Topo

Caiu de varanda e compôs para Xuxa: o que você talvez não saiba de Rita Lee

Rita Lee isolou-se em sítio e vivia cercada de bichos - Arquivo pessoal
Rita Lee isolou-se em sítio e vivia cercada de bichos Imagem: Arquivo pessoal

Colaboração para Splash, em São Paulo

10/05/2023 04h00

Rita Lee, que morreu ontem (8), aos 75 anos, fez história nas artes brasileiras por seu pioneirismo, audácia e despudor.

Conhecida como a "rainha do rock do Brasil", a artista considerava o epíteto cafona. Essa era apenas uma das curiosidades sobre a vida de Rita Lee, a mulher que revolucionou o rock brasileiro.

'Prefiro ser chamada padroeira da liberdade'. Censura é uma palavra que não cabia na vida de Rita Lee. Não por acaso, a cantora afirmou que preferia ser conhecida como uma defensora da liberdade ao título de "rainha do rock".

"Gosto mais de ser chamada de 'padroeira da liberdade' do que 'rainha do rock', que acho um tanto cafona", disse em entrevista à Rolling Stone, em novembro de 2022.

'Se for para reencarnar, quero ser mulher'. Na possibilidade de reencarnar novamente na Terra, a roqueira deixou claro que seu desejo é retornar em um corpo feminino. O motivo: ainda há muito a ser conquistado pelas mulheres e ela quer continuar parte dessas mudanças para o sexo feminino. A declaração também foi dada à Rolling Stone.

Temos conquistas pela frente e aos poucos vamos tomando o poder a que temos direito. Se for para reencarnar novamente aqui na Terra vou querer ser mulher, caso contrário vou nascer hermafrodita num lugar onde não haja preconceito nem políticos escrotos."

'Quero um aniversário só para mim'. Rita Lee nasceu no dia 31 de dezembro, mas passou a comemorar seu aniversário duas vezes por ano, já que a data que marca sua vinda ao mundo coincide com as festividades de Revéillon.

"Eu mudei o dia do meu aniversário nessa quarentena. Nasci em 31 de dezembro, último dia do ano. Nunca tive uma festa minha", explicou ao Fantástico. "Queria uma festa só para mim. Eu escolhi o dia 22 de maio para fazer aniversário, que é o dia de Santa Rita de Cássia", completou.

Tuítes marcantes. Pioneira na música e também no Twitter. Quando era assídua na plataforma, a artista fez várias postagens que viralizaram e são lembradas ainda hoje pelos internautas.

Lee chegou a dizer que escrever no Twitter era como uma terapia por "escrever o que dá na telha". Desde o "sou uma viadona" a posts com nomeações a políticos, Rita soube usar o limite de caracteres da rede social para brilhar também no ambiente virtual.

Cantora escreveu sobre a própria morte. Rita Lee escreveu sobre sua morte bem ao seu estilo em um trecho de sua autobiografia.

Quando eu morrer, posso imaginar as palavras de carinho de quem me detesta. Algumas rádios tocarão minhas músicas sem cobrar jabá. Fãs, esses sinceros, empunharão meus discos e entoarão 'Ovelha Negra'. As TVs já devem ter na manga um resumo da minha trajetória. Nas redes virtuais, alguns dirão: 'ué, pensei que a véia já tivesse morrido, kkk'."

Biografia revelou estupro e aborto sofridos por Rita. "Numa biografia que se preze, contar o côte podrêra de próprio punho é coisa de quem, como eu, não se importa de perder o que resta de sua pouca reputação. Se eu quisesse babação de ovo, bastava contratar um ghost-writer para escrever uma 'autorizada'", afirmou ao revisitar os traumas do passado na obra publicada em 2016.

Rita Lee foi estuprada com uma chave de fenda por um técnico de máquina de costura que havia ido prestar serviços em sua casa. "Era algo que escondia de mim mesma", disse ela à Folha de S. Paulo, para, em seguida, ressaltar que tratou esse episódio na terapia.

Xixi de nervosismo durante aula de piano. A relação de Rita Lee com a música vem desde a infância. Nem sempre, porém, com boas recordações.

Entre os seis e sete anos, Rita teve aulas com a renomada pianista Magdalena Tagliaferro. A professora a aconselhou a não seguir na música porque ela tinha medo de palco. O motivo: Lee, então criança, fez xixi no banquinho de piano durante uma audição.

