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Por que mulheres da Globo protestam de verde contra assédio na empresa?

Patrícia Poeta usou verde durante o "Encontro" de hoje em referência ao Movimento Esmeralda - Reprodução/Globo
Patrícia Poeta usou verde durante o "Encontro" de hoje em referência ao Movimento Esmeralda Imagem: Reprodução/Globo

De Splash, em São Paulo e no Rio

22/05/2023 19h31

Funcionárias do grupo Globo, de produtoras e repórteres a apresentadoras como Patrícia Poeta, protestaram hoje na emissora usando roupas verdes no que está sendo chamado de "Movimento Esmeralda", manifestação das profissionais para repudiar um caso de assédio sexual que teria ocorrido na emissora em 2017 e foi noticiado em reportagem da revista Piauí na última sexta-feira (19).

O caso foi revelado no âmbito das investigações de assédio que teriam sido cometidas pelo ex-diretor do núcleo de humor Marcius Melhem. O caso de Esmeralda, que venceu processo contra a Globo em duas instâncias, foi citado pelo MPT (Ministério Público do Trabalho) em ação contra a emissora motivada a partir das denúncias que envolvem Melhem, que nega ter cometido qualquer episódio de assédio.

Procurada por Splash, a Globo afirma que "a livre manifestação dos profissionais da empresa está em total alinhamento com a nossa gestão de transparência e diálogo permanente". "De qualquer forma, a Globo reitera que não comenta casos de Compliance e aproveita para reiterar também que a empresa mantém um Código de Ética em linha com as melhores práticas atualmente adotadas, que proíbe terminantemente o assédio e deve ser cumprido por todos os colaboradores, em todas as áreas da empresa", prossegue a empresa. Leia o posicionamento na íntegra ao final deste texto.

O que aconteceu?

Profissionais do Grupo Globo decidiram usar verde em protesto diante da revelação do caso de Esmeralda Silva, nome fictício dado a uma funcionária da emissora, engenheira de sistema de TV, que teria sofrido violências de quatro ex-colegas durante o período em que trabalhou na empresa.

Grupos de profissionais se juntaram em uma escada nos estúdios da Globo em São Paulo para protestar. As fotos do protesto estão sendo compartilhadas nas redes sociais por diversas profissionais com a hashtag #MovimentoEsmeralda na tarde desta segunda-feira (22).

"Mexeu com uma mexeu com todas", é uma das frases usadas pelo grupo nos cartazes levados à Globo. O mote já havia sido usado por funcionárias da Globo após o escândalo envolvendo o ator José Mayer em 2017. "Exijo segurança no meu local de trabalho", escreveu uma das profissionais em publicação no Twitter.

"Precisamos ser ouvidas para que abusos assim não se repitam", dizem manifestantes em comunicado. "Quando uma de nós é assediada e estuprada dentro da empresa, o problema é de todos. A história de Esmeralda foi publicada pela revista Piauí na última sexta-feira (19/05), nos provocando indignação e revolta. Precisamos, sim, ser ouvidas para que abusos assim não se repitam! Hoje usamos verde em apoio à Esmeralda e a todas as mulheres pelo nosso direito a um ambiente seguro de trabalho."

Apresentadoras, como Patrícia Poeta e Ana Maria Braga, usaram verde. A apresentadora do Encontro confirmou a Splash que usou a cor no programa em razão da manifestação, mas disse que não faria outros comentários. Patrícia Poeta trocou a roupa que usaria para endossar o movimento. Outros nomes como Luiza Tenente e Michelle Loreto também usaram a cor em suas aparições na programação matinal da Globo.

Splash apurou que o movimento foi combinado em grupos de WhatsApp ao longo do final de semana, envolvendo profissionais de departamentos diversos da empresa. Dentro do departamento de jornalismo, foram movimentadas as redações do G1, do Gshow, de programas nacionais e da cidade do Rio de Janeiro.

A cor verde foi escolhida por ser a cor da pedra esmeralda. Segundo a reportagem da Piauí, a funcionária não quer ser identificada por temer represálias e escolheu esse nome para ser citada na matéria por admirar a beleza da pedra preciosa.

