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Tony Goes: Linha Direta espetaculariza crime e transforma em entretenimento

De Splash, em São Paulo

11/05/2023 12h00

O retorno do Linha Direta, após 15 anos fora do ar, reacendeu o debate sobre a espetacularização de crimes. O programa da Globo, que é considerado um precursor do "true crime" — gênero que aborda crimes reais — na TV brasileira, atende a uma demanda cada vez maior de interessados por produções do gênero.

Tony Goes, colunista do jornal Folha de S. Paulo, analisou os motivos que levaram a criação do programa na década de 1990, a curiosidade do público e a forma como a edição de estreia abordou o papel da imprensa no caso Eloá.

"O Linha Direta surgiu no comecinho dos anos 1990, meio como uma resposta ao programa do Ratinho, que naquela época nem estava no SBT ainda, mas já era um sucesso e estava comendo muito a audiência da Globo", explicou Goes, durante o Splash Vê TV, atração apresentada por Marcelle Carvalho.

O programa nasceu em meio a um fenômeno que começava a ganhar espaço nas emissoras de televisão: o surgimento de programas policialescos. "Estavam fazendo muito sucesso. Esses programas existem no Brasil inteiro. Você tem muitos programas locais, regionais, que pegam muito mais pesado do que o Datena. O Datena é um lorde."

A Globo adotou um tom jornalístico ao embarcar no movimento. "Eles fizeram uma coisa de você interagir, de Justiça. Eles dizem que mais de 400 pessoas foram presas graças a essas denúncias do público. Eu também imagino o quanto teve de trote, denúncia falsa. Não sei até que ponto isso pode ser considerado um serviço público."

Goes acredita que o programa espetaculariza o crime. "Ele transforma o crime em entretenimento. Que, por outro lado, também é realidade. É o que está acontecendo por aí. Você vê o famoso true crime, o sucesso que ele está tendo agora. Todas as minisséries, o streaming de casos reais, podcast. Algumas muito boas."

O programa de estreia

O programa que marcou a volta do Linha Direta abordou o "caso Eloá", que terminou no assassinato da jovem Eloá Cristina Pimentel, mantida em cárcere em seu próprio apartamento pelo namorado, Lindemberg Fernandes Alves, em Santo André (SP), em 2008.

Para Tony Goes, o papel da mídia no episódio de violência não foi discutido profundamente pela atração. "É um crime que foi espetacularizado pela mídia e agora volta para a mídia e isso não foi discutido muito a fundo, isso foi muito para o fim do programa. Tudo bem, é um programa para as massas, não é uma coisa intelectual, mas a coisa ficou relegada muito para o final."

O colunista acredita que o programa poupou figuras como Sonia Abrão e Ana Hickmann. "Fica uma coisa assim de 'não vamos melindrar ninguém', mas aconteceu. A Sonia Abrão teve um papel horrível nessa história. Ela disse que não se arrepende, que faria tudo de novo. Ela faria tudo de novo, sabendo o que aconteceu, que a menina foi morta. Teve mil erros, a polícia errou. Onde já se viu você mandar um refém de volta?".

O primeiro episódio da nova versão do Linha Direta mostrou um promotor dizendo que "uma apresentadora de televisão se colocou na posição de negociadora" no caso Eloá, sem citar nomes. Nas redes sociais, o público entendeu que ele estava falando de Sonia Abrão, que entrevistou Lindemberg Alves ao vivo e recentemente disse que "faria tudo de novo".

Além dela, os espectadores também citaram Ana Hickmann, que durante o Hoje em Dia (Record) disse que o sequestrador estava assistindo e pediu que ele ou uma das vítimas acenasse para as câmeras pela janela do cativeiro.