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Mexicanização? O que explica o saudosismo nas novelas da Globo

Bárbara Saryne

Colaboração para Splash, em São Paulo

30/05/2023 04h00

As novelas da Globo têm sido comparadas com tramas mexicanas com uma certa frequência. Nas redes sociais, sobretudo no Twitter, o público tem observado referências e até relembrado cenas de novelas que entraram para a história, seja pelo drama exagerado ou repetições de roteiro, como as inesquecíveis "Maria do Bairro" e "A Usurpadora".

"Terra e Paixão", atualmente na faixa das 21h, é um exemplo que tem intrigado parte do público desde a sua estreia. A protagonista quer dar a volta por cima após ter perdido o marido, a disputa de irmãos é um elemento presente, os planos gerais da direção e até o didatismo do roteiro já chamaram a atenção de críticos.

De acordo com Claudino Mayer, doutor e especialista em TV pela USP, essa "mexicanização" não vem de agora e nem se restringe ao trabalho do autor Walcyr Carrasco. O que tem rolado é um certo apego ao que já deu certo no passado, pois é notável que o público tem se afastado cada vez mais dos folhetins.

"É uma forma de fisgar esse público que de uma certa maneira se afastou da telenovela. São citações leves. Não quer dizer que vai ter em todos os capítulos. São momentos, elementos que vão fisgar e trazer esse telespectador que se afastou", analisa o especialista, que acredita que os autores da emissora têm vivido uma fase de experimentação.

Em "Travessia", antecessora de "Terra e Paixão", Gloria Perez também focou na repetição, no exagero da trama principal. Curiosamente, quando a autora desenvolveu melhor os outros núcleos, como a discussão da pedofilia nas redes sociais, a novela engatou e passou a repercutir de forma positiva. Não existe segredo, o que se nota são apostas.

"São autores com estilos diferentes, mas a gente observa de modo geral que a Globo está passando por uma fase de experimentação, voltando no passado, experimentando fórmulas consagradas", avalia Claudino Mayer.

Walcyr Carrasco, por sua vez, afirma que suas principais referências são do cinema, visto que seu pai era cinéfilo. "Assisti todos os filmes da época de ouro de Hollywood, quando nem conseguia entender. Hoje revejo. Acredito que essas emoções exacerbadas estão mais próximas desses filmes. Minhas referências são sempre literárias e cinematográficas, mas não me apoio em um só livro ou um só filme. É o conjunto de obras com que convivi na minha vida que me inspira", afirma.

Se buscar referências e apostar no que já deu certo no passado não é uma novidade na teledramaturgia, o que tem feito o público destacar esses elementos agora? Para Walcyr Carrasco, as novelas brasileiras sempre vão gerar debates, já que são produtos audiovisuais muito exportados. Claudino Mayer, no entanto, observa que o olhar do telespectador mudou.

"As pessoas querem mostrar que pegaram as referências, existe uma necessidade de provar que não foram enganadas. Mas quando o autor usa esses recursos é para isso mesmo, para as pessoas falarem, para trazer mais público", diz ele.

A força das plataformas de streaming também tem ajudado. "Antes você tinha aquela vaga lembrança de já ter visto algo parecido. Agora, de imediato, você entra no Globoplay e confere, compara. Dá aquela satisfação", opina.