Permanência de agressor como funcionário da emissora foi uma das razões da revolta, segundo informou a Splash uma das jornalistas que participaram do protesto e que pediu para não ser identificada. De acordo com o que noticiou a Piauí, um dos quatro profissionais citados por Esmeralda em seus depoimentos à Justiça segue trabalhando na emissora. Há ainda um segundo caso relatado na reportagem, mas cujos detalhes ainda são desconhecidos, uma vez que a vítima não quis depor em uma ação aberta.

"Foi muito debaixo do nosso nariz", lamenta jornalista que protestou. Uma profissional ouvida em caráter reservado conta que chocou o fato de onde teria ocorrido os casos de assédio contra Esmeralda ser "exatamente do lado da redação da TV". "E a gente sem saber que uma colega estava passando esse sofrimento."

Profissionais estudam os próximos passos do protesto, que exige "segurança no local de trabalho". "Decidimos combinar de fazer a foto hoje, mas esse foi só um passo. Está rolando uma organização pra saber quais serão os próximos passos", diz a profissional, que afirma que o movimento não tem lideranças e que as decisões estão sendo tomadas coletivamente nos grupos de WhatsApp.

Entenda o Caso Esmeralda:

Esmeralda Silva se mudou da Paraíba para São Paulo pelo sonho de trabalhar na Globo, segundo afirmou à Piauí. "Quando entrei por aquele portão, parecia que eu estava chegando no céu. Era a realização do maior sonho da minha vida", disse, na entrevista à revista. Ela começou a trabalhar na empresa em janeiro de 2017.

Ela cita um caso de estupro, episódios de assédio e zombarias por seu sotaque. O caso mais grave, segundo contou a revista, aconteceu quando um técnico com mais de 20 anos de empresa a pressionou contra a parede e enfiou um dedo em sua vagina. O agressor dizia, segundo lembra Esmeralda, que ninguém acreditaria nela e que ele era capaz de prejudicá-la na empresa.

Esmeralda não fez denúncias criminais, mas entrou com ação trabalhista contra a Globo por assédio moral e sexual, misoginia e xenofobia. Ela disse ter adoecido após vivenciar os supostos casos de assédio na Globo. Esmeralda relatou ter enfrentado ansiedade, cefaleia, insônia, alteração intestinal e urinária e pediu uma indenização de R$ 225 mil.

Segundo a Piauí, a funcionária venceu a empresa em duas instâncias. Ela rejeitou uma oferta de acordo e a emissora recorreu ao TST (Tribunal Superior do Trabalho). Ainda de acordo com a revista, Esmeralda segue contratada pela Globo por decisão judicial, mas está afastada por problemas de saúde mental.

Casos Esmeralda e Melhem provocam processo contra a Globo

Após o caso Melhem, o MPT (Ministério Público do Trabalho) ajuizou uma ação civil pública contra a Globo, para investigar se a emissora foi negligente com a sua obrigação de garantir um ambiente de trabalho saudável para seus funcionários.

O procurador Francisco Araújo soube do caso de Esmeralda através de uma denúncia do Sindicato dos Radialistas de São Paulo. O MPT já estudava uma ação contra a Globo em razão do Caso Melhem e tomou ciência da denúncia de duas mulheres contra a Globo. Esmeralda aceitou depor e foi ouvida por Araújo em março de 2022.

Posicionamento da Globo na íntegra:

"A livre manifestação dos profissionais da empresa está em total alinhamento com a nossa gestão de transparência e diálogo permanente. De qualquer forma, a Globo reitera que não comenta casos de Compliance e aproveita para reiterar também que a empresa mantém um Código de Ética em linha com as melhores práticas atualmente adotadas, que proíbe terminantemente o assédio e deve ser cumprido por todos os colaboradores, em todas as áreas da empresa. Da mesma maneira, a Globo mantém uma Ouvidoria pronta para receber quaisquer relatos de violação de seu Código de Ética, que são apurados criteriosamente, com a punição dos responsáveis por desvios. Nesse mesmo Código, assumimos o compromisso de sigilo em relação a todos os relatos de Compliance, razão pela qual não fazemos comentários sobre as apurações. Nosso sistema de Compliance também prevê o apoio integral aos relatantes, proibindo qualquer forma de retaliação em razão das denúncias." Comunicação da Globo

Redes sociais

Veja publicações nas redes sociais de jornalistas da empresa que se manifestam como parte do Movimento Esmeralda. Carolina Moreno, Lorena Lara, Paula Salati, Izabela Bolzani e Danielle Zampollo estão entre as jornalistas que aderiram ao movimento nas plataformas digitais.