Poucas coisas na vida são tão certas quanto sempre haver ao menos duas cenas pós-créditos em qualquer filme do Universo Cinematográfico Marvel, algo visto recentemente com "Guardiões da Galáxia Vol. 3", que traz dois momentos potencialmente importantes nas cenas no meio e após os créditos finais. Também não é exatamente um segredo que desde "Vingadores: Ultimato" (2019) tem sido uma luta manter a relevância e o interesse nas obras.
Com a saída de figurões como Robert Downey Jr., Chris Evans e Scarlett Johansson, a missão da chamada Saga do Multiverso tem sido provar que a Marvel é capaz de segurar a liderança dos blockbusters com personagens menos conhecidos.
Também não ajuda em nada o excesso de filmes e séries de super-heróis catapultado pela própria Marvel, que causou uma fadiga no mercado. O que antes eram obras que se destacavam da multidão com personagens poderosos e mágicos, em uma teia ligeiramente complexa de conexão, se transformou em um emaranhado genérico de semi conhecidos em uniformes de elastano lutando de forma esporádica e por motivos estranhos.
No meio de tudo isso, a formação original dos Guardiões da Galáxia está em reconstrução e se apresenta para uma espécie de "despedida" no Volume 3. Com James Gunn de partida para a DC Comics, e Zoë Saldaña e Dave Bautista deixando claro que estão dizendo adeus aos seus respectivos personagens, o filme serve como o encerramento de um ciclo, mas também abre caminho para um novo.
De certa forma, abrir esses novos horizontes é a missão das cenas pós-créditos e, no cenário atual, elas acabam gerando um efeito contrário à empolgação, contribuindo para a sensação de esgotamento mental do público diante deste universo. Afinal, há sempre algo a mais a ser visto, a se esperar, um filme mais complexo e ramificado que vai exigir mais da memória da audiência.
Aos poucos, acompanhar o Universo Cinematográfico Marvel vem se tornando uma tarefa a ser cumprida com o auxílio de um manual para que se possa recordar quem é quem.
Nos lançamentos mais recentes do MCU, vimos figuras como Charlize Theron, Harry Styles e Brett Goldstein em breves participações em cenas pós-créditos, que dão a entender que seus personagens vão voltar, e com papéis importantes a cumprir.
Além disso, a cena pós-créditos de "Pantera Negra: Wakanda Para Sempre" sugere que, em uma eventual sequência, Shuri (Letitia Wright) e Nakia (Lupita Nyong'o) precisam lidar com o fato de que T'Challa (Chadwick Boseman) teve um filho, que seria o verdadeiro herdeiro do trono de Wakanda. A de Guardiões 3 indica possivelmente duas continuações diferentes.
Todos esses supostos futuros eventos, vale acentuar, deverão acontecer em sequências ainda não anunciadas, e tudo culminará em "Vingadores: Guerras Secretas", agendado para maio de 2026. Até lá, temos vários outros lançamentos anunciados, do novo "Quarteto Fantástico" ao retorno de "Demolidor" e o novo "Capitão América".
Diante disso, a Marvel cria para si mesma o problema da superlotação que faz tudo soar menos importante, e enfrenta o risco de detalhes apresentados de forma corriqueira, e que deveriam ser muito significativos, ficarem simplesmente esquecidos.
A ameaça estelar apresentada em "Eternos", por exemplo, nunca mais foi mencionada, apesar de parecer algo incontestavelmente apocalíptico. O quanto irrelevantes não se tornarão as coisas quando, enfim, começarem a ter importância?
E, mais do que isso: será que as pessoas ainda vão se lembrar?
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