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'Não foi uma vida boa': por que Tina Turner dizia isso de seu passado?

De Splash, em São Paulo

24/05/2023 16h55

Quando tinha 81 anos, Tina Turner se abriu sobre seu passado conturbado e seu convívio com o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) no documentário "Tina", da HBO.

Nele, a estrela do soul e do rock dá um depoimento revelador e diz que o filme é seu ato final na vida pública.

O documentário, dirigido por Daniel Lindsay e T. J. Martin, refaz os passos da jovem ingênua —"menina dos campos de algodão", como se autodenominou— até virar a grande diva do soul.

Sua família morava em uma comunidade rural do Tennessee e, durante a infância, Tina chegou a colher algodão nos campos com a família.

"Não foi uma vida boa", diz Tina nas cenas de abertura.

Ela conta que não sabia o quanto valia aos olhos de empresários e foi, por muito tempo, manipulada e violentada pelo marido, Ike Turner (1931-2007). São inúmeros relatos, muitos deles testemunhados pelos filhos do casal, sobre o vício de Ike em cocaína e os anos de abuso físico e emocional pelos quais ela passou ao lado dele. Ela contou que era espancada por Ike.

O que o filme "Tina" mostra é que, por mais sucesso que ela tivesse, falar sobre a brutal violência que sofreu ainda era uma ferida sempre aberta e constantemente cutucada pela mídia e fãs.

Tina e o ex-marido, que morreu de uma overdose de cocaína em 2007, fizeram grande sucesso no final dos anos 1960 e início dos anos 1970. Eles se divorciaram em 1976.

Nos anos 1980, já com mais de 40 anos, se lançou em carreira solo. Em seu primeiro álbum, vendeu mais de 20 milhões de cópias.

"A primeira coisa que ela disse quando estávamos nos sentando foi 'eu não quero fazer isto'", disse Lindsay. "E nós dissemos 'OK, o que isso significa?' Ela quis dizer que não queria mais nada com a imprensa e coisas assim, e o final do filme fala de como sair de cena lentamente."

"Para mim, a maior revelação é ela sofrer de TEPT. E isso foi tão inesperado que mudou fundamentalmente nossa abordagem do filme inteiro", disse Martin.

Tina descreveu o casamento como um "inferno dantesco" —ela diz que foi obrigada a ir a um bordel e a assistir a uma apresentação de sexo no dia em que casou com o músico em 1962 e comparou o sexo com o ex a um estupro.

"Ele usou meu nariz como saco de pancadas tantas vezes que senti o gosto de sangue escorrendo pela garganta enquanto cantava", descreveu segundo a BBC.

Os relatos geraram o filme "Tina: A Verdadeira História de Tina Turnar" (1993), obra que não foi assistida pela cantora. "Meus sentimentos por Ike eram dolorosos e não resolvidos quando o filme foi lançado".

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Morte dos filhos

Ela também falou sobre o suicídio do seu filho mais velho, Craig Turner, que morreu aos 59 anos.

"Eu acho que Craig era solitário, isso foi o que mais o afetou do que qualquer outra coisa", disse em entrevista à "CBS News". "Eu tenho muitas fotos dele sorrindo ao meu redor. Sinto que ele está em algum lugar bom. Eu realmente sei disso."

My saddest moment as a mother. On Thursday, July 19 2018, I said my final goodbye to my son, Craig Raymond Turner, when I gathered with family and friends to scatter his ashes off the coast of California. He was fifty-nine when he died so tragically, but he will always be my baby pic.twitter.com/

XzZQCdz8tl

-- TinaTurner (@LoveTinaTurner) 27 de julho de 2018

"Meu momento mais triste como mãe. Ele tinha cinquenta e nove anos quando morreu tão tragicamente, mas ele sempre será meu bebê", escreveu ela em uma foto do momento em que espalhava suas cinzas, após a cremação.

Ronald Turner, mais conhecido como Ronnie Turner, também morreu de câncer, em 2022, aos 62 anos —quatro anos depois do irmão. Tina era mãe adotiva de Ike Turner Jr e Michael Turner.

Uma mulher 80+

Ainda assim, Tina Turner celebrou ser uma mulher "ótima' quando completou 80 anos.

"Sim, tenho 80 (anos). Como eu achei que estaria aos 80 anos? Não desse jeito. Que jeito? Bem, eu pareço ótima, me sinto bem, passei por algumas doenças graves que estou superando. Então é como ter uma segunda chance na vida. Estou feliz em ser uma mulher de 80 anos", declarou a cantora.

A cantora revelou que sofreu um derrame em 2013 e que foi diagnosticada com câncer no intestino em 2016.

A situação se agravou e ela teve insuficiência renal, mas recebeu um rim de seu marido, Erwin Bach, em uma cirurgia realizada em 2017.

To celebrate turning 80 years old, Tina has recorded a special birthday video message just for her fans. #Tina80 pic.twitter.com/dUFEUawQ7r

-- TinaTurner (@LoveTinaTurner) November 26, 2019

Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 180 e denuncie.

Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.

Também é possível realizar denúncias pelo número 180 — a Central de Atendimento à Mulher, que funciona em todo o país e no exterior, 24 horas por dia. A ligação é gratuita. O serviço recebe denúncias, dá orientação de especialistas e faz encaminhamento para serviços de proteção e auxílio psicológico. O contato também pode ser feito pelo WhatsApp no número (61) 99656-5008.

A denúncia também pode ser feita pelo Disque 100, que apura violações aos direitos humanos.

Há ainda o aplicativo Direitos Humanos Brasil e a página da Ouvidoria Nacional de Diretos Humanos (ONDH) do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). Vítimas de violência doméstica podem fazer a denúncia em até seis meses.

Caso esteja se sentindo em risco, a vítima pode solicitar uma medida protetiva de urgência.