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Polícia investiga influenciadoras que entregaram banana a crianças negras

De Splash, em São Paulo

31/05/2023 12h44

A Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância) instaurou um inquérito para apurar suposto racismo em vídeo das influenciadoras Kérollen e Nancy. A informação foi confirmada a Splash, hoje (31), pela assessoria de imprensa da Polícia Civil do Rio de Janeiro, estado em que foram feitas as imagens.

O que aconteceu:

Kérollen e Nancy, que são mãe e filha, compartilharam um vídeo no TikTok em que aparecem entregando um macaco de pelúcia e uma banana a crianças negras. De acordo com a polícia, as imagens serão analisadas e "diligências estão em andamento para identificar todos os envolvidos e apurar os fatos."

Polícia Civil aguarda avanço nas investigações para fornecer informações sobre os possíveis desdobramentos.

Segundo o advogado criminalista Conrado Gontijo, especialista em Direito Penal pela USP (Universidade de São Paulo), caso seja "comprovada a prática dos delitos, o Delegado elabora um relatório final, sintetizando o resultado das diligências e indiciando os responsáveis pelos crimes. O resultado desse trabalho é enviado ao Ministério Público, que deverá denunciar os criminosos racistas."

Críticos apontam racismo recreativo:

O comportamento repercutiu nas redes sociais. A advogada Fayda Belo, que reúne 1,7 milhão de seguidores no TikTok, chamou a publicação de "racismo recreativo".

"Vocês conseguem dimensionar o nível de monstruosidade que essas duas desinfluenciadoras tiveram ao dar um macaco e uma banana para duas crianças inocentes e ainda postar nas redes sociais para os seus mais de 13 milhões de seguidores, 13 milhões no TikTok, 1 milhão no Instagram, para ridicularizar duas crianças negras?", questionou a advogada, em publicação nas redes sociais.

Fayda classificou o episódio como "discriminação perversa" que tira a humanidade de pessoas negras. "Como se fosse piada, mas não é piada não. O nome disso é racismo recreativo. Usar da discriminação contra pessoas negras com o intuito de diversão, de descontração, de recreação, agora é crime."

As influenciadoras também foram criticadas nas redes sociais. "Meu Deus do céu! Esse vídeo é um grande absurdo! Eu espero que todos os envolvidos sejam punidos", comentou um seguidor. "Faz tempo que mãe e filha passam do ponto fazendo racismo recreativo. Eu já cansei de denunciar", postou outro.

Kérollen e Nancy já se envolveram em outra polêmica, em 2021. À época, a dupla causou revolta ao filmar um motorista de aplicativo sendo humilhado e ao afirmar que o veículo dele tinha "cheiro podre". Uma delas chega a dizer, inclusive, que o suposto mau cheiro vinha do cabelo do profissional.

O que dizem os citados:

Procurado por Splash, o Ministério Público do Rio de Janeiro informou que a Ouvidoria do órgão recebeu, até o momento, 690 comunicações com denúncias relativas ao caso. "A notícia foi distribuída para a 2ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada da Capital, para análise do fato e adoção das medidas cabíveis."

A advogada Fayda Belo manifestou repúdio ao caso e declarou "que protocolou Notícia Crime junto à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância e a Coordenação de Direitos Humanos do MP para que seja instaurado o devido inquérito policial e o caso seja tratado na esfera criminal pelos órgãos competentes."

A reportagem entrou em contato com as influenciadoras digitais, mas não obteve retorno até o momento. A última publicação da dupla foi um versículo bíblico: "Mas sou eu, eu mesmo, que apago os seus pecados por amor de mim, e que nunca mais se lembre deles".

Splash também questionou o TikTok sobre a política adotada em casos de racismo e aguarda retorno. Nos termos de serviço, a plataforma diz que não permite a publicação de qualquer "material racista ou discriminatório, incluindo a discriminação de pessoas por conta de sua raça, religião, idade, sexo, deficiência física ou mental ou sexualidade".

O crime de racismo está previsto na Lei n. 7.716/1989. Consiste em atingir uma coletividade indeterminada de indivíduos, discriminando toda a integralidade de uma raça. É inafiançável e imprescritível. A Lei nº 14.532, de 11 de janeiro de 2023, equiparou o crime de injúria racial, que consiste em ofender a honra de alguém valendo-se de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem, ao crime de racismo. A nova lei também prevê que crimes previstos nela "terão as penas aumentadas de 1/3 até a metade quando ocorrerem em contexto ou com intuito de descontração, diversão ou recreação".