Com "Todas as Flores", João Emanuel Carneiro emplacou mais um sucesso em sua lista de produções para a Globo. Mas não parou por aí, ele também garantiu seu lugar em mais uma categoria, a de mocinhos chatos da dramaturgia com o Rafael, de Humberto Carrão.
Com pós-doutorado na escolinha da bondade, o personagem foi enganado por absolutamente todos os membros de seu núcleo, desde sua mãe, Guiomar (Ana Beatriz Nogueira), que perdeu a oportunidade de expor as traições de Vanessa e morreu segurando esse segredo, até Maíra (Sophie Charlotte), que prefere enfrentar sozinha uma quadrilha de tráfico humano do que pedir ajuda para ele.
O motivo? Talvez, no fundo, ela saiba que a energia "soca fofo" de Rafael só a atrapalharia na hora de fazer o que precisa ser feito — não que ela tenha feito muito progresso sozinha, verdade seja dita.
O mocinho já teve diversas ocasiões para agir, mas simplesmente não consegue ir até o fim. Ele parece estar sempre 20 passos atrás de toda a história central. Quando descobriu as falcatruas de Vanessa, parecia que finalmente o jogo iria virar, mas a expectativa é realmente a mãe da decepção.
Rafael, você é fraco, te falta ódio! É o que eu diria se pudesse aconselhá-lo, ou não estivéssemos falando de uma obra ficcional.
O personagem passou por traições, a perda da mãe e um amor interrompido, mas até este ponto da trama, que chega ao fim em 24 de maio, acredito que seja seguro afirmar que a vida deu uma série de limões para o querido e em vez de limonada, ele escolheu espremê-los nos olhos.
Se por um lado João Emanuel domina o hall de vilões marcantes da teledramaturgia da Globo com sua gangue de loiras carismáticas e igualmente perigosas, formada por Carminha, Flora, Bárbara e Leona, ele também lidera a de protagonistas masculinos mais chatos.
Vamos recapitular?
Jorginho - Avenida Brasil (2012)
Perdido, Jorginho (Cauã Reymond) já entrou em cena fazendo o maior escândalo na festa de bodas de casamento de seus pais, Carminha (Adriana Esteves) e Tufão (Murilo Benício), e seguiu nesse mesmo modo do começo ao fim da história. Não é à toa que até hoje o Brasil só quer saber de Rita (Debora Falabella) e Carminha. Tem como empatizar com um cara assim?
Paco Lambertine - Da Cor do Pecado (2004)
Um rico idealista e atormentado, foi com esse homem que Preta de Souza (Taís Araujo) precisou enfrentar os maiores desafios de sua vida e ainda terminou criando um filho sozinha durante anos. Incapaz de depositar confiança na mulher que ele alegava ser seu grande amor, Paco (Reynaldo Gianecchini) foi frequentemente enrolado pelas armações de Bárbara (Giovanna Antonelli), e colocou em dúvida o caráter de Preta. Honestamente, não sei como ela aguentou.
Zé Bob - A Favorita (2008)
Espera-se que um jornalista tenha um bom faro para descobrir mentiras e esquemas, mas, se isso for verdade, Zé Bob, de Carmo Dalla Vecchia, foi reprovado nessa matéria. Além de começar a novela ao lado de Flora, Patrícia Pilar, ele deixou a sensação de que muitas vezes mais atrapalhou do que ajudou Donatella em sua jornada contra a vilã.
Duda - Cobras e Lagartos (2006)
O mocinho de Daniel de Oliveira também seguia a linha bom moço de princípios inabaláveis, mas foi simplesmente engolido pelo carisma de, literalmente, qualquer outro personagem. Ao pensar no antigo folhetim das 19h é comum que o grande público se refira como "a novela do Foguinho", "a novela da Helen" e até "da Leona", mas nunca de seu protagonista.
João não sabe escrever homens?
Chega ser curioso que um autor como João tenha escrito mulheres tão interessantes, mas protagonistas masculinos tão broxantes. Tá, então ele não sabe escrever papéis para homens? Não é por aí, temos grandes exemplos, como o próprio Foguinho (Lázaro Ramos), de que ele sabe muito bem como fazer isso. Tendo visto todas as suas novelas, a impressão que me deixa é que a dificuldade de Carneiro é fazer um bonzinho carismático.
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