!: "O estigma do programa era: 'Regina só anda com bandido' (...) Diziam: 'O 'Esquenta' é programa de maconheiro, macumbeiro, veado, bandido...'. Porque (para eles) funkeiro e bandido são sinônimos. Só que o cara que aparecia lá, ninguém sabia o nome. Eles sabem o meu. Então, todo o preconceito contra cada uma dessas pessoas fazia um funil e um ralo e vinha para mim. A vida da gente era ruim pra caramba. De embate na rua."
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