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'Stranger Things' paralisada: o que pedem roteiristas em greve em Hollywood

O ator Noah Schnapp vive Will Byers em "Stranger things" - Reprodução/Twitter
O ator Noah Schnapp vive Will Byers em 'Stranger things' Imagem: Reprodução/Twitter

De Splash, em São Paulo

09/05/2023 04h00

O sindicato dos roteiristas de Hollywood iniciou na semana passada a primeira greve da categoria em 15 anos. A última aconteceu em 2007, e durou entre novembro daquele ano e fevereiro de 2008.

A paralisação, em prol de melhores condições de trabalho, afeta o desenvolvimento de novas temporadas de séries, e já causou algumas interrupções em sets de filmagens. O filme "Blade", por exemplo, do Universo Cinematográfico Marvel, e a última temporada de "Stranger Things" foram pausados em decorrência da greve.

O público deve sentir menos impacto, mesmo que a greve possa ser tão longa quanto 15 anos atrás. Em 2007, as séries de TV seguiam um calendário de estreias em setembro. Quando a paralisação começou em novembro daquele ano, os roteiristas pararam por 100 dias e muitas produções foram interrompidas no meio. Agora, este calendário praticamente não existe, e grande parte das plataformas de streaming têm produções preparadas para lançamento por meses a fio.

O que pedem os roteiristas?

O principal motor da greve dos roteiristas é o contrato com as plataformas de streaming. Entre os maiores entraves na negociação estão os seguintes tópicos:

Mudança no pagamento dos residuais, o dinheiro que os profissionais recebem pela reprise do conteúdo ao longo do tempo.

Fim das equipes reduzidas para desenvolvimento de projetos, as "minissalas de roteiristas"

A regulamentação do uso da inteligência artificial.

Sucessos garantiam pagamentos por longos períodos

Durante muitos anos, o pagamento pelas reprises de conteúdos — episódios, filmes, séries, etc — foi uma fonte de renda segura não só para roteiristas, como também para produtores, diretores, atores e demais categorias.

Um exemplo: as inúmeras reprises na TV de séries de sucesso como "Friends", "Seinfeld" e "The Office" rendem dinheiro para os envolvidos até hoje.

No streaming, esse pagamento é fixo e não há "o mesmo padrão de compensação por sucesso que há tradicionalmente na TV", afirma Charles Scolum, diretor-executivo assistente do Sindicato dos Roteiristas (WGA) ao site Deadline. "Se você escreve para o streaming, você recebe dois cheques residuais — um para o doméstico e outro para o internacional. É uma quantia fixa. Se é um sucesso, você não recebe mais por isso."

Para que o sistema de pagamentos dos residuais possa ser alterado, seria necessário que as plataformas de streaming abrissem um dado que todas elas guardam a sete chaves: os índices de audiência.

Estúdios de Hollywood afirmam que propuseram um pacote "compreensível" de reajustes, segundo comunicado divulgado pelo The Hollywood Reporter. A associação que representa as empresas que produzem TV e cinema, batizada de AMPTP na sigla em inglês, afirma que poderia melhorar a oferta, mas que não fará isso neste momento "em razão das outras propostas que ainda estão sobre a mesa".

Tamanho das equipes está em discussão

O crescimento do streaming aumentou a quantidade de séries, mas provocou mudanças que desagradaram os roteiristas. Há uma redução na ordem de episódios, o desaparecimento do calendário de temporadas e uma separação entre a roteirização e a produção, que aumentou o número das chamadas "minissalas de roteiristas".

As minissalas são, geralmente, constituídas de dois ou três profissionais, contratados para desenvolver toda a premissa e sugerir ideias para uma temporada completa, e depois dispensados. Em uma escala normal, uma sala de roteiristas abriga sete ou oito escritores (ou mais, a depender do orçamento e do nível de experiência dos envolvidos).

Sindicato avalia que estrutura dá menos chance a novatos. Como roteiristas estão sendo contratados apenas para a fase de ideação do projeto, não são envolvidos na produção e na pós-produção. Para o WGA, isso impede que estes tenham experiência para chegarem ao posto de showrunner, o profissional que chefia a produção de uma série.

Estúdios são contra a existência de um mínimo de profissionais envolvidos ou de tempo de contratação. A AMPTP, no posicionamento divulgado, afirma que acredita que a proposta do sindicato contraria a "natureza criativa da indústria". "Nós não acreditamos em uma única solução para todos os shows, que são únicos e diferentes em sua abordagem da equipe criativa".

ChatGPT escreve série?

Outro dos receios dos roteiristas tem relação com o uso da inteligência artificial. O sindicato dos roteiristas propõe a regulamentação do uso dos softwares automatizados, diante do crescimento do uso das IAs para criação ou reescrita de materiais criativos.

Há o debate sobre o direito à propriedade intelectual com o uso da inteligência artificial. A associação não pede que o uso das IAs seja interrompido, mas sim que seja regulamentado.

Estúdios rejeitam definir uma regulação agora e dizem que "tema necessita de mais discussão e estamos dispostos a fazê-la". A AMPTP afirma que a inteligência artificial "levanta questões legais, difíceis e importantes para todos" e oferece reuniões anuais para discutir os avanços da tecnologia.