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Roberto diz que Rita Lee morreu em paz: 'Queria trocar de lugar com ela'

De Splash, em São Paulo

14/05/2023 23h14

Roberto de Carvalho, 70, chorou ao falar da saudade de Rita Lee, que morreu na segunda-feira (8) em sua casa, em São Paulo, aos 75 anos.

Em entrevista ao Fantástico deste domingo (14), o músico lembrou da parceria com a artista na criação de canções.

"Ela queria viver, ela não queria partir. Até o fim, ela nunca quis partir. Eu dizia pra ela: 'Eu queria trocar de lugar com você, porque você tem muito mais coisa para fazer do que eu", começou Roberto.

"Desde que a gente se encontrou pela primeira vez, 47 anos atrás, eu sou extremamente atento e feliz também por ter estado sempre perto de uma pessoa tão iluminada, tão cheia de vida, de criatividade, de alegria, de luz... Um grande privilégio".

Emocionado, Roberto se declarou para a amada. "Nos tornamos cara metade ou em vida ou em morte. Eu continuo sendo ela e ela continua sendo eu".

"Eu sou um cara que sempre quis casar com uma mulher, ter três filhos homens e cultivar uma família. Para isso, eu precisava encontrar a mulher perfeita, e eu tive a sorte de encontrar", continuou.

"Ela tinha sonho de ter filhos também, mas não era tão explícito. Quando a gente se encontrou mesmo, a gente não se encontrou com a clareza de que aquilo ia virar o que virou".

O músico também lembrou o diagnóstico de Rita: "Ela foi fazer os exames e viu que tratava-se de um tumor já avançado, e os médicos previram um tempo de três a quatro meses. Mas ela encarou o negócio com um estoicismo... Ela fez quimioterapia várias vezes".

"Foram momentos muito sofridos. Medo, ansiedade, pavor. Junto com o João, meu filho, nós dois tomamos conta da situação toda. E a gente procurou se informar o máximo possível".

Roberto, que organizou um cômodo com suporte médico para a mulher em seu apartamento, detalhou a partida da cantora: "Ela perdeu o cabelo, perdeu a capacidade de andar, pensar. Entretanto, os momentos finais dela foram de uma leveza, uma calma, uma doçura. Nós estávamos todos juntos com ela. A gente montou um quarto de hospital e, na última fase, na cama, ela parecia uma criancinha, um passarinho. A respiraçãozinha assim [gesticulando em sinal de estar calmo, em paz], e foi parando... Ela foi em paz".

"Ela era uma pessoa espetacular, única. Ela que falou para eu fazer a entrevista, por isso eu quis insistir. Ela adorava me ver falando. Porque eu sou tímido. A Rita era muito tímida também, mas ela tinha uma personalidade que, quando ela estava exposta, ela não era nada tímida. Muito elegante, falando baixo, 'por favor', 'com licença'... Essa era a Rita".

Ao final da entrevista, ele olhou para cima e falou: "Meu amor, foi por você. Para você. Como tudo daqui para frente, será sempre por você e para você".

"Mania de você"

Rita Lee e Roberto de Carvalho formavam um dos casais mais admirados da indústria musical. A parceria, na vida e na carreira, durou 47 anos.

A cantora morreu na noite de segunda, aos 75 anos.

O casal se conheceu em 1976, através de Ney Matogrosso — Roberto era guitarrista do músico. Rita e Roberto ficaram juntos na mesma noite em que foram apresentados.

"A primeira vez que encontrei a Rita foi no festival de Saquarema, em 1976. Foi a primeira vez que a gente conversou, se olhou e alguma coisa aconteceu em nossos corações", disse Roberto em uma live com o pesquisador musical Rodrigo Faour em 2020.

Os dois foram morar juntos e, grávida do primeiro filho, Rita foi presa por porte de maconha. Em 1977, deu à luz Beto Lee. Em 1979 nasceu seu segundo filho, João. Em 1981, nasceu o terceiro, Antônio.

A união com Roberto de Carvalho foi da intimidade aos palcos, e os dois passaram a se apresentar juntos no período considerado o mais "pop" da carreira de Rita — tanto no sentido musical da palavra, com um ritmo mais diverso, quanto em termos de popularidade. Foi no álbum de 1979 que vieram sucessos como "Mania de Você", "Doce Vampiro" e "Chega Mais".

Rita chegou a contar que o casal compôs "Mania de Você" logo após transarem — e que seu primeiro orgasmo foi com o marido.

Ele pegou o violão e eu o caderninho e começamos: 'Meu bem, você me dá água na boca'? A gente estava em estado de graça'. Rita Lee

1 - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Rita Lee e Roberto de Carvalho
Imagem: Reprodução/Instagram

Os dois só se casaram em 1996, após cerca de vinte anos juntos. Desde então, a cantora adotou o sobrenome do marido e passou a assinar como Rita Lee Jones de Carvalho.

Química perfeita

Casado com a Rainha do Rock, Roberto nunca se importou de ser visto como alguém "à sombra" da esposa.

É inconcebível que você esteja ao lado de uma estrela, que tem a necessidade de subsídios para brilhar, e se oponha a isso, que veja como uma ameaça. Rita já passou situações desse gênero no passado. Não tinha como pensar que ia funcionar.

"No nosso caso, cada um entra nessa equação com sua parte. A gente combinou muito, teve uma alquimia entre a gente. Temos quase que uma química perfeita. Além disso, sou tímido, sou o escorpião embaixo da pedra do deserto", disse o músico.

Rita nunca escondeu os problemas com a dependência química. Nesses períodos, ela definiu Roberto como seu "porto seguro". "Ele me segurou. Era uma torre. Ele parou de tomar drogas muito antes que eu. E segurou os meninos. Segurou a coisa toda", disse em entrevista à Marie Claire.

À Quem, em 2009, ela respondeu qual seria o segredo para um relacionamento tão duradouro.

Casamento não é uma receita de bolo para seguir. Casamento é uma loteria cujo prêmio é um segredo. Roberto é tão bom parceiro musical quanto pai, marido, amigo e namorado. É um romântico nato, daqueles que mandam flores toda semana. Além de ser um chef de cuisine de mão-cheia! A mim, resta lavar os pratos e colaborar com uma massagem gostosa. Rita Lee

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