Expulsões de os Mutantes e Tutti Frutti. Rita Lee ajudou a fundar as duas bandas e foi expulsa de ambas. A artista sempre se considerou injustiçada por seus ex-colegas e atribui os casos ao machismo.

Ela também apontou como responsáveis pelas expulsões os irmãos Sergio Dias e Arnaldo Baptista, com quem fundou os Mutantes, e o guitarrista Luis Sérgio Carlini pela saída do Tutti Frutti.

Cantora deu o primeiro selinho em Hebe Camargo. Lee foi a primeira artista a dar um selinho em Hebe Camargo (1929 - 2012), ao vivo, na TV. Beijo, que aconteceu durante o programa da apresentadora no SBT, em 1997, deixou a comunicadora "chocada por cinco segundos".

"Depois de já ter me jogado várias vezes aos seus pés, rasgado certidão de casamento e me travestido dela, eu queria fazer algo que nenhum artista se atrevera até então, e num momento de puro amor de filha puxei Hebe pela cintura e lasquei-lhe um beijo na boca! Ficou chocada por cinco segundos, depois tirou de letra e deu aquela gargalhada gostosa", contou a artista em sua biografia.

Relação com as drogas. Ao longo de décadas de carreira, Rita Lee não passou imune pelas drogas. Em suas próprias palavras, ela não se culpa por ter feito uso dessas substâncias, mas se orgulha de ter "saído de todas". Ainda, diz que suas "melhores músicas foram compostas em estado alterado, as piores também".

À Folha, a cantora disse não reproduzir discursos antidrogas, mas destacou que "drogas químicas são demoníacas e cannabis é uma planta sagrada".

Em várias ocasiões, Rita Lee foi internada pelo abuso no consumo do álcool e outras drogas. Em 1976, foi presa por porte de drogas. Na época, disse aos policiais: "Se tivessem vindo uns dois meses atrás, iam achar muita coisa, mas agora estou grávida e não tem nem bituca aqui". Naquela ocasião, ela foi solta com a ajuda de Elis Regina.

Em outra ocasião, a cantora despencou da varanda da casa onde morava, teve o maxilar esfacelado e perdeu 40% da audição do ouvido direito.

Após esse episódio, Rita Lee casou com Roberto de Carvalho, com quem permaneceu junto até sua morte, ontem. Ela teve algumas recaídas, mas optou pela sobriedade e decidiu ficar "careta" a partir do nascimento da primeira neta, em 2005.

Relação de Rita com a ditadura. Ao contrário de nomes como Chico Buarque, por exemplo, Rita Lee nunca se envolveu diretamente com a política. Isso, entretanto, não fazia dela indiferente à ditadura militar brasileira.

A artista, que não era benquista pelos censores da extrema-direita naquela época, chegou a testemunhar contra um policial acusado de matar um rapaz em um de seus shows. Naquele período, os censores ditatoriais também chegaram a excluir composições da artista.

Presa novamente. Rita Lee voltaria a ser presa em 2012 por desacato, após ver policiais abordando pessoas que fumavam maconha em seu show em Aracaju (SE).

"Me dá esse baseadinho que eu vou fumar aqui e agora. Seus cafajestes, filhos da puta", declarou.

Anos depois, ela disse à Folha ficou magoada pelo fato de a mídia não tê-la ouvido naquele episódio.

Escritora de livros infantis. O sucesso de Rita Lee também se estendeu à literatura. Pelo selo Globinho, da Globo Livros, ela publicou algumas histórias para o público infanto-juvenil e uniu a paixão pela literatura à causa animal.

Compôs para Xuxa e assinou biografia da apresentadora. Em entrevista ao Wow Cast, em março de 2023, Xuxa revelou que Rita Lee foi a única artista que fez música para ela.

"As pessoas perguntavam quem é Xuxa? E ninguém queria escrever música pra mim. Os produtores pediam para vários compositores, artistas famosos e nada. A única que escreveu música pra mim foi a Rita Lee", relembrou.

Lee compôs para Xuxa, ao lado do marido, a canção "Peter Pan", que fez parte do "Xou da Xuxa", na Globo.

Em 2020, a cantora também assinou a orelha do livro de memória lançado por Xuxa. Na ocasião, a roqueira destacou que seu carinho pela apresentadora e enfatizou o carinho de Xuxa pelos animais.